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Na final do torneio de robótica, nerds fazem festa com batucada e chapéus coloridos em SP

Karina Yamamoto

Do UOL, em São Paulo

05/03/2012 06h00Atualizada em 05/03/2012 11h49

A som alto e animado davam indícios de que o Carnaval ainda não havia terminado para aquela turma de cerca de 500 nerds -- "nerds, sim!" respondiam em coro à pergunta se eles se definiam assim -- que se reuniram neste domingo (4) ensolarado para a final nacional de um torneio de robótica.

A cena contrastava um pouco com o que se podia esperar de um evento de tecnologia e inovação -- pelo menos para desavisados, como eu. Nos corredores do tradicional colégio paulistano Dante Alighieri, estudantes de todo o país circulavam com chapéus coloridos e uniformes de equipe. Uma turma cantava e dançava perto de alguns estandes.

Na arena de exibição dos robôs, localizada numa quadra, o som era tão alto que não se conversava sem gritar. E todo mundo gritava. No palco, após a pausa para o almoço, acontecia uma série de apresentações culturais dos grupos, como a peça da equipe do Sesi de Araçatuba -- uma menina fica doente e os germes tomam conta do palco (três garotos com chapéus de "bactérias") ao som de Thriller, de Michael Jackson.

Depois, disputa para ver quem resolvia o cubo mágico em menos tempo. O vencedor deve ter demorado "menos de um minuto, com certeza" nas palavras do mestre de cerimônia.

Papo de gente grande

Ao conversar com as equipes sobre seus chapéus coloridos, todos diziam que era para se divertir, ou para identificar o grupo ou, ainda, para prestar uma espécie de homenagem, caso da Tecnobody, uma equipe de São Paulo. 

A animação adolescente, quase ingênua, desaparecia no momento em que os garotos e garotas -- com idades entre 9 e 15 anos -- começavam a explicar os projetos que os trouxeram para a final do campeonato.

O tema desta edição foi "segurança alimentar" e as equipes foram desafiadas a criar algum produto ou propor alguma estratégia que pudesse ajudar resolver esse problema. Não faltaram propostas, de fitas para detectar bactérias na geladeira a caixas com iluminação especial que conserva alimentos. 

Lorena Mourenzato Guarda, 12, a menina de cartola rosa com corações vermelhos, mudou até o tom de voz ao contar que a equipe dela, a Tecnobody, "criou um eletrodoméstico que higieniza legumes". Ela e as colegas Giovanna Folha Carlomagno e Givanna Soler Affonso contaram que a equipe era formada por seis integrantes, além de um técnico e um mentor.

Da mesma maneira, a dupla Alessandra Carolina Dominiciano e Amanda Cássia Mendes Mota, ambas com chapéu de pinguim Linux ficaram mais sérias e fizeram questão de explicar com detalhes a criação de  um sachê "com permanganato de potássio e silicato de alumínio que aumenta o tempo de prateleira das frutas".

"O silicato absorve a umidade e há muitas bactérias que precisam de umidade", explicou Amanda, estudante da Escola Estadual Dr. Luiz Pinto de Almeida, de Santa Rita do Sapucaí, interior de Minas Gerais. Já o permanganato, explicou Alessandra, é para matar os germes. A W-Tec tem nove integrantes, além do apoio de mais cinco integrantes entre técnicos, tutor e mentor.

Um grupo de São Caetano do Sul, o pessoal do  AC/DC/E, também queria não apenas explicar como mostrar com detalhes o projeto deles, uma caixa iluminada com uma lâmpada ultravioleta "que elimina as bactérias dos alimentos, aumentando a durabilidade deles em até sete vezes". Eis a composição do grupo, que teve paciência em explicar os detalhes sem que um atropelasse a fala do outro: Gustavo MIyahira Luz, Matheus Azevedo Silva Pessôa, Thais Ferreira Miguel, Gilmar Correia Jeronimo, Ivan Correia Lima Coqueiro, Nicholas Jun Kamada de Toledo e Gabriel Pereira Borba Mendonça.

Amadurecimento e dedicação

A diretora do Sesi Araçatuba, Salete Botichio, confirma a impressão: os alunos que participam desse tipo de projeto aprendem a se socializar. "Eles aprendem a se expressar melhor", conta a educadora, ela mesma usando um chapéu amarelo com uma placa de código de barras. "A robótica mexe com o que o aluno gosta: computador", explica.

Com sorriso largo, a professora pernambucana Luciene Silva contou que os alunos são outros, após a experiência. Neste mês em que tiveram que se aplicar, eles adquiriram "mais responsabilidade, uma postura madura". Ela olha, então, para um dos alunos e diz: "principalmente este". 

Luciene se referia a Kaio Luna, que era conhecido por aprontar durante as aulas. Quando pergunto por que gosta das aulas de robótica, ele responde: "gosto da galera, de conviver com eles". Então peço para ele me dizer se, agora, é um menino responsável. Ele apenas sorri. E balança a cabeça com uma negativa. 

A intenção do campeonato, segundo o coordenador Vinícius Milani, é avaliar e valorizar mais que a técnica ou a pesquisa dos grupos. "Os times têm que mostrar alguns valores, como o espírito de equipe, enraizados", afirmou o estudante de engenharia de controle e automação que já fez parte de equipes em outros torneios como este e já foi técnico de equipe de sua antiga escola.