Nobel da Paz, Malala vira 'porta-voz' de meninas sem acesso à escola
Quando Malala Yousafzai, 17, discursou na ONU (Organização das Nações Unidas) em julho de 2013, ela silenciou a plateia com uma fala em defesa da educação, em especial para as 65 milhões de meninas que não tem acesso à escola. Era a primeira vez que ela falava desde que foi baleada em 2012 por talibãs no Paquistão.
“No dia 9 de outubro de 2012, o talibã atirou no lado esquerdo da minha testa. Eles atiraram nas minhas amigas também. Pensaram que as balas nos silenciariam, mas eles falharam. E desse silêncio surgiram milhares de vozes.”, disse.
Depois do atentado, da emocionante recuperação e do discurso na ONU, Malala foi anunciada em outubro deste ano como a ganhadora, ao lado do indiano Kailash Satyarthi, do prêmio Nobel da Paz. Se já era um símbolo de luta, assumiu também a posição importante de dar visibilidade às meninas que não conseguem frequentar a escola por motivos religiosos, culturais, políticos, entre outros, em muitas partes do mundo.
Malala
Os extremistas estavam e estão assustados com livros e lápis. O poder da educação os assusta. Eles estão com medo das mulheres. O poder da voz das mulheres os assusta.
“Uma das coisas mais importantes da história da Malala é contar ao mundo que meninas, em muitos lugares, têm vidas difíceis, mas que elas estão exigindo os seus direitos”, afirma Gulalai Ismail, fundadora da organização não-governamental Aware Girls, que atua na promoção do acesso de meninas à educação e na formação de lideranças femininas no Paquistão.
Dois terços dos 774 milhões de analfabetos no mundo são mulheres. No Paquistão, onde Malala e Gulalai nasceram, 62% das meninas pobres de 7 a 16 anos nunca foram à escola.
“Os extremistas estavam e estão assustados com livros e lápis. O poder da educação os assusta. Eles estão com medo das mulheres. O poder da voz das mulheres os assusta. E, por isso, mataram 14 alunas inocentes no recente ataque em Quetta, por isso mataram professores em Khyber Pakhtunkhwa, e é por isso que estão explodindo escolas a cada dia, porque estavam e estão assustados com a mudança e com a igualdade que vamos trazer para a nossa sociedade”, disse Malala durante o seu discurso na ONU.
Segundo dados da Unesco, educação é a chave para que mulheres combatam a discriminação. “Meninas e mulheres jovens instruídas têm maior consciência dos seus direitos e mais confiança e liberdade para tomar decisões que afetam as suas vidas”, diz um relatório da organização divulgado em 2013. Ir à escola é uma das formas mais eficazes de evitar o casamento infantil e a gravidez precoce.
“Ela [Malala] é uma voz maravilhosa. É uma voz incrível pelas garotas de vários países”, diz Safeena Hussain, diretora executiva da Educate Girls. A organização não-governamental visa melhorar o acesso e a qualidade da educação para meninas que vivem em comunidades pobres da Índia.
*A jornalista viajou a convite do Wise (World Innovation Summit for Education), da Fundação Qatar
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