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"Maior desafio foi informática", diz pedagoga de 48 anos formada por EAD

Arquivo pessoal
Imagem: Arquivo pessoal

Do UOL, em Belo Horizonte

05/09/2013 10h12

A segunda graduação de Marlene Simões, 48, foi de pedagogia. E a distância. Moradora de Guapé, um pequeno município mineiro a cerca de 300 km de Belo Horizonte, ela optou pelo EAD (ensino a distância) com a intenção de suavizar a rotina de estudante.

Sua opção pelo EAD foi de ordem prática: a primeira graduação de Marlene foi em história, num curso presencial na cidade de Boa Esperança, a 70 km de sua cidade. Ela viajava todos os dias.

Já para tirar o diploma de pedagogia na UFJF (Universidade Federal de Juiz de Fora), ela precisava ir ao polo de Ilicínea fica a 30 km da sua cidade algumas vezes no mês, para as provas e algumas oficinas. Esse polo é o segundo maior da UFJF, que reúne atualmente 3.700 alunos na modalidade a distância.

“Trabalhava de manhã. À tarde pegava o computador para fazer trabalhos e uma hora ou outra corria para fazer o serviço de casa que divido com as outras moradoras [da república em que mora]”.

Sua trajetória foi além do que muitos poderiam esperar: aos 33 anos, Marlene tinha apenas o quarto ano. De lá para cá, ela fez supletivo, vestibular, uma graduação em história, especialização em psicopedagogia. Terminou pedagogia em 2013 e já emendou uma formação em alfabetização e letramento pela UFSJ (Universidade Federal de São João Del-Rei). 

Tinha um computador no meio do caminho

Para a ex-cantineira, o maior obstáculo foi encarar a tecnologia. “Mexer com computador foi difícil porque eu nunca tinha ligado computador. Às vezes tava com tudo pronto para enviar o trabalho e perdia tudo. O maior desafio foi a informática”, afirma. 

Atualmente, sem bloqueios tecnológicos, ela tem seu próprio computador -- quando começou a faculdade, ela usava a máquina da irmã. Em vez de ajudar nas tarefas da cantina, ela é substituta na escola Deputado Joaquim Melo de Freire, na comunidade Santo Antônio das Posses (Guapé). 

Ela aguarda ser chamada em um concurso do Estado, para dar aulas em Guapé - ela é a oitava colocada do certame.

“Me sinto realizada, mas eu quero mais. Quero fazer mestrado, porque eu gosto de estudar, me faz bem. Eu fui a primeira da família a estudar. Meus irmãos também começaram, hoje eles têm pelo menos ensino médio. Para quem tinha só quarto ano, eu tive oportunidade de ir mais longe”, diz a pedagoga. 

Outras histórias

Assim como Marlene, Luciana de Lima Santana, 32, e Luiz Carlos Figueiredo, 33, também são exemplos de superação em que os estudos tiveram papel central.

A pedagoga Luciana de Lima Santana, 32, não poderia imaginar que nove anos depois de um grave acidente de carro que a deixou tetraplégica, ela estaria trabalhando como educadora em Ilicínea e cuidando pessoalmente dos detalhes da formação da filha, de 12 anos. A tragédia alterou radicalmente a vida de Luciana, mas a mudança mais importante, classificada por ela, foi conquista do curso superior a distância pela UFJF em 2011. 

Já o operador de máquinas do Demlurb (Departamento Municipal de Limpeza Urbana) de Juiz de Fora, Luiz Carlos Figueiredo, 33, superou o cansaço do trabalho diário, um acidente no serviço, os problemas de saúde da família e hoje tem maior orgulho do diploma de administrador público que, em breve, estará pregado na parede de casa.