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Com interdição da USP Leste, pesquisa é adiada e aluno perde bolsa

Bruna Souza Cruz

Do UOL, em São Paulo

11/04/2014 06h00

A interdição do campus Leste da USP (Universidade de São Paulo) em janeiro e o atraso de mais de um mês na volta às aulas contribuíram para que o projeto de iniciação científica do estudante Gleidson Xhá Fernandes, 35, fosse adiado. O aluno cursa o terceiro semestre de sistemas de informação e depende da bolsa de pesquisa – em torno de R$ 400 – para ajudá-lo a se manter no curso.

"Eu recebia uma outra bolsa que era de extensão e cultura, mas tive que cancelar para poder ser contemplado com essa de pesquisa. Agora, não recebo nenhuma dessas", explica Fernandes, que recebeu a última parcela em março e ainda não sabe como irá custear os estudos a partir de agora. 

Além desse auxílio, o estudante também recebia bolsas de alimentação e transportes. Mas, segundo ele, a renovação desses recursos ainda está sendo avaliada pelos assistentes sociais da universidade. Enquanto não decidirem, o aluno ficará sem nenhuma ajuda de custo.

“Ainda não sei como farei para me manter. Uma possibilidade é trancar o curso e ir trabalhar no ramo que eu atuava antes, que é o de construção civil. Assim, iria embora da cidade abandonando a USP”, diz o estudante.

Segundo um e-mail que o universitário recebeu da comissão organizadora do projeto, não seria possível o grupo continuar com a pesquisa devido ao novo calendário letivo da USP. 

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Deslocamento

As aulas de Fernandes foram transferidas para a FMVZ (Faculdade de Medicina Veterinária e Zootecnia – zona oeste/ Butantã), Faculdade de Educação (zona oeste/ Butantã) e para o quadrilátero da Saúde nas faculdades de Enfermagem e Saúde Pública (zona oeste/metrô Clínicas).

Morador da região central de São Paulo, ele afirma que terá mais gastos com o deslocamento para assistir aulas em unidades diferentes. “Na quarta-feira tenho aulas na Saúde [quadrilátero da Saúde da USP ]. Estarei no Butantã durante o dia utilizando bibliotecas e depois voltaria para o quadrilátero. O problema maior que terei será o gasto com transporte nesse dia, pois usarei o dobro do valor.”

Biblioteca

A falta de biblioteca é outra das preocupações de Gleidson Fernandes. Ele destaca que no campus da USP Leste existem livros que são específicos em alguns pontos da formação e que não são encontrados nos institutos do Butantã.

O estudante de sistemas de informação Georges Basile Stavracas Neto,19, está preocupado também com a falta de acesso aos materiais disponíveis na biblioteca da EACH. Com a interdição do campus, o local também foi fechado. O receio do aluno é agora ter que pagar por livros necessários para seu curso.

Resposta da USP Leste

Em comunicado publicado em seu site para alunos, docentes e funcionários, a instituição afirma que está acompanhando as dificuldades e buscando soluções "internamente e junto aos órgãos centrais da USP."

Sobre o acervo de livros disponíveis aos estudantes, a USP Leste informa que as tratativas para disponibilizar espaço provisório para biblioteca, com títulos da bibliografia básica das disciplinas de todos os cursos de graduação da EACH, estão em andamento.

Histórico

Apesar de os problemas ambientais serem antigos na EACH, o caso só veio à tona em setembro do ano passado, depois que a USP foi autuada pela Cetesb e os professores e alunos começaram uma greve que durou 50 dias.

Em outubro, a Cetesb multou a USP em R$ 96.869,35 por não ter solucionado o problema ambiental e por estabelecer prazos considerados insatisfatórios. Em seguida, foi a vez de a Justiça determinar a interdição do campus, medida que foi cumprida no início de janeiro deste ano.

Na última sexta (5), a USP reconheceu que a unidade concebida para atender os estudantes não recebeu a devida atenção da universidade diante das várias advertências encaminhadas pela Cetesb. Segundo Marco Antonio Zago, atual reitor da universidade, a USP "deixou de tomar as providências que poderiam ter evitado essa situação que hoje enfrentamos."

O terreno onde o campus Leste foi construído foi cedido pelo governo de São Paulo em 2003.