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Segredo é persistir, dizem alunos de cursinho popular aprovados na UnB

Professora Priscilla Dalledone, Antônio, Édla e Jane (da esq. para dir.) - Arquivo pessoal
Professora Priscilla Dalledone, Antônio, Édla e Jane (da esq. para dir.) Imagem: Arquivo pessoal

Jéssica Nascimento

Do UOL, em Brasília

22/07/2015 13h40

Em abril deste ano, jovens de baixa renda compartilharam suas histórias e o sonho de conseguir a aprovação na UnB (Universidade de Brasília). Com esforço diário e aulas gratuitas no cursinho popular GALT – criado por ex-alunos da instituição – 14 estudantes foram aprovados em cursos concorridos como arquitetura e urbanismo, medicina veterinária, estatística e engenharia.

“Estudar em escola pública não é desculpa para não tentar a UnB”, disse a aluna aprovada Edlla Souza, 18. A jovem já cursava filosofia pela UnB, porém, o seu grande desejo era estudar arquitetura e urbanismo. Conseguiu.

Para alcançar o objetivo, Edlla deixou a família em Valparaíso (GO) e foi morar na casa de amigos no DF durante a semana. “Minha rotina era pesada. Para ficar mais perto da escola, acabei me mudando, mas depois voltei para casa e o cansaço triplicou. Chegava em casa 23h30 e minha mãe me buscava todos os dias a pé. Tinha peso na consciência se eu acordasse tarde. Então, me levanta às 4h da manhã para estudar”, conta.

Quando viu o nome na lista dos aprovados, a jovem diz que o sentimento foi de dever cumprido. Segundo ela, o próximo passo é terminar a faculdade, conseguir um bom emprego e retribuir tudo o que a mãe fez. “É preciso ter esforço para conseguir o que quer. Deixei de fazer muitas coisas que gostava para estudar. Valeu muito a pena”, disse.

Antônio Emanuel, 18, já pensa no mestrado e doutorado que fará daqui a alguns anos. O morador de Samambaia foi aprovado em engenharia e se emociona ao falar das dificuldades que passou para conseguir uma vaga.

“Saía de casa às 6h da manhã e chegava por volta de meia-noite todos os dias. Ia para o meu trabalho onde sou menor aprendiz, depois ia para Biblioteca Nacional e, por fim, para o cursinho. Quando o ônibus passava no horário conseguia chegar mais cedo em casa. Mesmo assim, sempre estudava depois meia hora para a matéria fixar na memória”.

O importante é não desistir

O jovem Antônio conta que muitas pessoas disseram que a UnB era apenas para estudantes que tinham boas condições financeiras. Entretanto, não deu ouvidos. “Meu pai é pedreiro e minha mãe dona de casa, moramos de aluguel e nada disso me impediu de ser aprovado. Foi preciso acreditar que eu era capaz, foi preciso esforço e dedicação e eu consegui. Agora quero também ajudar outras pessoas a acreditarem na educação”, diz.

Jane Oliveira, 18, é a primeira da família a cursar uma faculdade federal. Ela foi aprovada na primeira chamada para o curso de estatística. “O importante é não desistir. Estudei muito e sacrifiquei toda a minha vida social. Festas nem existiam no meu vocabulário, repassava a matéria de domingo a domingo”.

Mesmo sem condições financeiras, Jane sempre dava um jeito de aprofundar os estudos. Levava para casa alguns livros públicos que ficam disponibilizados nas paradas de ônibus. “Vitória fácil não tem graça. Vejo muitas pessoas não passando de primeira e simplesmente desistem. Tudo o que vale a pena é difícil e doí muito. O segredo é ser otimista e persistir muito”.

Rubenilson Cerqueira, 25, um dos idealizadores do cursinho, se orgulha do resultado. Dos 55 estudantes, 26 puderam prestaram o vestibular (os demais ainda estão no ensino médio). Somente na primeira chamada, 14 deles passaram, indicando assim, uma aprovação de 53,84%, explicou Cerqueira.

“Estamos extremamente orgulhosos pelo esforço dos nossos alunos. Sempre estudei em escola pública e sei das dificuldades que os alunos sofrem”.

Para frequentar o cursinho é preciso ter estudado em escola pública ou ser bolsista integral de um colégio particular. Após a inscrição, os estudantes participam de duas etapas: uma prova escrita com redação e uma entrevista.