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Apoio financeiro dos pais pode prejudicar notas de universitários, diz pesquisa

Pesquisadora acompanhou alunos em repúblicas estudantis e viu que investimento dos pais nem sempre se reflete na nota dos filhos - Yana Paskova/The New York Times
Pesquisadora acompanhou alunos em repúblicas estudantis e viu que investimento dos pais nem sempre se reflete na nota dos filhos Imagem: Yana Paskova/The New York Times

Tamar Lewin

Do New York Times

19/01/2013 06h00

Pais que estão economizando dinheiro para pagar pela faculdade de seus filhos tomem cuidado: uma nova pesquisa nos Estados Unidos descobriu que, quanto mais dinheiro os pais oferecem para cobrir os custos da graduação de seus filhos – seja em termos absolutos ou como uma percentagem dos custos totais –, menores são as notas dos universitários.

Estudantes de famílias ricas têm uma maior probabilidade de entrar para a faculdade do que os de famílias pobres – e aqueles cujos pais custeiam seus cursos universitários têm uma probabilidade maior de se formar. Mas, de acordo com o estudo “More Is More or More Is Less? Parent Financial Investments During College” (“Mais é Mais ou Mais é Menos? Investimentos Financeiros dos Pais Durante a Faculdade dos Filhos”, em tradução livre), de Laura Hamilton, professora de sociologia da Universidade da Califórnia, contribuições mais vultosas por parte dos pais estão relacionadas a notas mais baixas em todos os tipos de instituições que oferecem cursos de quatro anos.

“É um efeito modesto (em relação às notas), não grande o suficiente para fazer com que o aluno seja reprovado e deixe a faculdade”, ponderou a pesquisadora, cujo estudo foi publicado na revista American Sociological Review deste mês. “Mas foi uma surpresa, pois todo mundo sempre pensou que, quanto mais (dinheiro) você dá, melhor seu filho se sairá”.

O impacto negativo sobre as notas foi menor nas instituições de elite do que em outras faculdades particulares caras ou que ficam em um Estado diferente do Estado de residência dos alunos. O fato de os alunos cujos pais pagaram por sua formação terem registrado taxas de graduação mais altas não é surpreendente, disse ela, uma vez que muitos alunos abandonam a faculdade por motivos financeiros.

Cheque em branco

Laura sugere que os alunos que recebem um cheque em branco de seus pais podem não levar sua educação tão a sério quanto os outros. Ela ficou intrigada com essa possibilidade anos atrás, depois de passar um ano vivendo em um alojamento de faculdade e observar os alunos para, em seguida, acompanhá-los durante a graduação e, por fim, entrevistar seus pais.

“Curiosamente, muitos dos pais que contribuíram com mais dinheiro (para a formação universitária de seus filhos) não obtiveram os melhores retornos para seus investimentos”, disse ela. “Os filhos desses pais se mostraram mais propensos a permanecer na faculdade e se formar, mas suas médias eram, na melhor das hipóteses, medíocres – e, alguns desses alunos, eu nunca vi estudando uma única vez. Eu me perguntava se esse comportamento poderia ser detectado nacionalmente, o que me levou a realizar esse estudo quantitativo, que descobriu que o comportamento é, sim, válido para todo o país”.

Para esse novo estudo, Laura usou três conjuntos de dados federais – os levantamentos Baccalaureate and Beyond, Beginning Postsecondary Students Study e National Postsecondary Student Aid Study – e comparou as contribuições financeiras dos pais e as notas dos alunos. Ela também controlou o status socioeconômico dos pais.

“Algumas famílias abastadas pensavam que seus filhos eram mimados e não pagaram todos os custos da universidade deles. Já algumas outras famílias economizaram, cortaram gastos, pediram dinheiro emprestado a membros da família e contrataram empréstimos”, disse ela. “As famílias ricas não são as mais prejudicadas pelas notas mais baixas, pois elas têm as conexões certas para poder contatar o chefe da rede de TV NBC ou da NFL – a liga de futebol americano - e conseguir um emprego para seus filhos. As notas baixas são um problema maior para os pais de classe média, que trabalharam duro para pagar os custos da faculdade, usaram seus fundos de aposentadoria e que, no momento da graduação, já não tinham mais dinheiro”.

A pesquisadora descobriu que os alunos com as notas mais baixas são aqueles cujos pais pagaram os custos da graduação sem discutir a responsabilidade que os próprios alunos teriam em relação a sua educação. Segundo ela, os pais poderiam minimizar os efeitos negativos obtidos caso definissem expectativas claras sobre as notas e sobre o progresso do aluno até o momento da graduação.
“Em última análise, não é ruim financiar seus filhos”, disse ela. “Meus filhos são pequenos, mas eu pretendo pagar para que eles estudem – depois de conversarmos sobre o quanto isso custa e sobre quais notas eu espero que eles tirem”.