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Isadora Faber lança ONG para 'vigiar todas as escolas do Brasil'

Renan Antunes de Oliveira/UOL
Imagem: Renan Antunes de Oliveira/UOL

Renan Antunes de Oliveira

Do UOL, em Florianópolis

30/08/2013 20h38

A estudante catarinense Isadora Faber, autora do polêmico "Diário de Classe" (627 mil acessos na internet), anunciou nesta sexta (30) em Florianópolis o lançamento de uma ONG com seu nome para "vigiar não só minha escola, mas todas as escolas do Brasil".

Ela vai deixar de ser apenas a vigilante virtual e pretende ir às escolas que a chamarem para avaliar o local e lutar por melhorias: "Está na hora de levar a luta pela educação mais longe", disse, em entrevista ao UOL, em sua casa na praia do Santinho.

As propostas e o objetivo da ONG estão no site www.ongisadorafaber.org.br. O lançamento dela vem num momento em que Isadora acaba de completar 14 anos.

"Minha vida está mais calma, sem aquelas confusões do ano passado e do primeiro semestre" - incidentes com professores e colegas que lhe renderam processos e 11 intimações da polícia.  "Aquilo acabou", diz, confiante, enquanto dedilha em seu tablet - ela abandonou laptops e só usa um iPad, presente de um empresário da web.

Ela ri quando diz que os professores que a criticaram pelas denúncias que fez no Diário de Classe foram "discretamente afastados" da sua escola. Quanto ao ginásio de esporte que foi motivo de mais confusão porque ela reclamou que faltava pintura, Isadora ataca outra vez: "Pintaram, mas a pintura já descascou, está na hora de pintar de novo".

Isadora está escrevendo um livro, contratada pela Editora Gutenberg. Vai contar a história do Diário. Ela está no oitavo de 10 capítulos. O material é mantido em sigilo. A irmã Ingrid, de 25 anos, é a única com acesso ao texto. Os originais devem ser entregues em outubro. O livro deve ter tiragem de 10 mil exemplares e versão para web. Ela vai ganhar um percentual não revelado.

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Em todos os eventos, ela sempre conta a história do Diário. Não enjoa repetir sempre a mesma coisa? "Não, porque falo para público diferentes", disse.

Rotina

Isadora passou alguns meses longe das manchetes, mas sua fama cresce na internet e nos circuitos de palestras – domingo (1º), no Rio de Janeiro, ela falará na Bienal do Livro. Um amigo da família leu uma matéria numa revista francesa e mandou cópia. A revista “Der Spiegel” da Alemanha falou dela. E semanas atrás o jornal “Financial Times” a botou nas alturas.

Como a menina está reagindo à fama crescente? Ela responde que “não está nem aí”. Ela estuda das oito as oito: de manhã, na 8ª série da escola pública municipal que a lançou para o mundo, e à tarde, aulas de inglês e um cursinho pra tentar vaga no segundo grau numa escola federal.

Sempre atuante na web, ela não foi às ruas na onda de protestos: "No dia em que eu ia, a moça que viria tomar conta da avó não veio, tive que ficar em casa" - ela ajuda a mãe a cuidar da avó doente.

Pela web, Isadora bateu no senador Paulo Bauer (PSDB-SC). Criticou o uso da cota parlamentar dele. Bauer então publicou no Facebook da garota uma longa explicação em vídeo, detalhando os gastos de seu gabinete.

A mãe, dona Mel, diz que a rotina da filha não mudou: escola, casa, escola. Quando viaja para falar do Diário, vai acompanhada pela mãe ou pela irmã. Balada, nem pensar: "A mãe sempre sabe onde estou", diz, conformada.

Ela passou o inverno rigoroso de Santa Catarina deste ano trancada em seu quarto com ar condicionado. Nove da noite a menina não desgruda da novela Amor à Vida. Adora o personagem do vilão gay Félix: "Gostaria de ser como ele, pelo cinismo e pelas maldades que diz às pessoas", confessa.

Amor? Ela nem pisca: "Alguns meninos pedem pela internet, mas não tenho namorado". Ela sequer responde aos candidatos. E ensina o caminho das pedras: "Para namorar, acho que nunca deve ser pela internet".