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Com livros contaminados por DDT, funcionários fecham biblioteca na USP

Biblioteca da FFLCH ficará fechada a partir de segunda-feira (23) porque livros do acervo doado à instituição estão contaminado com inseticida - Alex Falcão/Futura Press
Biblioteca da FFLCH ficará fechada a partir de segunda-feira (23) porque livros do acervo doado à instituição estão contaminado com inseticida Imagem: Alex Falcão/Futura Press

Marcelle Souza

Do UOL, em São Paulo

20/02/2015 19h18Atualizada em 21/02/2015 08h07

Os funcionários da Biblioteca Florestan Fernandes, da FFLCH-USP (Faculdade de Faculdade de Filosofia, Letras e Ciências Humanas da USP), começam na segunda-feira (23) uma paralisação em protesto contra a manutenção no local de 9.200 livros que estão contaminados com produtos tóxicos. A direção afirma que os volumes do acervo têm valor bibliográfico "inquestionável".

Segundo laudo do IPT (Instituto de Pesquisas Tecnológicas), livros do acervo doado à FFLCH estão contaminados com substâncias tóxicas, entre elas o DDT --um inseticida proibido em todo o país desde 2009 por fazer mal à saúde-- e seus derivados.

“Eu tive várias manchas pelo corpo, que coçavam muito. Também tive muitas dores no corpo, os médicos não sabiam o que era, e fiz vários exames para detectar câncer, que é uma das coisas que esses produtos fazem com o corpo do ser humano”, diz uma funcionária que não quis se identificar.

O Sintusp (sindicato dos funcionários da USP) diz que os primeiros sintomas começaram a ser relatados em março do ano passado, entre eles dores de cabeça, no corpo, náusea, sangramento do nariz, dor de garganta, inchaço dos olhos, vermelhidão e coceira no corpo.

O Sindicato dos trabalhadores da USP vem denunciar publicamente uma situação da maior gravidade, em uma das principais bibliotecas da Universidade de São Paulo, nesta sexta-feira (20). Há quase um ano sabe-se que um acervo doado à Biblioteca Florestan Fernandes, ligada à Faculdade de Filosofia, Letras e Ciências Humanas, está contaminado por DDT, DDD e DD. Se o acervo não for retirado da biblioteca até o dia 23 de fevereiro, não entrarão mais, paralisando o funcionamento. - Alex Falcão/Futura Press/Estadão Conteúdo - Alex Falcão/Futura Press/Estadão Conteúdo
Imagem: Alex Falcão/Futura Press/Estadão Conteúdo

Os funcionários dizem que imediatamente avisaram a direção da biblioteca e da FFLCH dos sintomas que teriam sido causados pelo pó branco (DDT) depois que os livros foram doados à unidade. “A direção sabe desse problema há um ano. Primeiro foram os alunos, monitores, que relataram problemas de saúde, depois foram os funcionários. Nada foi feito. Na minha seção, todos ficaram doentes na mesma época, com sintomas parecidos, como dor de cabeça, vômito e alergia. Não é coincidência”, diz uma funcionária.

Ela afirma que os livros doados estão no segundo piso da biblioteca, separados apenas por um tapume do resto do acervo.

“Isso gera grande insegurança, pois não há como garantir que essa substância, um pó branco, não tem potencial dispersivo e que não esteja sendo espalhado por ventiladores e ar-condicionado, contaminando toda a biblioteca”, afirma a nota divulgada pelo sindicato na quinta (19).

“A paralisação é pelo envio desses livros para um local seguro, pela preocupação também com os milhares de estudantes que voltam à faculdade nessa semana [as aulas na USP começam no dia 23], para que não se deixe chegar mais uma vez a uma situação dramática como aconteceu em outros casos”, afirma Bruno Rocha, diretor do Sintusp, em referência à contaminação da USP Leste.

Contaminação

Em nota, a direção da FFLCH diz que os livros foram higienizados em 2013 e em abril de 2014 foi identificado um pó branco em cinco livros do acervo. Assim que tomou ciência, diz no texto, providenciou avaliações de saúde dos funcionários que apresentaram sintomas.

“Não temos até o momento como avaliar a extensão desses agentes químicos em toda a coleção, razão pela qual o termo, corrente nos documentos sindicais, de ‘contaminação do acervo’ não pode ainda ser cientificamente confirmado”, diz a direção em nota.

O texto ainda informa que nenhum especialista “recomendou retirada da coleção do espaço em que se encontra ou apontou para o risco de contaminação da biblioteca a partir das atuais condições de acomodação”.

A direção afirma que não dispõe de outro local para transferir o acervo, o que é pedido pelos funcionários, e que já foram aprovados recursos para que a coleção seja higienizada por uma empresa terceirizada. Não há data, porém, para que o serviço seja realizado.

A biblioteca ficará fechada, segundo os funcionários, por tempo indeterminado a partir de segunda-feira (23).