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"Fui mal interpretada", diz acusada de deixar criança suja em creche

Fabiana Marchezi

Do UOL, em Campinas (SP)

01/08/2014 20h33

“Estou muito abalada. Fui mal interpretada. Nunca imaginei que ela reagiria assim”, disse a professora Silvana Guimarães, 48, ao se referir à mãe que registrou um BO (Boletim de Ocorrência) por ter sido chamada para trocar a fralda do filho de dois anos em uma creche municipal de Campinas (a 93 km de São Paulo).

O fato ocorreu na Emei (Escola Municipal de Educação Infantil) Rafael Andrade Duarte, no Parque Taquaral. Na ocasião, Carla Heloisa Carnevalli contou que a professora se recusou a trocar a fralda suja de cocô do filho e, ao chegar na sala de aula, viu o menino todo sujo e fedido, isolado em um canto, longe dos coleguinhas.

Em entrevista ao UOL, na noite desta sexta-feira (1º), a docente contou que só pediu a ajuda da mãe da criança porque não tinha outra alternativa naquele momento.

“Foi uma emergência. Não tinha ninguém para me ajudar na escola. Como os pais daquela escola sempre foram muito participativos e solícitos, para não deixá-lo sujo eu pedi para a mãe vir me ajudar. Naquele momento eu só pensei em zelar tanto pelo filho dela quanto pelas outras crianças. Mas, se eu soubesse que ela reagiria dessa maneira, jamais teria pedido”, disse a docente.

Silvana dá aulas para uma turma de crianças de quatro e cinco anos, no período matutino. Porém, na última sexta-feira (25) substituiu a professora de uma turma de crianças de dois anos, no período vespertino.

Segundo ela, a turma da outra professora não tem monitor e quando ela viu que o menino Davi estava sujo pediu para o vigilante ligar para a mãe. “Ele ligou, mas eu falei com ela. Quando ela chegou a diretora havia acabado de chegar e nós tentamos explicar o que havia acontecido, mas ela já chegou alterada e não quis nem ouvir. Saiu muito nervosa carregando o filho. Eu jamais me neguei a trocar a fralda e limpar uma criança. Isso faz parte da educação infantil. Só liguei pra ela me ajudar por necessidade”, contou. 

Silvana é professora efetiva da prefeitura há 20 anos e leciona na escola do Taquaral há cinco. “Em 20 anos de profissão nunca passei por uma situação dessas. O que me conforta é ter o apoio dos meus colegas e dos pais dos meus alunos, que conhecem o meu trabalho”, afirmou.

A professora também disse que, ao contrário do que foi falado, em nenhum momento o menino ficou isolado em um canto da sala.

“Inclusive, quando a diretora e a mãe chegaram ele estava com os outros coleguinhas. Eu só tenho a lamentar pela confusão. Já tivemos uma reunião com a mãe e ficou tudo esclarecido. Apesar disso tudo, eu continuo acreditando que a parceria entre a escola e a família é a base e o alicerce para a educação de nossas crianças", concluiu.

O caso foi encaminhado à Secretaria de Educação de Campinas, que abriu um processo administrativo. Este pode levar até 90 dias para ser concluído, podendo resultar de suspensão a exoneração da docente. O BO foi registrado no 4º Distrito Policial da cidade, como não criminal. O delegado de plantão orientou Carla a procurar um advogado para cuidar do caso.