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Mulher estuda em mesma sala de aula que filho em Santa Catarina

Arquivo pessoal
Imagem: Arquivo pessoal

Aline Torres

Do UOL, em Florianópolis

14/08/2015 14h06Atualizada em 14/08/2015 18h58

Aos 11 anos, Rosana Sangaletti largou a escola. Foi triste para a menina que gostava de estudar. Mas a situação da família não permitia que filho crescido não trabalhasse. Foi empregada doméstica, funcionária de granja, operária em fábricas de móveis e alumínios, e após 27 anos, voltou a ser aluna. Com uma coincidência: divide a sala de aula com o filho Paulo, de 13 anos. Eles estão matriculados na sétima série da Escola Estadual Barão do Rio Branco, em Urussanga (a 214 km de distância de Florianópolis).

Rosana tem 40 anos e há três voltou a frequentar a escola. Quando foi se matricular, em 2013, buscava pelo programa de Jovens e Adultos, mas nenhuma turma foi aberta. Então a direção a convidou para ter aulas com as crianças. Ela não hesitou.

“Essa situação seria o freio para muita gente, mas a Rosana veio decidida, se adaptou”, disse a coordenadora Joselane Vicentini.

O ajuste não foi simples, mas aos poucos ela se entrosou com a turma. “No começo eu tinha vergonha, mas perdi. Me sinto bem na escola, sinto como se preenchesse um vazio. Tem gente que me critica diz ‘tu trabalha tanto, porque não fica em casa dormindo?’, mas eu ignoro, faço por mim”.

A jornada de trabalho de Rosana é extensa. Após o almoço ela vai para fábrica de alumínios, chega em casa após a meia-noite, dorme, acorda às 6h, limpa a casa e vai para escola. “sou mãe, esposa, filha, dona de casa, funcionária e estudante. E isso não é fácil”, diz.

Também não foi fácil conviver com Paulo em sala de aula. Os dois são colegas há dois anos. “Meus amigos pegavam no pé”, explica o garoto. Mas, com o tempo ele se sentiu menos tenso e hoje tem liberdade de ter um grupo de amigos e a mãe, outro. O respeito à individualidade foi a fórmula encontrada para manter a boa relação entre mãe e filho.

Rosana também está diferente. “Ela era tímida, fechada, agora é outra mulher, desenvolta, participativa e uma defensora do seu direito de aprender”, diz Vicentini.