Topo

Beijaço marca audiência sobre ideologia de gênero em escolas de Campinas

Manifestantes protestam realizando beijaço durante uma audiência pública em Campinas - Pedro Amatuzzi/Código19
Manifestantes protestam realizando beijaço durante uma audiência pública em Campinas Imagem: Pedro Amatuzzi/Código19

Fabiana Marchezi

Do UOL, em Campinas (SP)

01/06/2015 19h13

Um beijaço, organizado por movimentos sociais e de direitos humanos, e muito tumulto marcaram na tarde desta segunda-feira (1°) a audiência pública realizada na Câmara de Vereadores de Campinas (a 93 km de São Paulo) para discutir um projeto do vereador Campos Filho (DEM) que veta a ideologia de gênero dentro das escolas do município.

Após um princípio de confusão, a Guarda Municipal foi chamada para acalmar os manifestantes. O objetivo do beijaço foi protestar contra a proposta e também contra a postura considerada homofóbica de alguns vereadores, na semana passada, durante outro debate sobre o mesmo assunto.   

Na ocasião, a discussão foi marcada por discursos de ódio e trocas de ofensas entre grupos favoráveis e contra a aprovação da lei. Na tribuna, vereadores que defendem o projeto fizeram declarações homofóbicas e chegaram a mandar os manifestantes para o “inferno”.

“Esse protesto quer dar visibilidade e mostrar nossa indignação perante o que aconteceu na semana passada e perante essa emenda da opressão. O discurso dos vereadores ignora a diversidade. Para eles, é como se a diversidade não existisse ou fosse de outro mundo”, disse Carolina Figueiredo Filho, representante do Coletivo Feminista Rosa Lilás, uma das entidades que organizam o ato.

“A diversidade existe e é parte importante na construção da democracia e de políticas públicas”, completou a representante. Segundo a ideologia de gênero, proposta no PNE (Plano Nacional de Educação), o homem e a mulher não diferem pelo sexo, mas pelo gênero, que não possui base biológica. Agora, cabe aos municípios decidirem sobre isso em seus planos de educação.

"Trata-se de uma ideologia perigosa para casais e filhos, e que tenta impor uma situação que só existe na cabeça de alguns”, defendeu o vereador autor da proposta.

A travesti Amara Moira, representante do Coletivo Identidade, disse que o projeto não se justifica pelo fato de a escola ser um lugar de transformação da sociedade. "A criança tem o direito de aprender. A família geralmente é um dos lugares mais agressivos para os homossexuais, que são agredidos pelos próprios pais. Não podemos deixar que as crianças sejam influenciadas só por esses pais”, disse.

Já para Simone Novaes, advogada e ex-chefe da Procuradoria da Câmara de Campinas, o papel da escola é promover o respeito. “A escola deve promover o respeito, independentemente de qualquer coisa. Mas a ideologia de gênero precisa ser pensada em casa”, opinou. 

“Como cabe o ódio num discurso de gente religiosa, que acredita num Deus que é amor, que diz acreditar na família. Família é cuidado, carinho e responsabilidade. Não interessa se são duas mulheres, dois homens, uma mãe solteira. O importante é o carinho, o amor e o cuidado entre os membros da família. Lutamos pela igualdade de gêneros. As crianças precisam aprender desde cedo nas escolas noções de respeito, dignidade e cidadania”, discursou a ativista Pilar Guimarães, Coletivo das Vadias.

Após a exposição de ideias de todos os inscritos na sessão desta segunda, a audiência terminou em meio a muitas vaias e gritaria. Um novo debate público deve ser marcado pela Câmara nos próximos dias.

Debate anterior

Na semana passada, durante as discussões, os manifestantes viraram de costas para o vereador Jorge Schneider (PTB) e ouviram como resposta: "é o que eles mais sabem fazer: ficar de costas." O vereador disse ainda que não poderia aceitar que uma minoria tivesse voz.

Já o parlamentar Cid Ferreira (SD) usou frases dizendo que Deus e o diabo estavam presentes na discussão. "Nós vamos para o céu e vocês para o inferno", disse aos ativistas.