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A gente não sabe para onde vai, diz caloura de curso suspenso da UFPR

Monique Ryba Portela, 17, passou no vestibular, mas o curso de jornalismo da UFPR foi suspenso - Arquivo pessoal
Monique Ryba Portela, 17, passou no vestibular, mas o curso de jornalismo da UFPR foi suspenso Imagem: Arquivo pessoal

Osny Tavares

Do UOL, em Curitiba (PR)

13/02/2014 19h44Atualizada em 14/02/2014 16h56

“Tomara que resolvam logo, porque está ficando ridículo. A gente não sabe para onde vai”, a frase da caloura Monique Ryba Portela, 17 anos, resume o sentimento de 24 aprovados no vestibular de jornalismo da UFPR (Universidade Federal do Paraná). Em dezembro passado, o MEC (Ministério da Educação) suspendeu o curso após notas baixas em edições seguidas do Enade (Exame Nacional de Desempenho dos Estudantes).

A suspensão ocorreu depois que o vestibular já havia sido realizado. Os aprovados lutam na Justiça para serem reconhecidos como estudantes da mais tradicional instituição de ensino do Paraná. “É uma frustração muito grande. Estudei o ano inteiro, passei num curso com grande concorrência (26 candidatos por vaga) e agora não sei se vou estudar. A gente já achava difícil entrar na UFPR . Agora, então, está mais ainda”, diz Monique.

“Fui para o banho de lama ainda sob o fantasma da suspensão, mas achei que as coisas seriam resolvidas. Dois dias depois ficamos sabendo que a suspensão continuava. Estudei o ano inteiro sob grande pressão, e depois da aprovação é que vem a parte mais tensa”.

Desde então ela vem acompanhando as negociações com o ministério na esperança de que a decisão seja revertida. “É muito chato encontrar as pessoas na rua e elas te dizerem ‘puxa, que pena que o seu curso fechou’. Quando passei na UFPR cancelei as matrículas em outras faculdades. Não tenho outro lugar para estudar.”

Monique conta que sempre se interessou pelas ciências humanas, e desde a infância adorava ler e escrever. Sua primeira aspiração era ser escritora, mas logo percebeu que o texto de ficção não era o que mais lhe interessava. “Gosto de comentar, emitir opinião, enfim, revelar alguma coisa para alguém. Então pensei no jornalismo, por volta dos 11 anos, e nunca mais voltei atrás”.

A curitibana, filha de um casal de empresários que estudou em uma escola particular de Curitiba, sempre teve como meta principal ingressar na Universidade Federal do Paraná. “É uma instituição de renome. E apesar de problemas como este que eu e os colegas estamos enfrentando, ainda oferece uma boa formação. Já no primeiro ano, quero me dedicar a estudar línguas, como o francês. Mas a meta principal é mesmo garantir a matrícula”, brinca ela.

Mobilização

Os calouros se organizaram e recorreram ao Ministério Público Federal, que sugeriu entrar com um mandado de segurança para garantir a matrícula. Os aprovados começariam o ano letivo em outros cursos de comunicação social, como publicidade e relações Públicas. “O importante é que os professores já nos consideram alunos. Vamos frequentar as aulas ainda que como observadores”, afirma Monique.

Os estudantes, que sequer se conheciam, foram obrigados a se organizar e se mobilizar para pressionar o poder público. “É complicado. Nem entramos e já temos que brigar pelo ensino”, diz Plínio Lopes, 17. Assim que saiu a lista dos aprovados, ele procurou os futuros colegas na internet e criou uma lista de discussão para debater o tema. “O problema, apesar de muito ruim, uniu a gente. E acabamos dando muitas entrevistas e conhecendo o trabalho dos jornalistas. Para um estudante da profissão, não poderia existir começo melhor.”

Avaliação

O MEC informou que uma comissão visitará o curso de jornalismo da UFPR nos dias 24 e 25 de fevereiro. A ação é uma resposta aos pedidos de reconsideração apresentados pela UFPR. 

De acordo com a reitoria da UFPR, os alunos boicotaram as provas por não concordar com o método de avaliação.