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Vencedores da Olimpíada de Língua Portuguesa 2010 - Caldas Novas que os turistas não veem

Aluna: Bianca Souza Soares
Professora: Vandelina Lima Soares
Escola: C. E. J. A. Filostro Machado Carneiro; Cidade: Caldas Novas – GO

“Bem-vindos à maior estância hidrotermal do mundo.” Com essa frase o turista é saudado quando chega a Caldas Novas, no sul do Estado de Goiás. As belezas naturais e principalmente as águas quentes que brotam de dois aquíferos Paranoá e Araxá, a uma temperatura que varia de 37° a 57° transformaram essa pequena cidade em um dos maiores polos turísticos
do Brasil. Assim, o turismo se tornou a base do desenvolvimento e da economia local.

Foi nele que milhares de caldenses viram a oportunidade de melhorar a qualidade de vida, trabalharam para isso – e trabalharam muito! Porém, vivem hoje uma injusta realidade. Os olhos que se deslumbram com os belos parques aquáticos em centenas de outdoors pela cidade não veem bairros da periferia sem ruas asfaltadas, nem mesmo água tratada e rede de esgoto, pois a maior parte do capital gerado pelo turismo não se transforma em infraestrutura para a população, mas em novas atrações para os turistas. Por causa desse caráter contraditório, já que desenvolve a economia do município, mas não beneficia a todos, há um conflito de opiniões entre os que aprovam e os que desaprovam a atividade. Desse modo, faz-se a seguinte pergunta: “O que é mais importante, a alta na economia que se dá pelo empreendimento turístico ou a organização social?”.

As opiniões favoráveis ao turismo são em geral dos grandes empresários, donos de hotéis e resorts, além dos comerciantes, ou seja, os que recebem diretamente o lucro deixado pelos visitantes do mundo inteiro. Alegam que o turismo faz a cidade crescer e ainda gera empregos. Isso é mesmo inegável, porém a mão de obra por ser abundante é desvalorizada e a carga horária muitas vezes extrapola a normalidade. “As águas quentes são para Caldas Novas o que as praias são para o litoral: essencial!”, diz Ricardo Pureza, gerente de marketing e vendas dos Jardins da Lagoa, ligado a um dos clubes mais tradicionais da cidade. Todavia, acredito que mais importantes que as águas termais da cidade são as pessoas que nela vivem e fazem sua economia girar.

Assim como eu, parte da população se mostra contrária, uma vez que a satisfação do turista é colocada em primeiro plano, esquecendo-se dos residentes locais, que em época de alta temporada são submetidos a dias sem água encanada já que ela é direcionada a hotéis e clubes, que segundo o portal Caldas web, recebem anualmente cerca de 1,5 milhão de pessoas. É bem verdade que o turismo movimenta economicamente a cidade, o problema está nas inúmeras consequências maléficas que o mesmo gera, como por exemplo, o espantoso crescimento demográfico. Em 1991 havia 24.000 habitantes, hoje esse número aumentou para aproximadamente 70.000, o que resultou num agravante de proporção nacional o crescimento desordenado. Notam-se loteamentos irregulares, casas e hotéis em áreas de preservação ambiental e próximos ao aterro sanitário.

É perceptível que os empresários e as autoridades locais se preocupam apenas com os investimentos lucrativos que o turismo pode propiciar e menosprezam necessidades básicas da população, como o saneamento básico (apenas 25% do esgoto é coletado), a saúde e a educação.

E se política é a arte de governar nossos “artistas” estão um tanto quanto omissos a respeito de suas obras, porque está claro que assim como cresce o número de visitantes que a cidade recebe, também os problemas administrativos têm aumentado assustadoramente por conta da atividade turística, com uma analogia simplória explica-se a necessidadedos caldaenses: “Não dá para receber visitas com a casa desarrumada e o dono insatisfeito”.Não sou contra o turismo, mas sim como ele é desenvolvido particularmente em Caldas Novas, beneficiando as pessoas de fora em detrimento dos moradores locais; além disso é perigoso para a cidade ser tão dependente de apenas um segmento econômico, pois se, por algum motivo (assim como o surto de dengue de 2008), os turistas optarem por outro destino todos serão fortemente atingidos. Assim a diversificação econômica é necessária.

Portanto, o capital proporcionado pelo turismo é importante, entretanto tenho plena convicção de que as necessidades básicas, os valores éticos e a dignidade da comunidade são mais importantes, como também uma administração consciente e preparada para usar os mecanismos de que necessitamos para desfrutarmos das tão apreciadas águas quentes com responsabilidade e justiça. “Logo, o dono da casa estará feliz em receber visitas e as esperará mais vezes”.

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