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Veja sete dicas de como levar o cinema nacional para escola

Do Porvir

22/07/2014 09h36

Desde o dia 27 de junho, o uso de recursos audiovisuais passou a ser obrigatório em escolas da educação básica de todo o país. Uma nova regra, que passou a integrar a Lei de Diretrizes e Bases da Educação Nacional, determina a exibição de filmes nacionais por, no mínimo, duas horas mensais, como componente curricular complementar integrado à proposta pedagógica da escola. Para contribuir com o cumprimento da legislação, a reportagem conversou com especialistas em audiovisual e educação para reunir algumas dicas de como trabalhar o cinema na sala de aula.

O uso de filmes na escola pode ser um elemento importante para trabalhar outros formatos e linguagens com os alunos. Segundo a doutora em ciências da comunicação Cláudia Mogadouro, pesquisadora do Núcleo de Comunicação e Educação da USP, ainda existe na escola um descompasso muito grande entre a cultura letrada e a cultura audiovisual.

Para Djalma Ribeiro Junior, doutorando em educação e técnico de laboratório audiovisual da UFSCar (Universidade Federal de São Carlos), a lei é importante para trazer à tona o debate sobre a importância do audiovisual na educação. “A proposta é interessante, mas deve ser olhada em uma perspectiva mais ampla. Os filmes não podem ser usados apenas para cobrir horários de aula. Eles precisam estar integrados na proposta pedagógica escolar”, destacou.

Confira algumas propostas:

1. É fundamental fazer o planejamento da atividade  

Antes de exibir um filme para os alunos, é necessário realizar um planejamento. Segundo Cláudia Mogadouro, é importante que o professor escolha uma obra que leve em conta o repertório dos alunos. Em alguns casos, o educador deve preparar uma aula introdutória para que a classe consiga ter uma compreensão maior sobre o contexto do filme.

2. O tempo da aula deve ser levado em conta durante a escolha do filme

De acordo com Ribeiro Junior, o professor precisa escolher um filme que se encaixe no seu horário de aula. Em muitos casos, os curtas podem ser uma boa alternativa. No entanto, para a pesquisadora do Núcleo de Comunicação e Educação da USP, os longas também podem ser exibidos com um planejamento adequado. Segundo ela, alguns filmes têm conteúdos interdisciplinares que podem ser trabalhados durante diferentes aulas.

Se o tempo não for suficiente, o professor pode dividir o conteúdo em duas aulas ou apenas selecionar alguns trechos. No entanto, para fazer isso ele deve prestar muita atenção. “Alguns filmes podem ser cortados; outros, não”, advertiu Cláudia, ao destacar que existem casos que necessitam a exibição da obra completa para não perder a unidade do roteiro. Em histórias que envolvem suspense, por exemplo, uma quebra pode ser prejudicial.

3. A exibição deve ser acompanhada de um debate

Após exibir o filme, uma boa sugestão é fazer uma discussão sobre a obra com os alunos. “O debate é fundamental para a construção do conhecimento”, defendeu a doutora e pesquisadora Cláudia Mogadouro. Se não sobrar tempo para realizar esse debate, o educador pode levantar algumas questões de reflexão e retomar o conteúdo na próxima aula.

Para técnico de laboratório audiovisual da UFSCar, o debate não precisa envolver apenas questionamentos relacionados ao conteúdo do filme. Ele pode estabelecer relações com as matérias trabalhadas em sala de aula. Além disso, também é possível usar a obra para fazer uma discussão sobre a própria linguagem audiovisual, observando a estrutura narrativa, construção do roteiro, cenas e planos de filmagem.

4. As obras audiovisuais podem proporcionar releituras

“O filme é uma obra que tem muitas camadas de leitura. Ele pode ser utilizado para trabalhar com uma série de desdobramentos”, apontou Cláudia. Dentro dessa perspectiva, os educadores podem propor atividades como a reprodução de cenas do filme e a criação de trabalhos de artes plásticas.

Baseado em experiências dos projetos desenvolvidos pela UFSCar dentro de escolas da região, o pesquisador Ribeiro Junior também apontou a possibilidade dos alunos produzirem seus próprios conteúdos audiovisuais. “Isso representa uma forma dos estudantes se apropriarem da linguagem audiovisual”, pontuou. “A participação pode contribuir para a formação de uma visão mais crítica.”

5. A escolha dos filmes deve levar em conta a classificação indicativa

Antes de exibir um filme, os professores devem olhar a classificação indicativa e observar se o conteúdo está adequado para a faixa etária dos seus alunos. Segundo Cláudia, isso também é um instrumento de segurança para o educador. Caso os pais façam alguma reclamação sobre o filme, o professor tem  como afirmar que usou os parâmetros de classificação etária do Ministério da Justiça.

6. As atividades não devem adquirir o peso de uma obrigação

As atividades propostas pelos professores não devem criar nos alunos experiências traumáticas com os filmes. Em nenhum momento a atividade deve adquirir o peso de uma obrigação. ”Se você apresentar a proposta como um dever de casa, assistir o filme se torna uma tarefa chata”, afirmou Cláudia. Segundo ela, quando o professor pede uma redação sobre a mensagem do filme, por exemplo, ele acaba limitando o aluno de dar a sua opinião e o seu ponto de vista sobre a obra, pois isso passa uma ideia de que só existe uma resposta correta.

“Cada um vai sentir o filme de forma diferente. O audiovisual é polissêmico”, explicou. De acordo com ela, antes de propor qualquer atividade é ideal fazer um debate para mostrar para os alunos que cada um pode ter uma opinião diferente sobre o filme e que existem muitos caminhos para entender a obra.

7. As sessões de cinema também podem ser realizadas fora do horário de aula

Além da exibição de filmes nos horários de aula, Djalma Ribeiro Junior também mencionou a possibilidade dos professores se organizarem para desenvolver projetos de cineclubes na escola. Segundo ele, esses projetos ajudam a criar um ambiente de diálogo que incentiva o interesse dos alunos. Eles podem selecionar diversas obras para exibições e discussões dentro da escola. Esses projetos também podem ser abertos para toda a comunidade, integrando pais e moradores locais.