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Para docente da Unesp alvo de racismo, ofensas são reação à inclusão

Juarez Xavier, professor da Unesp, que foi alvo de ofensas racistas escritas num banheiro da universidade - Cristiano Zanardi/Folhapress
Juarez Xavier, professor da Unesp, que foi alvo de ofensas racistas escritas num banheiro da universidade Imagem: Cristiano Zanardi/Folhapress

Fernanda Cruz

Da Agência Brasil, em São Paulo

29/07/2015 13h29

As pichações racistas feitas no banheiro masculino da Universidade Estadual Paulista (Unesp) na cidade de Bauru, interior do estado, são reação à política de inclusão implementada no campus, defende o professor de jornalismo especializado Juarez de Paula Xavier, que também foi vítima das ofensas. A universidade cria, amanhã (30), uma comissão para apurar o ocorrido.

“A avaliação que faço é que pode ter sido uma reação aos esforços que estamos fazendo de multiplicar a presença de outros grupos [negros, mulheres e homossexuais] na universidade”, disse o docente à Agência Brasil. Nos últimos dois anos, segundo ele, a universidade investiu na criação de coletivos femininos, negros e homoafetivos, além de adotar o programa de cotas sociais e raciais.

O estudante Pedro Borges, integrante do Movimento Negro, concorda que as pichações têm relação com o espaço que vem sendo conquistado por esses alunos. “A gente já sabia que essas ofensas iam aparecer. A tendência é que elas apareçam cada vez mais, na medida em que nós ocupamos esse espaço universitário, que não foi criado para nós [negros]”, declarou.

As pichações racistas surgiram em maior número na última quinta-feira (23), com insultos contra as mulheres negras, o coletivo afrodescendente e ao professor Juarez, que também é coordenador do Núcleo Negro Unesp para a Pesquisa e Extensão. “Escreveram Juarez macaco”, disse ele.

A comissão, que se reúne amanhã, será formada por dois docentes e um servidor administrativo para apurar informações como nomes, datas e horários que possam levar aos autores das pichações. Os responsáveis, caso sejam identificados, poderão receber advertência verbal ou serem até expulsos.

De acordo com Juarez, um dos membros da comissão já levantou a possibilidade de fazer exames grafológicos para ajudar na identificação dos pichadores. “Não sei se vamos avançar nessa direção, temo que isso possa ser uma ação invasiva. Nós contamos com a possibilidade de que o aluno se apresente ou que alguém envolvido possa dar alguma informação. Estou muito preocupado, tem que ter essa ação de caráter mais punitivo, foi cometido um crime”, declarou.

Alguns alunos chegaram a registrar Boletim de Ocorrência, mas o professor informou que aguarda a formação da comissão processante para que os crimes sejam registrados na polícia. O professor teme que as agressões aos alunos negros continuem crescendo, algo que vem sendo observado nos últimos anos.

“Pontualmente, há uma pichação no banheiro, uma piada no corredor. Todas as vezes que a gente conseguiu identificar, a gente sentou, conversou e falou. Mas, dessa vez, o que chamou a atenção foi que, além de ser massivo, foi uma intervenção por todo o banheiro, e que foi focado ao coletivo, ao núcleo negro da universidade, ao coordenador. Dessa forma não tínhamos visto ainda”, declarou.

Em nota, a Unesp reitera que “repudia as pichações racistas, considerando-as um ato contra o estado democrático de direito, a população afrodescendente e a política de inclusão adotada pela Unesp”. A universidade informou ainda que conta com um Grupo de Prevenção da Violência que atua na conscientização da comunidade e no fomento aos Direitos Humanos e com um Observatório de Educação em Direitos Humanos da Unesp.