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Estudante compõe sátira ao machismo e bomba na internet

Aline Torres

Do UOL, em Florianópolis

15/07/2015 21h42

Na conversa de bar de um grupo de alunas de jornalismo da UFSC (Universidade Federal de Santa Catarina), um assunto prevaleceu: o machismo vosso de cada dia. Naquela noite, Manuela Tecchio, 20 anos, chegou em casa sem sono, pegou o violão e compôs “A louca”. Após 22 dias de exibição no soundcloud, plataforma de áudios, a canção atingiu 92.083 reproduções e uma certeza: outras mulheres, mais que uma identificação com a letra, buscam mudanças.

Foi isso o que Manuela percebeu nos dias correntes, quando a questão começou a ser discutida e compartilhada nas redes sociais e debatida, principalmente, dentro do curso de jornalismo.

“Nossa profissão é muito machista. Desde as pressões estéticas para ser a apresentadora do telejornal até a entrada na faculdade. Os trotes das meninas são opressores, as calouras dançam em cima de cadeiras e são leiloadas. Já quando a gente começa a praticar a criação de jornais, ouve dos professores ‘tira essa feia e coloca uma gostosa na capa’ e por aí vai”, diz.

Foi para buscar um espaço mais justo na universidade que Manuela e outras várias alunas fundaram no final do ano passado o coletivo "Jornalismo sem Machismo". O coletivo é o gatilho de muitas conversas que alicerçaram as observações descritas em “A louca”.

Manuela diz que aprendeu com mãe a sempre buscar sua voz e seu espaço. A voz descobriu cedo. Aos 10 anos já cantava em festivais de CTG (Grupo de Tradições Gauchescas), que foram substituídos por festivais de MPB e Rock. Aos 15 anos tocava violão e criava as próprias músicas. O espaço ainda é batalhado. “O que mais me incomoda é quando minha fala é desqualificada pelo meu gênero. Quando, por exemplo, sugiro uma pauta para um professor e ele é indiferente, mas quando um aluno sugere, ele a acha genial”, explica.

Segundo a estudante, seu feminismo não é teórico, mas inspirado no cotidiano, em práticas que subjugam as mulheres, "ultrapassadas e descartáveis".