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Romances policias podem ajudar no ensino de ciências em escolas

Lara Deus

Da Agência USP de Notícias

10/10/2013 12h46

A literatura usada em sala de aula, além de aprimorar as capacidades de leitura relativas à linguagem dos alunos, também pode ajudar no ensino de outras matérias. Pensando nisso, a professora Fabiana Rodrigues Santos elaborou propostas para que o romance policial seja aplicado às aulas de ciências.

O gênero literário foi escolhido devido à correlação entre o papel do detetive dos romances policiais com o cientista, já que ambos representam a busca por conhecimento. As recomendações fazem parte de sua dissertação de mestrado do Programa de Pós-Graduação Interunidades em Ensino de Ciências, do IF (Instituto de Física) da USP (Universidade de São Paulo).

Fabiana testou suas propostas com alunos do 5° ao 9° ano do ensino fundamental da escola onde leciona. Analisando características como tiragem e qualidade didática, a obra escolhida para o estudo e a aplicação foi "O Caso da Borboleta Atiria", de Lucia Machado de Almeida. O livro conta a história de Atiria, uma borboleta que, mesmo com um defeito em suas asas, ajuda o detetive a solucionar o mistério de mortes que ocorrem no bosque onde vive. Com o desenrolar do enredo e da investigação, a vida de Atiria passa a também correr perigo.

A pesquisadora propõe a professores de ciências quatro passos para o trabalho com o livro. Em primeiro lugar, a recomendação é que se avalie os conhecimentos prévios dos adolescentes sobre a pesquisa científica. Após isto, todos fazem a leitura da obra para que, então, o professor promova um debate sobre a construção do saber científico, apresentando visões que esclareçam que não há um único modo de fazer ciência. Fabiana indica alguns autores para que os docentes discutam nesta etapa, como Popper, Kuhn, Feyerabend e outros com visões empiristas.

No final da aula, começam as atividades práticas. Usando um cenário baseado na história do livro, os alunos são instigados a atuarem como investigadores de um caso misterioso. Fabiana comenta que cabe a cada professor fazer as adaptações necessárias ao seu contexto de trabalho. O mesmo vale para a faixa etária. A pesquisa teve como foco adolescentes de 10 a 14 anos, mas, segundo ela ”o professor deve adaptar para que a atividade fique atraente e alcance seu objetivo”.

Orientada por Luís Paulo Piassi, Fabiana testou as propostas de aplicação  e percebeu que os estudantes conseguiram estabelecer conexões entre o detetive do livro e o cientista que descobre as teorias que aprende na escola. “A partir dessas comparações o aluno entende melhor o caminho da construção da ciência”, ela explica e completa que os estudantes “acharam bem interessante fazer a leitura de uma obra de literatura para debater ciência”.

A pesquisa Detetive ou cientista? A literatura policial infanto-juvenil como recurso didático na educação em ciências foi defendida em setembro deste ano no IF.