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Além da pobreza, formação dos professores é o grande desafio da educação no interior da Bahia

Suellen Smosinski

Do UOL, em Seabra (BA)

21/12/2012 08h11Atualizada em 21/12/2012 17h51

O evento estava animado, em clima de festa. No mesmo auditório, secretários ou futuros dirigentes municipais de educação, prefeitos e vice-prefeitos eleitos ou em fim de mandato, além de professores e pais discutiam os planos para as redes municipais de cerca de 20 cidades da Chapada Diamantina e do semiárido baiano. O 2º Seminário de Transição Suprapartidária, realizado pelo Icep (Instituto Chapada de Educação e Pesquisa), aconteceu nos dias 6 e 7 de dezembro, na cidade baiana de Seabra (a 468 km de Salvador).  

Naquele território, as coligações ou os partidos políticos ficaram da porta para fora e o pacto pela continuidade dos projetos de formação de professores e alfabetização dos alunos firmados pelas gestões atuais tem totais condições de ser cumprido. Entre os secretários que terminam seus mandatos em 31 de dezembro, a reclamação é corrente: falta qualidade na formação dos professores.

Segundo Márcio Vila Flor, 30, secretário de Educação de Aramari (a 118 km de Salvador), cerca de 40% dos professores da rede de ensino de Aramari ainda não tem ensino superior: “Atuando nos anos finais do ensino fundamental eu não tenho nenhum professor sem ensino superior, mas nos anos iniciais ainda tenho alguns [docentes] que estão cursando a faculdade e outros estão fora mesmo”, afirma o gestor da cidade do semiárido baiano.

Esse percentual de 40% é uma estatística média também para outros municípios da região. Comparado com a média nacional, o índice é, de fato, preocupante. Segundo dados do Inep (Instituto Nacional de Estudos e Pesquisas Educacionais Anísio Teixeira) de 2011 -- os mais recentes disponíveis --, 26% dos docentes nas salas de aula não têm curso superior. No Estado da Bahia, o percentual é mais alto: em torno de 55% dos professores carecem de uma graduação.

Sem preparo

Mesmo gestores com uma situação mais confortável, como Reinaldo Vieira, 33, secretário de Educação de Ibitiara (a 404 km de Salvador), acham que a formação inicial dada nas faculdades de pedagogia é insuficiente. O pequeno município, com cerca de 15 mil habitantes e localizado no sertão baiano, tem cerca de 96% de professores graduados e mais de 50% já fazem especialização, segundo Vieira.

“A formação acadêmica não discute a prática pedagógica. Os cursos não ensinam as peculiaridades da sala de aula. Temos professores que estão terminando a pedagogia e têm conhecimentos didáticos melhor do que quem está indo para o mestrado, porque estão na sala de aula”, disse Vieira.

Para a presidente da Undime (União Nacional dos Dirigentes Municipais de Educação), Cleuza Repulho, é preciso preparar os professores da rede pública para o que eles vão encontrar na prática da profissão. "Como é que ele [professor] resolve todas as questões que envolvem dificuldade de aprendizagem, o contexto onde essas escolas estão. O professor deveria vivenciar mais essa realidade antes de terminar a formação", afirmou Cleuza, que também é secretária de Educação de São Bernardo do Campo, no ABC Paulista.

Já a diretora executiva do Icep (Instituto Chapada de Educação e Pesquisa), Cybele Amado, é mais radical: para ela, os cursos de pedagogia não deveriam mais existir. Liderança importante na região há quase 20 anos, Cybele apoia sua opinião não apenas na prática, mas também em pesquisas realizadas sobre a formação do professor nas faculdades de pedagogia.

"Os cursos de pedagogia não dão conta da formação dos professores. Basicamente, não têm no currículo disciplinas que ajudem o professor a saber o que e como ensinar. Isso significa que nós formamos pedagogos, mas não formamos professores", afirmou Cybele, que ganhou recentemente o prêmio Empreendedor Social, realizado desde 2005 pela Folha de S.Paulo em parceria com a Fundação Schwab. Segundo ela, seria mais interessante ter "institutos superiores de formação de professores, com um currículo que forme professores para ensinar".

Pobreza e infraestrutura

Os secretários de Educação também apontaram a pobreza e a falta de estrutura de muitas escolas como problemas enfrentados no interior da Bahia. “Temos a questão da falta de recursos. São municípios pequenos e muitas vezes a gente tem que adequar os nossos desejos com a realidade financeira”, afirmou Vieira.

Para Ileni de Araújo Caraúba, 39, secretária de Educação de Piatã (a 572 km de Salvador), a falta de estrutura das escolas acaba dificultando a implantação de alguns programas do MEC (Ministério da Educação), como o Proinfo (Programa Nacional de Tecnologia Educacional), por exemplo.

“Na zona rural, a maioria das escolas não tem segurança, são unidades isoladas. Eu vejo os programas como aliados, mas tem que estudar e ver que às vezes não vai ser possível [aderir a um programa]. Alguns cursos, o MEC dá o material, mas o município não tem a infraestrutura que envolve transporte, deslocamento, substituição de professor. É preciso que o gestor analise dentro da sua realidade”, disse a secretária de Piatã.

Vila Flor também destaca a pobreza dos municípios como um “grande problema” na região: “A maioria dos municípios sobrevivem basicamente dos repasses do governo federal. E a gente tem problemas ainda com água, energia elétrica e escolas com pouca estrutura física”.