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Salário dos professores não resolve problema de qualidade da educação, dizem especialistas

Suellen Smosinski

Do UOL, em São Paulo

14/03/2012 06h00

A CNTE (Confederação Nacional dos Trabalhadores em Educação) organizou uma paralisação nacional entre hoje (14) e sexta-feira (16) para exigir o cumprimento da Lei do Piso. O novo valor anunciado pelo MEC (Ministério da Educação) é de R$ 1.451. O protesto também defende um maior investimento público em Educação. Segundo especialistas ouvidos pelo UOL, o aumento do salário dos docentes é apenas um dos fatores que influenciam na melhora da educação e deve vir acompanhado de outras práticas para a valorização do ensino.

“O professor tem que receber mais, mas só isso não basta. Seria importante que junto com o incentivo econômico acontecessem outras iniciativas. Tem que ter piso, mas tem que ter pedagogia”, afirmou Francisco Soares, professor da UFMG (Universidade Federal de Minas Gerais) e coordenador do Grupo de Avaliação e Medidas Educacionais na mesma instituição.

Segundo ele, estudos mostram que a relação entre gastos com educação e aprendizado do aluno é pequena, como “qualquer outro fator isolado”. “Temos que pagar mais para os professores não porque vai gerar por si só melhor desempenho, mas é um dos elementos”, disse Soares.

O professor José Marcelino de Rezende, da USP (Universidade de São Paulo) de Ribeirão Preto, também aponta o salário dos professores como uma das variáveis que contribuem para a qualidade da educação e que, por isso, deve ser mais valorizado: “Eu acho que a gente deve dobrar em média o salário do professor no Brasil, para tornar a profissão mais atrativa. Se eu quero atrair bons profissionais, tenho que gastar mais com salários”. O docente contou que muitos de seus  alunos da USP acabam indo para outras profissões depois de formados, pois conseguem salários melhores em outras atividades, como em bancos, por exemplo.

Quem paga o piso?

Segundo um levantamento feito com as secretarias de educação dos Estados, nove deles ainda não pagam o piso nacional dos docentes. pelas contas dos sindicatos, são 17 Estados que não cumprem a Lei .

Os professores do Distrito Federal, que são os mais bem pagos do país (R$ 2.314), entraram em greve na última segunda-feira (12). Uma das razões da paralisação é o não cumprimento da equiparação salarial com outras carreiras de nível superior do GDF (Governo do Distrito Federal). O acordo para a isonomia foi feito em abril de 2011, entre o Sinpro (Sindicato dos Professores do Distrito Federal) e o governo.

No Piauí, em Goiás e em Rondônia os professores também estão em greve.

Ideb x Piso

Os professores da rede estadual do Rio Grande do Sul são os que recebem o menor salário do país: R$ 791 para uma carga horária de 40 horas semanais – o novo valor do piso é R$ 1.451. Já a avaliação do Estado no Ideb (Índice de Desenvolvimento da Educação Básica) é uma das dez melhores do Brasil. Em contrapartida, o Amazonas paga um valor acima do piso para seus docentes (R$ 1.905) e não apresenta bons índices na avaliação.

Marcelino afirma que dados como o Ideb devem ser usados com cuidado para avaliar a qualidade da educação nos Estados e Municípios. “No Brasil, o desempenho dos alunos está muito ligado com a condição socioeconômica das famílias. O capital cultural e a escolaridade dos pais interfere diretamente nas notas”, disse.

O Ideb é a "nota" do ensino básico no país. Numa escala que vai de 0 a 10, o MEC (Ministério da Educação) fixou a média 6, como objetivo para o país a ser alcançado até 2021.

O indicador é calculado a partir dos dados sobre aprovação escolar, obtidos no Censo Escolar (ou seja, com informações enviadas pelas escolas e redes), e médias de desempenho nas avaliações do Inep (Instituto Nacional de Estudos e Pesquisas Educacionais Anísio Teixeira), o Saeb - para os Estados e o Distrito Federal, e a Prova Brasil - para os municípios.

Criado em 2007, o Ideb serve tanto como dignóstico da qualidade do ensino brasileiro, como baliza para as políticas de distribuição de recursos (financeiros, tecnológicos e pedagógicos) do MEC. Se uma rede municipal, por exemplo, obtiver uma nota muito ruim, ela terá prioridade de recursos.

Veja a comparação Ideb x salário

EstadoPiso para 40 horas/semanaIdeb 5º ano EFIdeb 9º ano EFIdeb 3º ano EM
RSR$ 791,004,94,13,9
APR$ 1.085,003,83,63,1
SCR$ 1.187,005,24,54,1
ROR$ 1.187,004,33,53,7
ACR$ 1.187,004,34,13,5
SER$ 1.187,003,83,23,2
RNR$ 1.187,003,93,33,1
ALR$ 1.187,003,72,93,1
PIR$ 1.187,004,03,83,0
PER$ 1.188,004,13,43,3
BAR$ 1.188,003,83,13,3
PRR$ 1.224,005,44,34,2
PAR$ 1.244,003,63,43,1
CER$ 1.270,004,43,93,6
TOR$ 1.330,004,53,93,4
MAR$ 1.357,003,93,63,2
PBR$ 1.384,003,93,23,4
GOR$ 1.460,004,94,03,4
MSR$ 1.490,004,64,13,8
RJR$ 1.732,004,73,83,3
MTR$ 1.749,004,94,33,2
MGR$ 1.870,005,64,33,9
SPR$ 1.894,005,54,53,9
AMR$ 1.905,003,93,53,3
RRR$ 2.142,004,33,73,4
DFR$ 2.315,005,64,43,8
ESNÃO INFORMOU5,14,13,8

Fonte: levantamento feito pela Folha de S.Paulo em 5.mar