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Alojamento da UFRJ tem infestação de ratos e baratas e superlotação

Maria Luisa de Melo

Do UOL, no Rio de Janeiro

10/04/2015 11h41

Ratos, baratas e cupins por todos os lados, infiltrações, emaranhado de fiação à mostra, pisos destruídos, e teto faltando pedaços do forro. Assim funciona o alojamento para estudantes de graduação da UFRJ (Universidade Federal do Rio de Janeiro). O estado de má conservação dos quartos lembra as construções totalmente insalubres retratadas em “O Cortiço”, no final do século 19, pelo escritor Aluísio Azevedo.

Apesar de parecer um prédio abandonado, o alojamento abriga hoje mais de cem alunos que vieram de outros Estados para estudar na cidade universitária.

“Quando os ratos invadem os quartos de madrugada, é um alvoroço. É pela cozinha que entra a maior parte dos bichos. Mas o banheiro também está com o forro destruído e cheio de vazamentos. Já chamamos a equipe de manutenção do campus, mas na maior parte das vezes somos ignorados. Quando os funcionários começam algum serviço de reparo, normalmente não terminam”, reclama a estudante Carolina Muniz, 20. Ela deixou a cidade fluminense de Armação de Búzios para se dedicar ao curso de letras na UFRJ.

'Gente, entrou um rato no meu quarto'

Mais adiante, três estudantes dividem um único quarto. Apenas um deles tem, oficialmente, o direito de ocupar o alojamento. Os outros dois acabaram acolhidos pelo colega. Além do quarto, o trio divide também um guarda-roupas infestado de cupins.

“Já cansamos de pedir melhorias, mas não adianta. Só queremos viver com dignidade. Os ratos não param de aparecer, apesar de a reitoria dizer que faz desratização. A nossa solução para combatê-los tem sido os gatos que estão sendo criados no alojamento mesmo sem permissão. Além disso, muitos alunos espalham feijão moído pelos cômodos” conta o baiano Lucas Gomes, 18 anos, que cursa gastronomia. O feijão, segundo ele, funciona como uma espécie de veneno natural contra os roedores. O organismo dos ratos não digere o feijão cru e eles acabam mortos pela fermentação do alimento.

“Para piorar mais ainda a nossa situação, agora também temos infestação de cupins. Estamos totalmente abandonados, apesar de estarmos dentro de uma universidade federal. Antes de conseguir um quarto no alojamento, eu dormi durante dois meses em uma barraca no hall. Vim da Bahia para estudar no Rio, mas não tive condições de pagar aluguel. A UFRJ precisa ampliar o alojamento para dar condições mais dignas aos seus alunos”, completa.

Muitas janelas dos quartos não têm vidros, e pedaços de papelão são usados para proteger o quarto em dias de chuva.

As portas das cozinhas dão a tônica do desespero dos alunos para se manter livre dos roedores. "Porta sempre fechada por causa dos ratos", diz um bilhete fixado por um aluno.

Em um grupo criado em uma rede social, os moradores pedem ajuda quando os indesejáveis roedores aparecem. Há relatos até de ratazanas encontradas na cama de alunos.

"Gente, entrou um rato no meu quarto. Como devo proceder?", questionou uma estudante, que teve que passar a noite no quarto vizinho por não ter conseguido se livrar do roedor.

Superlotação

Estudante de ciências sociais, Jackline Joplin, 21, critica a superlotação do alojamento e cobra a ampliação do número de vagas.

“Já morei num quarto com outras cinco pessoas, tudo bem apertado. Eu e outras meninas fomos acolhidas pela dona do quarto. O fato é que com o Sisu (Sistema de Seleção Unificada) aumentou muito o número de alunos de outros Estados na UFRJ, mas o alojamento não acompanhou isso. É preciso aumentar o número de vagas”, diz a mineira.

Também morador não-oficial, Hércules Silva conta que durante um ano pagou aluguel numa vila próxima ao campus. Com o fim de sua bolsa permanência, no entanto, teve que recorrer ao alojamento universitário.

“Não vejo a hora de terminar a faculdade e voltar para Minas Gerais. Só moro no alojamento, porque não tenho outra saída”, diz o estudante de química industrial.

UFRJ promete obras e ampliação

A reitoria da UFRJ informou que o alojamento masculino visitado pelo UOL entrará em obras no segundo semestre deste ano. A previsão inicial é de que a obra fique pronta até agosto do ano que vem.

Já o alojamento feminino, esvaziado em março do ano passado para reforma, deve ser entregue em agosto deste ano. Nele haverá 256 vagas, além de camas, estantes, fogão elétrico e até geladeira.

Sobre a infestação de roedores, a assessoria informou que a última desratização foi feita há três semanas.

Ainda segundo a assessoria, houve incremento do número de alunos de outros Estados nos últimos anos. Em 2010, apenas 1% dos alunos era de outros Estados. Este ano, o percentual chega a 22%.