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Medicina da USP discute protocolo após denúncias de violência sexual

André Cabette Fábio

Do UOL, em São Paulo

19/08/2014 09h00

Além do caso da estudante Rosa*, supostamente estuprada em 2011 numa festa da Atlética da Faculdade de Medicina da USP (Universidade de São Paulo), outro mais recente tem movimentado a instituição. A faculdade investiga um caso de violência sexual envolvendo uma aluna do curso em 2013.

Como este e outros casos vieram a público e grupos feministas formados por alunas da faculdade têm pressionado por respostas, a direção da Faculdade de Medicina planeja criar um protocolo para atendimento a vítimas e encaminhamento interno para novas denúncias.

De acordo com o professor Paulo Saldiva, presidente da comissão responsável pelo protocolo,  a ideia é criar um conjunto de etapas para agilizar os processos e oferecer apoio às vítimas desse tipo de agressão. Um professor da Faculdade de Medicina ficaria responsável por centralizar esse tipo de denúncia. Também está em análise a criação de uma ouvidoria.

Caso encerrado e depois reaberto na USP

Um caso de assédio relatado por uma aluna do 4º ano de medicina foi considerado encerrado pela Comissão de Graduação da Faculdade de Medicina. Segundo consta na ata da reunião da Congregação da faculdade do dia 25 de abril, a conclusão foi de que "o assédio não poderia ser caracterizado, visto que as pessoas envolvidas agiram de comum acordo". Cíntia*, a aluna que fez a denúncia, nega.

A investigação também constatou que "todos ingeriram bebida alcoólica antes do ocorrido". Além de Cíntia, foram ouvidos os dois veteranos acusados de abuso e testemunhas. Gravações de uma câmera de segurança também foram consultadas.

O resultado foi recebido sob o protesto de alunas integrantes do Coletivo Feminista Geni da instituição, que acusaram a investigação de reduzir o problema ao consumo de álcool.

Segundo Paulo Saldiva, as investigações foram reabertas pela comissão especial e estão em andamento.

Para Ana Cunha, 25, aluna do 3º ano de medicina e integrante do coletivo feminista, a movimentação da faculdade é positiva. "O próprio debate que gerou essa comissão é vitorioso". Ela teme, no entanto, que os trabalhos não tenham efeito prático.

"Temos medo de que a comissão se torne apenas consultiva, e de que caia em moralismo, de que trabalhe apenas para que não tenha álcool, sexo e festas na faculdade, ao invés de avançar sobre a violência sexual", afirma.

*Os nomes são fictícios