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Internautas acusam cadernos de machismo e de promoção de violência contra a mulher

Capa de caderno Jandaia é considerada machista por internautas e professores - Reprodução
Capa de caderno Jandaia é considerada machista por internautas e professores Imagem: Reprodução

Thea Tavares

Do UOL, em Curitiba

26/02/2013 12h28Atualizada em 27/02/2013 12h17

Bastou a comunidade de ativistas das redes sociais “Nós Denunciamos”, com mais de oito mil seguidores, publicar no início da tarde de segunda-feira (25) um protesto contra os motivos das capas de cadernos universitários Jandaia da linha “Placas”, acusados de serem sexistas, machistas e de fazerem apologia à violência contra a mulher, para uma polêmica se instaurar.

Em um desses motivos, vê-se uma placa de sinalização que adverte para o perigo de animais na pista e exibe a figura de uma mulher entre dois carros.

Em outro, a ilustração simula uma equação matemática na qual um homem somado a uma mulher alcoolizada, resultaria em amor (ou sexo), o que é simbolizado por corações. A imagem foi interpretada como sendo uma espécie de passe livre para o crime de estupro.

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As capas, coloridas e “criativas”, visam conquistar um público consumidor bastante jovem e é aí que mora o perigo, dizem professores e lideranças da categoria dos profissionais da educação.

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  • http://educacao.uol.com.br/enquetes/2013/02/26/voce-considera-machistas-as-ilustracoes-dos-cadernos-e-adesivos.js

Menos de três horas após a denúncia envolvendo o tema das capas e adesivos dos cadernos Jandaia, o perfil da marca no Facebook publicou uma espécie de explicação e de pedido de desculpas pelo que julgou ser uma interpretação equivocada das piadas e tiradas “divertidas” produzidas pela equipe de criação das peças.

O perfil informa que a mulher entre dois carros e com os braços levantados seria símbolo da prática criminosa dos rachas, como na cena do filme “Juventude Transviada”, e que, portanto, os animais na pista seriam os praticantes do racha, que estariam na condução dos veículos.

Material escolar?

A secretária-geral da CNTE (Confederação Nacional dos Trabalhadores em Educação), Marta Vanelli, ficou escandalizada quando recebeu a informação durante um encontro nacional da categoria. “As capas são de extremo mau gosto e transmitem uma imagem muito pejorativa das mulheres”, disse Vanelli.

“Não consigo imaginar como uma empresa do porte dessa, com o alcance que tem, possa fazer capas que reproduzam conceitos e valores tão discriminatórios”, acrescentou.

A secretária-geral da CNTE ainda se disse indignada com temas e piadas que, segundo ela, desestimulam os estudantes e reforçam estereótipos, como o da ”material girl”. É o caso dos desenhos que remetem à ideia de que vida boa é fora da escola ou que objeto de anti-estresse feminino seja sinônimo de cartão de crédito.

“É lamentável que a empresa opte por esse tipo de estímulo, em vez de incentivar os jovens a estudarem, a aprenderem e a irem para escola adquirir conhecimentos”, criticou. “Será que valores positivos não vendem? Esse, sim, seria um desafio aos criadores do produto”, concluiu Marta Vanelli, professora de Biologia no estado de Santa Catarina.

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Não dá nada?

Em Curitiba, a professora paranaense Elizamara Goulart de Araújo, secretária de Gênero, Relações Étnico-raciais e dos Direitos LGBT da APP-Sindicato, entidade classista de base estadual, também se manifestou contrária aos temas das capas de caderno Jandaia.

Preconceito

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“Materiais como esses vêm na contramão dos avanços em educação, pois reproduzem conceitos que reforçam atitudes prejudiciais para as mulheres e para a vida em sociedade”, disse Elizamara. Ela lembra que somente nos últimos anos é que as escolas passaram a incorporar na grade curricular, por exemplo, reflexões e lições de combate à homofobia, ao preconceito e antissexistas.

“As universidades públicas estão cada vez mais intensificando as pesquisas acadêmicas sobre relações de gênero, aprimorando currículos e incorporando debates antissexistas ou de combate ao preconceito e à intolerância”, afirmou. “Quanto mais se banalizam essas situações e se relega tudo ao plano do humor e da diversão, mais fiel se torna o retrato de degradação nas relações sociais e humanas”, sentenciou a diretora da APP-Sindicato.

Na postagem do Facebook, apesar das explicações, o perfil dos cadernos Jandaia resolveu ceder e admitiu: “De qualquer modo, entendemos que essa interpretação é possível, pois acabou gerando indignação por parte de muita gente. Devido a isso, pedimos sinceras desculpas a quem se sentiu ofendido, e nos comprometeremos a cancelar todas as vendas deste produto”.

Procurada pela reportagem do UOL desde ontem, a empresa não respondeu aos contatos. 

A prova dos nove dessa queda de braço em ambiente 2.0 só será conhecida de fato ao final do balanço de contabilização das vendas dos cadernos com o advento da polêmica em torno de suas capas. Os cadernos da linha “Placas”, bem como os demais produtos Jandaia, são comercializados em papelarias, hipermercados e supermercados, em lojas de departamento de todo o País e em lojas de presentes.

No website da marca a linha polêmica de cadernos e adesivos continua no ar e pode ser acessada aqui.  
 

  • Folha de Adesivos dos cadernos da linha placas da Jandaia