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Polícia ainda investiga estupro de aluna na medicina da USP de 2011

André Cabette Fábio

Do UOL, em São Paulo

19/08/2014 09h00

Há três anos, a 1ª Delegacia da Mulher de São Paulo investiga um caso de estupro na Faculdade de Medicina da USP (Universidade de São Paulo). Rosa*, 23, afirma ter sofrido violência sexual no dia 2 de abril de 2011, em uma festa tradicional da instituição chamada "Carecas no Bosque".

O evento é o mesmo em que ocorreu uma denúncia de homofobia este ano.

Segundo Nereide de Oliveira, advogada da vítima, a expectativa é que o caso seja encaminhado ao Ministério Público até setembro de 2014. Como o inquérito corre sob sigilo, nem a advogada nem a SSP (Secretaria de Segurança Pública) informaram detalhes sobre a investigação. O órgão público também não esclareceu por que o processo se arrasta há três anos -- limitou-se a informar que a delegada responsável é Celi Paulino Carlota e esta não concedeu entrevista à reportagem apesar dos pedidos encaminhados.

Conforme o UOL apurou, até o momento, ao menos 15 testemunhas foram ouvidas, sendo que o relato principal - do estudante que flagrou a violência -- só foi colhido no dia 14 de julho deste ano.

Aluna registrou queixa três dias depois

A estudante era caloura de medicina e foi violentada em uma instalação da festa. Segundo os relatos dos colegas de Rosa, o estuprador foi flagrado por alunos e agredido no próprio evento. Atordoada, Rosa foi levada ao hospital e só foi registrar queixa três dias depois do fato.

O agressor chegou a ser perseguido e espancado na festa, mas não foi levado à delegacia naquela noite.

O evento aconteceu em um sábado e, no dia seguinte, Rosa procurou sua ginecologista particular para ser examinada em busca de evidências de um estupro. De acordo com a Secretaria de Segurança Pública, o laudo do exame está apensado ao inquérito do caso, mas é inconclusivo.

A estudante afirma que a direção da Atlética da época a desencorajou a levar a denúncia adiante. Um dos colegas que a ajudaram a se vestir quando foi encontrada teria lhe dito na época que não iria depor na delegacia por não querer ter seu nome envolvido em um caso de estupro.

Não se comenta o caso

A diretoria da AAAOC (Associação Atlética Acadêmica Oswaldo Cruz) é renovada anualmente. A reportagem entrou em contato com o presidente da gestão atual, Douglas Rodrigues, mas não obteve resposta às perguntas enviadas por e-mail. O presidente da gestão de 2011, responsável pelo evento em que ocorreu a violência sexual, Diego Munhoz, disse apenas que estava trabalhando durante a festa, não acompanhou o caso de perto na noite do estupro e preferiu não conversar com a reportagem.

O professor Edmund Chada Baracat, presidente da Comissão de Graduação da Faculdade de Medicina da USP, afirmou que a faculdade não tem conhecimento do caso -- Rosa relata que foi atendida pelo Grapal [Grupo Psicológico de Apoio ao Aluno]. A abertura de um processo interno de apuração dependeria de um trâmite burocrático que não foi realizado.

Baracat contou que a instituição acompanha outro inquérito policial de estupro, também de 2011 -- este, de acordo com a assessoria de imprensa da faculdade, teria ocorrido na Casa do Estudante de Medicina e envolve um estudante da faculdade e uma aluna de Enfermagem.

Comissão e protocolo

Após algumas denúncias, a direção da Faculdade de Medicina criou uma Comissão de Violência e Preconceito, Consumo de Álcool e Drogas. Neste semestre, o grupo está fazendo um diagnóstico da situação e faz um levantamento de casos de violência sexual na faculdade. Há três casos sendo apurados atualmente: esse estupro na Casa do Estudante, um abuso ocorrido em 2013 e um caso de violência sexual que envolve a AAAOC datado de 2014.

O caso de Rosa, ocorrido em 2011, ainda não entrou no levantamento.

De acordo com o professor Paulo Saldiva, presidente do grupo, a comissão concluiu que falta um canal ao qual as alunas possam recorrer nesse tipo de situação. "Nunca tínhamos previsto isso, e fomos confrontados com uma situação que necessita de um regramento. Criaremos um protocolo sobre os procedimentos que uma garota poderá trilhar, caso ocorra violência sexual", disse.