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Malala lança livro e diz: 'Quero me tornar primeira-ministra do Paquistão'

"A melhor forma de lutar contra o terrorismo e pela educação é por meio da política", diz Malala - Jessica Rinaldi/AP
"A melhor forma de lutar contra o terrorismo e pela educação é por meio da política", diz Malala Imagem: Jessica Rinaldi/AP

Emilio López Romero

EFE

10/10/2013 21h22

Nova York, 10 out (EFE).- Um ano após sobreviver de forma milagrosa a um ataque terrorista, a jovem Malala tem hoje, mais claro do que nunca, que deve continuar a defender a educação feminina, e está disposta a estudar, entrar para a política e "chegar, algum dia, a ser primeira-ministra do Paquistão".

"A melhor forma de lutar contra o terrorismo e pela educação é por meio da política. Por isso fiz essa escolha. Um médico só pode ajudar uma comunidade, mas um político pode ajudar todo um país", disse nesta quinta-feira a jovem ativista paquistanesa em entrevista à Agência Efe na ocasião do lançamento de seu livro "Eu sou Malala".

Há anos, Malala sonhava em ser médica porque na sociedade pashtun "é difícil para uma menina imaginar" o que pode chegar a ser.

Depois que começou a ver o mundo, pouco a pouco, e a conhecer mulheres como Benazir Bhutto, e ícones como Martin Luther King e Nelson Mandela, ela então pensou: "Malala, você pode ser quem quiser".

Há um ano, no dia 9 de outubro, dois talibãs pararam a caminhonete na qual ela voltava do colégio no Vale do Swat. "Esse dia eu estava pensando no trabalho que tinha que entregar na escola, sem saber que essa viagem de volta para casa terminaria em um hospital de Birmingham (Inglaterra)", lembrou a jovem.

As lembranças do momento do ataque são vagas, a maioria dos detalhes que sabe foram contados a ela depois. Um dos terroristas perguntou: "Quem é Malala?". Então, ela agarrou "com força" a mão de Moniba, sua melhor amiga, mas não teve tempo de dizer nada porque atiraram contra ela à queima-roupa.

"Quis responder, mas não me deixaram. Agora sim posso. Sou Malala e quero contar minha história neste livro", explicou a jovem ativista, que tenta abrir mão de seu protagonismo ao garantir que, na realidade, o que retrata é a vida de todas as pessoas que sofreram com o terrorismo, a ignorância, o analfabetismo, "e é por elas que quero levantar minha voz".


Transformada em ícone global da educação feminina, e candidata ao Nobel da Paz que será anunciado amanhã, Malala não hesita por um só instante quando é questionada sobre os talibãs.

"São apenas terroristas que querem impor suas leis através das armas e em nome do Islã. Mas o verdadeiro Islã é uma religião de respeito, de tolerância, de paz", garantiu.

Malala reconheceu que nesta nova etapa, repleta de viagens, entrevistas e atos públicos, tem dificuldades para continuar os estudos, mas seu sonho continua intacto: um mundo "muito simples" em que todas as crianças frequentam escolas, onde aprendem, têm livros e lápis, e vivem uma vida feliz e em paz.

"Hoje é um sonho, mas conseguiremos fazer com que amanhã isso seja uma realidade", garantiu a jovem, que agradeceu pelas demonstrações de apoio e amor que recebe. "Agora sinto que é minha responsabilidade seguir trabalhando pela educação e defender os direitos daqueles que sofrem com o terrorismo e que não têm voz", comentou.

Em algumas ocasiões, ela mesma parece esquecer que acaba de completar 16 anos. "Muitas vezes me pergunto se devo fazer os deveres ou me concentrar no livro ou no trabalho da Fundação Malala. Todas essas coisas são importantes, mas então penso: 'Malala, não tem problema se você perder dez minutos assistindo televisão ou jogando críquete'", contou.

Graças "ao Skype e ao celular" Moniba conta para a amiga o que acontece na escola e em seu dia a dia. Malala conversa também com Malka-E-Nur, outra menina com quem costumava competir por notas no colégio. "Um dia ela me disse que não gostava mais das provas porque não tem com quem competir, e que sente minha falta. Esquecemos a rivalidade e agora também somos amigas".

Sobre sua vida em casa, longe das câmeras e à margem dos discursos, fala com ternura de seus dois irmãos menores, e de como passam "o dia todo brigando e jogando no iPad", como outras crianças de sua idade.

O pai da jovem ativista, Ziauddin, diz que agora ela deve se concentrar em sua recuperação, mas Malala diz que o que quer é "continuar aprendendo, estudar muito, e frequentar uma boa universidade para poder voltar algum dia ao Paquistão. É meu país e ninguém esquece a terra onde nasceu. Espero poder voltar o mais rápido possível", concluiu.