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Um professor na lista dos bilionários; veja história de Carlos Wizard

Jorge Araujo/Folhapress
Imagem: Jorge Araujo/Folhapress

Do InfoMoney*, em São Paulo

15/10/2013 14h41Atualizada em 15/10/2013 14h53

Ser professor de inglês nunca foi o sonho do empresário Carlos Wizard Martins, mas, apostando na educação, ele se tornou um das pessoas mais ricas do país. Fundador da rede de idiomas Wizard e presidente do Grupo Multi, marca que detém as instituições de ensino Yázigi, Skill, Microlins, People, S.O.S e Smartz, ele conseguiu entrar na lista dos bilionários da Forbes Brasil, com uma fortuna estimada em R$ 1,13 bilhão.

A riqueza não veio de berço. Filho mais velho entre sete irmãos, ele aprendeu desde cedo a trabalhar. Aos 10 anos de idade, acompanhava seu pai, Antônio Oriondes Martins, que era caixeiro-viajante nas estradas do interior do Paraná. Durante essas viagens, que aconteciam somente quando ele estava em férias da escola, pai e filho vendiam alimentos para pequenas mercearias e armazéns. Daquele período, Carlos lembra com carinho. “Trabalhar com o meu pai, que era um excelente comerciante, despertou em mim um senso de responsabilidade e de iniciativa própria. Foram lições de liderança para um jovem que sonhava progredir.”

Carlos também trabalhava dentro de casa, ajudando a mãe com as tarefas domésticas e cuidando dos irmãos, além de vender verduras e roupas infantis nas ruas próximas a sua casa. Com tantas responsabilidades, não era estranho que o menino não tirasse boas notas na escola. A única matéria em que Carlos se destacava era inglês. Quem o incentiva a aprender o idioma eram dois rapazes da Igreja de Jesus Cristo dos Santos dos Últimos Dias, mas conhecida como igreja mórmon.

Nos encontros religiosos dos quais a família toda participava, os jovens ensinavam a Carlos a língua inglesa de maneira lúdica, por meio de músicas do rádio. Carlos transcrevia as letras e repetia as novas palavras que aprendia. “Os missionários foram meus professores, com eles aprendi as primeiras palavras em inglês.”

Mais do que o idioma, os mórmons ensinaram a Carlos que, para ter sucesso na vida, ele deveria estudar. Eles disseram que, se Carlos quisesse, poderia cursar uma faculdade nos Estados Unidos, o que parecia um sonho quase impossível. “Além de ser de uma família humilde, as minhas notas no colégio eram mais vermelhas do que azuis.”

Welcome to America

Interessado em ter uma experiência no exterior, no entanto, Carlos, então com 17 anos, pediu aos pais que o autorizassem a morar nos EUA. Os pais concordaram, mesmo sem saber como o filho faria para pagar a passagem. Foi graças à facilidade de poder pagar o bilhete em dez vezes que, em 1974 e com apenas 100 dólares no bolso, ele desembarcou em Nova York.

Nos EUA, o jovem não deixou de frequentar a igreja. Foi então convidado a passar dois anos se dedicando a um missão eclesiástica, em que os jovens seriam enviados a um país desconhecido para evangelizar e prestar serviços voluntários. O empresário foi enviado a Portugal.

Passados dois anos, voltou ao Brasil, com dois planos para sua vida. O primeiro era se casar com Vânia, uma moça que frequentava a igreja e que não dava muita bola para ele. E o outro era voltar para os EUA para estudar. Para alcançar o que queria, concluiu o ensino médio em um supletivo e convidou a jovem para o baile. Quatro meses depois, eles estavam casados.

Com pouco dinheiro, o casal teve de economizar para que Carlos pudesse realizar o sonho de estudar nos EUA. Nessa época, ele dava aulas particulares de inglês e a esposa trabalhava como secretária. Aos 26 anos, ele se mudou com a mulher e os filhos para os EUA, onde cursou Análise de Sistemas e Tecnologia na Brigham Young, universidade da religião mórmon.

