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Professor une suas duas paixões, o rock e a física, em suas aulas

Black Sabbath, Queen, Byrds, Yes e até Mutantes e Novos Baianos servem como material pedagógico em aulas de astronomia e física moderna - Arquivo pessoal
Black Sabbath, Queen, Byrds, Yes e até Mutantes e Novos Baianos servem como material pedagógico em aulas de astronomia e física moderna Imagem: Arquivo pessoal

Thiago Varella

Do UOL, em São Paulo

10/10/2014 08h00

Em 1969, o inglês David Bowie surgiu no cenário musical com a odisseia do major Tom, um astronauta que dizia que "a Terra é azul, e não há muito que eu possa fazer". Mais de 40 anos depois, a canção é apresentada em sala de aula, pelo professor de física Emerson Gomes, no 3º ano do Ensino Médio do colégio E.E. Dr. Gaspar Ricardo Junior, em Iperó, interior de São Paulo

Aliás, não só Bowie. Black Sabbath, Queen, Byrds, Yes e até Mutantes e Novos Baianos servem não apenas para mostrar um novo universo cultural aos estudantes, mas, principalmente, como material pedagógico em aulas de astronomia e física moderna.

"O estudante não precisa apenas se preparar para o vestibular. A grade curricular do 3º ano me permite utilizar o rock como material paradidático", afirmou o professor. "Bowie e sua música Space Oddity trata a corrida especial com um tom crítico e de sarcasmo. Outras canções como Astronomy Domine, do Pink Floyd, descrevem corpos celestes", completou.

professor ensina física com músicas de rock - Arquivo pessoal - Arquivo pessoal
Emerson Gomes usa rock para ensinar física a seus alunos do ensino médio
Imagem: Arquivo pessoal

Desta maneira, o professor Gomes consegue misturar em sala de aula suas duas paixões: o rock e a física. A ideia começou com uma pesquisa, que acabou se tornando seu projeto de doutorado, atualmente em andamento na Universidade de São Paulo (USP).

O professor pesquisa como trabalhar com diferentes produtos culturais em sala de aula. No mestrado, Gomes usou a literatura. Mas, sua relação com o rock é antiga. O professor teve banda na adolescência e adora heavy metal. Isso o levou a estudar a relação entre o rock e a astronomia, e como aplicar isso para os alunos do ensino médio.

"Eu levo a canção e a letra para que eles acompanhem. Muitos estranham o som, já que a maioria está acostumada com funk e sertanejo universitário. O estranhamento funciona bem para a didática. O aluno fica incomodado com aquilo e acaba se interessando mais. A curiosidade aguça o conhecimento", explicou.

Claro que o professor não utiliza o rock em todas as aulas. No ano inteiro, ele faz três atividades com música. E todas elas fazem muito sucesso. Como parte de sua pesquisa de doutorado, seu projeto deve chegar a escolas de São Miguel Paulista, zona leste de São Paulo.

"Principalmente quem não é muito fã de exatas acaba gostando mais. Os alunos simulam air guitar e querem conhecer mais da matéria e das bandas", contou.

Em sua tese, o professor se inspira na teoria sociocultural desenvolvida pelo pedagogo francês Georges Snyders, que considera que a música aproxima os alunos do conhecimento científico.

"O rock faz um discurso crítico da sociedade e é importante o aluno fazer, na escola, uma análise crítica do mundo. O estudante tem de ter um espaço para dialogar, para sair um pouco daquele ensino hermético do passado. E é isso que eu tento proporcionar", explicou.

Paraná

O professor de história Ramon Dimbarre, de Ponta Grossa, no Paraná, também acredita que o rock pode ser utilizado como material paradidático em sala de aula. Seu projeto de graduação foi sobre o heavy metal.

"O heavy metal pode, por exemplo, ajudar o aluno a entender as mudanças ocorridas na Inglaterra na década de 1970. O Black Sabbath em suas canções mostram a insatisfação da sociedade", explicou.

No entanto, ao contrário de seu colega paulista, Dimbarre ainda não conseguiu levar seu projeto de pesquisa para a prática. Após ter se formado, o professor não conseguiu emprego como professor.

"Consegui levar o heavy metal para a sala de aula quando eu era estagiário. Meu sonho agora é colocar meu projeto em prática. Os colégios, principalmente os mais tradicionais, ainda têm muito preconceito com as tribos urbanas como os headbangers ou os punks. Quero acabar com isso", contou.