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Professores usam canoa para chegar à escola em povoado no Maranhão

Tássia Aguiar/Sindeducação
Imagem: Tássia Aguiar/Sindeducação

Aliny Gama

Do UOL, em Maceió

26/06/2015 14h35Atualizada em 26/06/2015 15h52

Professores e estudantes da Unidade de Educação Básica Nossa Senhora das Mercês, localizada no povoado de Jacamim, entre o estreito dos Coqueiros e a ilha de São Marcos, zona rural de São Luís (MA), estão sendo obrigados a usarem canoas para chegarem à escola todos os dias.

O acesso à escola é feito exclusivamente por embarcações e a lancha da prefeitura de São Luís para transporte escolar está sem funcionar desde o ano passado. Sem alternativa, professores e alunos são obrigados a pegarem canoas de barqueiros particulares que sequer têm coletes salva-vidas.

Segundo o Sindeducação (Sindicato dos Profissionais do Magistério da Rede Municipal de São Luís), a travessia custa R$ 1 por pessoa e como nem todos têm condições de pagar o transporte, a escola está com evasão escolar. A escola tem capacidade para atender a 200 estudantes, mas atualmente conta com apenas 85 matrículas.

Além da maratona em cima de canoas para atravessar o estreito, professores e alunos contam que têm de percorrer 10 km a pé para chegar à escola. O sindicato contou que existe um ônibus escolar, mas ele tem a capacidade para levar apenas 16 estudantes no percusso por terra que é feito ao final da travessia do estreito.

“Nada disso seria um problema se a prefeitura de São Luís, no mero cumprimento de seu papel, disponibilizasse transporte adequado para a comunidade escolar. Porém, seguindo a linha de descaso adotada em todo o âmbito educacional público do município, o acesso à unidade é limitado e gera problemas graves como a evasão escolar”, diz o sindicato.

Por conta das dificuldades de acesso e o alto custo do transporte as aulas estão sendo ministradas três vezes por semana - às segundas, terças e quartas-feiras pela manhã e às terças, quartas e quintas-feiras no período da tarde. As salas de aulas são multisseriadas – com alunos de diferentes séries e idades ocupam o mesmo espaço e dividem o mesmo professor. Além disso, o ano letivo de 2014 só foi concluído em abril de 2015, isto porque, segundo o sindicato, o ano passado teve apenas 48 dias letivos.

“Como falar em igualdade de oportunidades diante de um cenário tão lastimável? A educação oferecida a essas crianças não passa de faz-de-conta. Incompetência administrativa não justifica toda essa calamidade. A conduta do prefeito de São Luís e do secretário de educação diante dessa comunidade é desumana”, critica a presidente do Sindeducação, professora Elisabeth Castelo Branco.

A estrutura da escola também está com problemas e põe em risco a vida de quem utiliza o local. “A caixa d’água ameaça cair, as janelas são cobertas com palha para proteger as turmas de sol e chuva, há rachaduras e cupim por todo lado e, ainda, esgoto a céu aberto”, denuncia o sindicato.

A Semed (Secretaria Municipal de Educação) explicou, nesta sexta-feira (26), que a lancha escolar está temporariamente sem funcionar porque precisou ter o serviço interrompido para troca de cabos. Porém, a secretaria não informou quando a lancha voltará a funcionar. A secretaria disse ainda que mantém um ônibus escolar na ilha para garantir a chegada de professores e estudantes à sala de aula.

“A secretaria reforça que está trabalhando no processo de manutenção e requalificação estrutural das unidades de ensino, que a U.E.B. Nossa Senhora das Mercês receberá os serviços necessários, e que dias letivos perdidos são repostos mediante calendário suplementar elaborado pela Semed após diálogo com a comunidade, professores e gestão escolar”, informou a prefeitura de São Luís.