Foi na universidade que Carlos aprendeu a ser professor. Brigham Young tem um centro de ensino de idiomas, no qual os jovens são preparados para partir em missão a outros países. Ele foi aprovado para dar aulas em português. “Essa experiência me deu preparo acadêmico e profissional. Consegui adquirir as técnicas de um educador e a experiência no ambiente em sala de aulas.”

Para conseguir um emprego nos EUA, Carlos fez uma lista com cem empresas norte-americanas que tinham filiais no Brasil. Ele enviou cem currículos e apenas uma empresa o chamou para uma entrevista de emprego. Foi nessa que ele conseguiu o cargo de executivo. Com um bom emprego, a renda cresceu e eles deixaram o alojamento da universidade para morar em uma casa com as despesas pagas pela companhia. Depois de um ano, foi transferido de volta ao Brasil.

Certo dia, ao ir ao banco receber o salário, teve acesso à folha de pagamento da empresa. “Fiquei inconformado. Imaginava que o salário do diretor fosse altíssimo, muito maior do que o meu.” Carlos ficou pensando se era aquilo que ele queria. A carreira de executivo poderia lhe dar uma vida confortável. Porém, ele percebeu que só seria próspero financeiramente se investisse um negócio próprio.

A ideia ficou martelando em sua cabeça durante uns dias. Ele se sentou com a mulher e fez uma lista de negócios que poderiam abrir. “Alguns eram absurdos, chegamos até a pensar em montar uma granja.” Mas tudo isso não passava de planos, já que Carlos não tinha coragem de pedir demissão. Foi justamente nessa época que a empresa decidiu demiti-lo. Ele e a esposa já davam aulas de inglês em casa depois do expediente para ajudar na renda. Mesmo assim, ele relutou em empreender na área. “Naquele momento, eu pensava com a cabeça de professor, e não de empresário.”

Inglês em 24 horas

Até que um dia ele teve um estalo, que chama de “inspiração divina”. Sonhou em abrir não apenas uma escola, mas uma rede. O passo seguinte foi preparar uma apostila com expressões, verbos e vocabulários mais usados na conversação do dia a dia. Ele desenvolveu 24 lições que eram apresentadas em anúncios de jornais no estilo “Fale inglês em 24 horas”. A estratégia deu certo.

Além dos alunos que marcavam aulas, Carlos, o empresário, passou a oferecer as apostilas para outros professores de inglês e escolas. A empresa crescia cada vez mais, até que a casa ficou pequena, e a família decidiu comprar um imóvel para montar o negócio. Com investimento de US$ 5 mil, dinheiro obtido com o pai, nascia a primeira unidade da Wizard, em Campinas, no interior de São Paulo.

Por ter morado no exterior, Carlos conhecia muito bem o sistema de franquia. No momento de expandir seu negócio, não teve dúvidas. Ele lembra que nos EUA conheceu muitos empreendimentos que tinham um controle central, com uma mesma marca, mesma filosofia, serviços e qualidades de atendimento. “Isso ficou gravado em mim.” No final da década de 80, surgia paralelamente no Brasil a Associação Brasileira de Franchising. Para ele, é possível dizer que a Wizard e o franchising nacional cresceram juntos. “Hoje afirmo que somente conseguimos a posição de liderança que temos graças ao modelo de franquias que adotamos.”

Atualmente, a Wizard tem mais de 3.000 escolas em todo o Brasil e em dez países, como Rússia, China e EUA.

Wizard no sobrenome

Carlos não nasceu Wizard, mas adotou o nome em seu registro civil. A sugestão veio de uma franqueada. Inicialmente ele achou a ideia absurda, mas ela insistiu e disse que ele amava a marca e que, se ele não a colocasse, ela o incluiria em seu nome. “Ela me convenceu. Hoje sou Carlos Wizard, graças à Márcia Rossi.”

* Essa matéria foi publicada na edição n° 45 da revista InfoMoney, referente ao bimestre julho/agosto de 2013