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UFRJ pode não ter dinheiro para honrar compromissos a partir de setembro

Vinícius Lisboa

Da Agência Brasil, no Rio de Janeiro

06/07/2015 10h54Atualizada em 07/07/2015 10h48

O acúmulo de dívidas na Universidade Federal do Rio de Janeiro ao longo deste ano, de mais de R$ 115 milhões, pode resultar em uma situação em que não será mais possível honrar todos os pagamentos a partir de setembro, disse o novo reitor da instituição, Roberto Leher, que tomou posse na sexta (3).

"As dívidas estarão se avolumando. Vai chegar um momento do ano, provavelmente a partir de setembro, em que as dívidas que estão se acumulando no primeiro semestre, hoje superiores a R$ 115 milhões, criarão uma situação em que a universidade já não será mais capaz de honrar todos os seus pagamentos", alertou. "Diante de um quadro como esse, estamos fazendo um imenso esforço para reduzir gastos, como o consumo de energia, mas será impossível cobrir um déficit superior a R$ 115 milhões."

O reitor disse que a saída para essa situação é que o Ministério da Educação (MEC) repactue o orçamento das universidades federais e observe suas particularidades. No próximo dia 14, a reitoria da UFRJ terá uma reunião com o MEC para tratar dessas questões. Leher disse que espera compreensão e ressaltou que a universidade tems problemas financeiros, não por ser perdulária e gastar de forma indevida.

"Estamos com instalações muito degradadas, e investimentos públicos muito importantes foram feitos para conclusão de prédios públicos inacabados. O povo brasileiro aloca muitos recursos nas suas universidades federais, e não podemos falhar naquilo que a população espera de nós, que é a pesquisa rigorosa e o ensino de qualidade, porque está faltando concluir restaurante universitário ou alojamento", afirmou Leher.

Ele criticou o investimento em programas como Financiamento Estudantil, que, segundo ele, teve um orçamento de R$ 13,5 bilhões em 2014, mais que os R$ 9 bilhões investidos na expansão das universidades federais entre 2007 e 2014. O reitor argumentou que, cumprindo os compromissos com os alunos já matriculados, o governo deveria realocar recursos para as instituições públicas.

"Com uma ordem de grandeza dessa, num espaço de cinco anos estaríamos ofertando um número maior de matrículas que o sistema Fies e não teríamos dúvidas de que as matrículas seriam em instituições muito mais comprometidas com o conceito de formação integral dos estudantes e com as atividades de ensino, pesquisa e extensão", acrescentou Leher.

No discurso de posse, o reitor falou também sobre a terceirização na universidade, que classificou de "nefasta". Ele destacou que, de 2010 a 2014, houve aumento de 870 funcionários terceirizados para 5 mil servidores. Para ele, o ideal é o que o MEC volte a possibilitar a abertura de concurso público para cargos como faxineiro, vigilante e técnico de laboratório. Leher disse ainda que pretende criar um processo seletivo para contratação temporária de profissionais. "É preciso que haja concurso para tais servidores, de modo que a universidade assuma para si esse pessoal e insira no seu planejamento estratégico a formação deles."

Roberto Leher tem 54 anos e é professor titular da Faculdade de Educação e do Programa de Pós-Graduação em  Educação da UFRJ. É graduado pela própria UFRJ em Ciências Biológicas em 1984 e tem mestrado em educação pela Universidade Federal Fluminense e doutorado em Ciências Biológicas pela Universidade de São Paulo. Leher foi eleito para um mandato que termina em 2019 e terá como vice-reitora a professora Denise Nascimento, da Faculdade de Odontologia.

Em nota, o Ministério da Educação informou que já discutiu com todos os reitores o Orçamento 2015. "Da mesma forma, o secretário de Educação Superior está se reunindo com todos os reitores para análises especificas da situação de cada Instituição. O recém- empossado reitor da UFRJ ainda não se reuniu com o secretário. Entendemos ser esse o fórum apropriado para as discussões dos assuntos da Instituição", acrescentou a nota.