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Em greve, professores da rede estadual da Bahia fazem feira improvisada como forma de protesto

Heliana Frazão

Do UOL, em Salvador

03/05/2012 11h41

Com os salários cortados devido à permanência da greve iniciada há 22 dias, os professores da rede estadual de ensino da Bahia decidiram realizar um protesto diferente na manhã desta quinta-feira (3): montaram uma espécie de feira livre, em uma praça central de Salvador para comercializar frutas e verduras. O comércio foi denominado de “Feira da Sobrevivência”. O dinheiro arrecadado com as vendas será utilizado, segundo a representante da categoria Marilene Betros, na aquisição de suprimentos e pagamento de contas emergenciais dos docentes.

A decisão de montar banquinhas, cerca de 12, na Praça da Piedade, uma das mais movimentadas e tradicionais de Salvador, partiu de uma assembléia dos professores realizada ontem (2). “Já que o governo decidiu cortar o salário dos professores nós tínhamos que encontrar uma forma para que eles possam continuar sobrevivendo até que o governo decida reabrir as negociações, porque, até lá, a nossa disposição é manter o movimento”, disse Betros.

Uma professora, que preferiu não se identificar, contou que está sem meios para pagar as contas de água e luz. “Espero que o dinheiro que nós adquirirmos aqui dê para honrar esses compromissos. Além disso, tenho filhos que precisam ser alimentados”, disse. A população parecia corresponder às expectativas da classe, comprando.

A suspensão dos pagamentos deve-se, segundo a Secretaria de Educação do Estado, ao fato de a greve ter sido considerada ilegal pela justiça, tanto por um juiz de primeira instância, quanto pelo Pleno do Tribunal de Justiça da Bahia, que determinou a retomada imediata das atividades. O descumprimento da determinação judicial implica em multa diária de R$ 50 mil.

A secretaria informa ainda que está sendo cortado o ponto apenas nas escolas totalmente paralisadas. O governo garante que de um total de 1.476 unidades no Estado, 500 funcionam normalmente.

Entretanto, os professores dizem que só voltam às salas de aula mediante o cumprimento de um acordo, que a APLB Sindicato, associação que congrega os professores baianos, diz ter firmado com o Estado, de pagamento de 22% de reajuste.

O governo deu 6,5%, o mesmo percentual concedido, este ano, a todos os servidores públicos estaduais, e, conforme a Secretaria de Educação, está cumprindo o acordado na lei federal 12.364, de 2011, que prevê reajustes acima da inflação até 2014.

A APLB reclama também que o corte nos salários foi feito sem critérios, “de forma aleatória e truculenta”, alcançando, inclusive, aposentados e professores que estão licenciados. A secretaria admitiu que houve erro em alguns casos mas, garante que haverá ressarcimento em folha complementar a partir da próxima semana, quando também deve acontecer uma nova reunião dos grevistas para tratar da continuidade ou não do movimento.

Até lá eles continuam acampados na sede da Assembleia Legislativa, no Centro Administrativo, onde estão desde o início da paralisação. Os professores dizem que estão contando também com o apoio de outras entidades de classe para permanecerem no local. Segundo Marilene Betros, isso inclui doações financeiras.

Perguntada se o corte do ponto dos professores não poderia desestimular os docentes, e determinar o fim da greve, Marilene afirma que o efeito da medida tem sido o contrário. “Temos tido demonstrações de que o corte só serviu para contrariar inclusive os poucos docentes que ainda estão em sala de aula. Greve é um direito do trabalhador”, afirmou. Marilene Betros estima que 70% dos 40 mil professores estaduais estejam com os braços cruzados no Estado.

Enquanto isso, o governo tem veiculado mensagem através do rádio e da televisão conclamado os professores a voltarem ao trabalho, alertando para os prejuízos provocados ao alunado, que necessitará de reposição dos dias parados, afirmando que o diálogo está aberto.

Nesta manhã está prevista também uma passeata de alunos em apoio aos professores. Eles pretendem fechar a Avenida Paralela, que á acesso ao Centro Adminsitrativo, onde funciona o governo da Bahia. Os professores tem feito ainda panfletagens em bairros da capital, com o auxílio de carros de som.