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Análise: número de formandos caiu por falta de qualidade e de regulação

Bruna Souza Cruz

Do UOL, em São Paulo

11/09/2014 12h03

A falta de qualidade e de regulação dos cursos de graduação no Brasil, principalmente na rede privada, foram os motivos da queda de 5,9% no número de formandos entre 2012 e 2013, segundo especialistas ouvidos pelo UOL.

De acordo com os dados do Censo da Educação Superior divulgados na terça (9) pelo MEC (Ministério da Educação), houve 59,4 mil diplomas - o termo usado pelo MEC é concluintes -- a menos que em 2012. Praticamente todo esse contingente (51.135) estava concentrado em 14 instituições privadas, informou o MEC após questionamento da imprensa.

A redução no número de formandos da rede privada representa 86% (51.135) do total de pessoas que deixaram de concluir seu curso em 2013 (59,4 mil). A rede pública foi responsável por 14% (8.268).

O Ministério da Educação justificou que a queda no número de concluintes se deve aos processos de supervisão e fechamento de vagas por parte da pasta. O órgão informou que 97% dos estudantes que deveriam ter concluído os estudos e não o fizeram pertenciam a 14 instituições.

Preocupante

Para Daniel Cara, coordenador-geral da Campanha Nacional pelo Direito à Educação e colunista do UOL, o recuo é preocupante, pois evidencia sérios problemas no ensino superior.

Na opinião de Cara, uma hipótese que explica o menor número de concluintes é que os estudantes têm tomado consciência da baixa qualidade. Por isso, eles abandonam o curso ou trancam a matrícula antes do seu fim.

Para ele, a ausência de regulação mais eficaz impede que os estudantes possam ter acesso a uma graduação de qualidade. “Ao mesmo tempo em que o MEC está certo ao dizer que precisa fazer regulação [para garantir a qualidade dos cursos], ele não faz isso dentro do necessário na prática. O governo se preocupa com a expansão do ensino superior, mas não está garantindo a qualidade da formação dos estudantes”, afirma Cara.

O integrante do CNE (Conselho Nacional de Educação) Mozart Neves Ramos acrescenta: “É preciso ter consciência de que o investimento na democratização do acesso ao ensino superior não assegura a qualidade do ingressante ou do curso”.

“O MEC tem sido muito rigoroso com a autorização dos cursos, tem todo um zelo principalmente nos cursos EAD [ensino a distância], mas não sei se o percurso é acompanhado com mesmo ritmo de vigor do processo de abertura”, afirma Ramos, que também é diretor do Instituto Ayrton Senna.

Falta de dinheiro

O fato dos estudantes das instituições de ensino privadas não terem dinheiro para pagar as mensalidades dos cursos pode ser outro fator para justificar a queda de formandos.

“O valor das mensalidades andou subindo mais do que a inflação no ano passado. Além disso, o custo de vida aumentou muito nos últimos tempos”, explica o professor João Cardoso Palma Filho, da Unesp (Universidade Estadual Paulista) e membro do CEE-SP (Conselho Estadual de Educação de São Paulo).

No entanto, Palma faz uma advertência: para compreender melhor os motivos dessa queda, é preciso comparar os dados do Censo da Educação Superior com informações relacionadas à evasão universitária, ao índice de repetência e aos dados econômicos do aluno.
 
 
“O MEC junto com as instituições de ensino vão precisar observar melhor essas mudanças. É um ponto a ser observado no próximo ano [quando o Censo da educação superior for novamente publicado]”, diz Ramos.