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Escola premiada no Amazonas não tem rede de água nem de esgoto

Professores de escola estadual no Amazonas investem dinheiro de prêmio para ir a congresso de educação - Divulgação
Professores de escola estadual no Amazonas investem dinheiro de prêmio para ir a congresso de educação Imagem: Divulgação

Lucas Rodrigues

Do UOL, em São Paulo

29/05/2014 06h00

Apesar de ter recebido um prêmio de R$ 150 mil reais em 2012 por ter atingido as metas educacionais do Amazonas, a escola rural Vital de Andrade Brandão não possui rede pública de água nem de esgoto. Essa é a situação de 31,8% das escolas brasileiras, segundo dados do Censo Escolar 2012.

De acordo com a diretora da instituição, professora Verônica de Souza Cruz, a quantia faz parte do "Escola de Valor", premiação do Sadeam (Sistema de Avaliação do Desempenho Educacional do Amazonas), ação do governo que avalia turmas dos ensinos fundamental e médio.

"Não houve um projeto propriamente dito para termos ganhado o prêmio. Esse é o resultado do desempenho de nossos alunos no Sadeam, que mostra o Índice de Desenvolvimento da Educação do Estado do Amazonas. É como o Saeb, porém é feito todos os anos", conta Verônica, referindo-se ao Sistema Nacional de Avaliação da Educação Básica, aplicado de dois em dois anos.

A docente acredita que o bom desempenho da escola teve como fator decisivo o professor, que "detecta as dificuldades de aprendizagem e reorienta o processo de ensino-aprendizagem, resultando em práticas bem sucedidas em sala de aula”.

Em 2012, o governo do Estado gastou quase R$ 11 milhões na premiação de 219 escolas estaduais da capital e do interior, de acordo com o site do programa. Houve ainda concessão de 14º e 15º salários em 46 instituições.

Precariedade

Nenhuma escola do município de Careiro da Várzea, onde fica a instituição, tem esgoto via rede pública. Na escola de Verônica o destino do esgoto é uma fossa, onde o tratamento não é completo como em uma estação. Esse é o método utilizado pela maioria dos colégios no país (50,67%).

Segundo dados do Censo Escolar 2013 compilados pelo portal QEdu, menos da metade das escolas brasileiras possui rede de esgoto (45%). A situação é ainda pior no Amazonas (7%), e em outros Estados da região Norte, como Pará, Amapá e Rondônia, que têm o mesmo percentual.

Apenas 5 das 53 escolas de Careiro da Várzea tem água via rede pública, ou seja, 9%. Vital de Andrade não é uma delas. O abastecimento de água é feito por uma cacimba. No Amazonas a taxa é de 19%, muito abaixo da média nacional de 69%.

"Na nossa escola, que fica na margem de um rio, utilizamos a água de um poço. Ano passado foi feita uma análise pelo Inpa [Instituto Nacional de Pesquisas da Amazônia] e constataram que ela é boa para consumo. Porém no período de cheia a água vem do rio mesmo", diz a diretora.

Ano passado, uma resolução do FNDE (Fundo Nacional de Desenvolvimento da Educação) estabeleceu a destinação de até R$ 32 mil para garantir o abastecimento apropriado de água e esgoto sanitário em escolas públicas municipais, estaduais e distritais de educação básica no campo.

Apesar de ter dez salas de aulas, cozinha, biblioteca e sala de informática, a Vital de Andrade não possui telefone fixo nem internet de boa qualidade. No Estado, apenas 24% das escolas têm acesso à internet. Nacionalmente o índice fica em 58%. "Temos 15 computadores funcionando, mas estão precisando de manutenção."

Formação

Com parte do dinheiro recebido pelo projeto "Escola de Valor", os professores decidiram investir na participação do grupo na Feira Educar/Educador, realizada na semana passada em São Paulo. Para chegar, os professores tiveram que enfrentar um trajeto de barco e outro de ônibus até Manaus, onde voaram para a capital paulista.

Segundo a diretora, o evento, que contou com palestras de educadores do mundo todo, ajudaria na melhoria da qualidade da educação na escola. "Em 2013, uma das nossas gestoras participou do Congresso Internacional Norte Nordeste, trazendo otimismo e novas informações e ideias para articular", conta.