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Sociologia

Teoria da Estruturação - a interação social - Reflexividade e rotina

Renato Cancian, Especial para a Página 3 Pedagogia & Comunicação

Anthony Giddens denomina a capacidade de cognição dos atores sociais de reflexividade. Giddens concebe os indivíduos como atores sociais, agentes humanos, sujeitos capazes de cognição e que possuem um considerável conhecimento das condições e das consequências do que fazem em suas vidas cotidianas.

Trata-se de um ponto de partida hermenêutico no pensamento de Giddens, porque o autor crê que, para compreendermos as atividades humanas no âmbito de determinada sociedade, devemos proceder ao exame do conhecimento que os próprios atores sociais têm de suas condutas.

Na opinião de Giddens, existem dois níveis de análise para compreender a conduta reflexiva: em primeiro plano, a reflexividade está contida na consciência discursiva dos atores sociais; e, num segundo plano, a reflexividade está contida na consciência prática dos atores sociais.

Ação discursiva

A reflexividade constitutiva da consciência discursiva refere-se à capacidade dos atores sociais de apresentarem as razões do que fazem, como fazem e por que fazem em suas vidas cotidianas. Além disso, a reflexividade discursiva se refere à aptidão que os agentes humanos têm de dizer algo acerca não só das condições de suas ações, mas também da ação dos outros atores presentes em contextos de interação.

Essa capacidade é um desdobramento da reflexividade discursiva, que comporta uma avaliação ou monitoramento, por parte dos agentes humanos, das circunstâncias e contextos de interação social.

Em segundo plano, a reflexividade constitutiva da consciência prática refere-se a todas as ações empreendidas pelos agentes humanos que têm por finalidade e objetivo manter-se ou continuar na vida social, sem, entretanto, serem capazes de expressar discursivamente as razões de suas condutas.

Rotina e estabilidade social

Existe um outro atributo para a explicação das ações dos agentes humanos nos locais e contextos de interação que estruturam o fluxo da conduta da vida cotidiana: é a rotina.

Embora reconheça que os atores sociais são sujeitos capazes de cognição que monitoram continuamente os contextos de interação social nos quais estão envolvidos, Giddens considera que uma parcela considerável do comportamento dos agentes humanos e das práticas sociais não é motivada. Ou seja, a rotina é um elemento que se presta à estabilização das relações sociais.

Segundo Giddens, a rotina constitui a expressão primordial da dualidade da estrutura em relação à continuidade da vida social. A rotina se refere a tudo que é feito habitualmente. A vida social adquire caráter rotinizado à medida que se estende no tempo e no espaço. A rotina pode ser concebida como a repetitividade das atividades empreendidas de maneira idêntica no fluxo da vida cotidiana.

A rotina é de vital importância para os mecanismos psicológicos por meio dos quais um senso de confiança e de segurança ontológica é sustentado nas atividades contidas primordialmente na consciência prática.

Nos dizeres do próprio autor, "a rotina introduz uma linha entre o conteúdo potencialmente explosivo do inconsciente e a monitoração reflexiva da ação, assim, a rotina restringe a fonte de tensão inconsciente que sem ela seria baseada na vigilância constante".

São nos locais de encontro que os atores sociais manifestam-se por meio de atos comunicativos ou expressando a conduta característica do comportamento rotinizado. Os agentes humanos monitoram os contextos e locais de interação, mantendo, assim, as práticas e atividades sociais estabilizadas, ao mesmo tempo em que contribuem para reprodução dessas mesmas atividades.

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