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Golpe do mestrado faz pelo menos 250 vítimas na região de Marília

Eduardo Schiavoni

Colaboração para o UOL, em Ribeirão Preto

04/09/2015 16h20Atualizada em 04/09/2015 16h39

Pelo menos 250 alunos e professores de Marília, Pompeia e Tupã, no noroeste de São Paulo, foram vítimas de um golpe. Eles fizeram matrícula em um falso curso de mestrado a distância, oferecido em suposta parceria com o governo federal, e pagaram a inscrição e a primeira mensalidade, só que, depois da primeira aula, constataram que a instituição de ensino não existe. Houve registro do caso na Polícia Civil, que apura. 

O prejuízo de cada uma das vítimas foi de R$ 400 e, além dos estudantes, professores contratados para lecionar e colégios particulares, que alugaram salas para os cursos, também foram enganados. As vítimas foram abordadas por uma suposta representante da Feessp (Faculdade Educacional de Ensino Superior de São Paulo), entidade que não tem registro no Ministério da Educação. Ela oferecia um curso de mestrado em educação que, graças a um convênio feito com o Ministério da Educação, sairia por R$ 200 mensais. O governo federal, de acordo com a proposta, arcaria com 75% do curso.

Segundo a Polícia Civil de Marília, Adriana Braga Dourado Ferri, que seria a responsável pelo curso na cidade, chegou a alugar salas, contratar 23 professores e até realizar uma cerimônia oficial de inauguração do polo regional da universidade, que contou com a presença de políticos e autoridades da área educacional na região. Em Pompeia, até o prefeito participou do evento. Ela também foi a responsável por mandar fazer um site com informações falsas sobre a instituição. O curso chegou a ser divulgado na imprensa regional, em matérias jornalísticas.

A professora Maria de Fátima Souza, de Pompeia, que caiu no golpe, conta que conhecia a coordenadora, que já havia realizado outros cursos na região. “Eu já fiz outros cursos à distância, e parecia que estava tudo normal. A instituição tinha um site, entregaram material didático. Eles fizeram uma farsa bem elaborada”, disse.

Segundo uma professora da rede municipal de Marília que se inscreveu no curso, políticos e autoridades participaram das aulas inaugurais e houve divulgação pela Internet. Além disso, o corpo docente era conhecido dos educadores das cidades e, segundo ela, composto por profissionais idôneos. “Eu pesquisei os professores, conhecia a maioria dos mestres e doutores e sabia que eram sérios e honestos. Acreditei", disse.

Depoimento

O delegado Amarildo Leal, responsável pela CPJ (Central de Polícia Judiciária) de Marília, informou que Adriana se apresentou espontaneamente para prestar esclarecimentos sobre o caso. “Ela disse que também foi vítima dos golpistas, já que fez uma parceria para captar alunos e ser a coordenadora local da instituição de ensino. Ela disse ainda que não sabia que a faculdade não existia e garantiu, ainda, que irá devolver o dinheiro de quem pagou”, disse. A reportagem tentou contato com ela, mas não conseguiu.

Segundo Danusa Alcades, socióloga e que trabalha há dez anos com oferecimento de cursos a distância na região de Marília, muitos de seus alunos chegaram a se inscrever no curso, mesmo contra a orientação dela. “Eu não encontrei registro da instituição que oferecia o curso e também desconfiei do valor e da modalidade. No Brasil só há mestrados a distância pela UAB (Universidade Aberta do Brasil). Mas, mesmo assim, muitas pessoas se inscreveram”, conta.

Ela não descarta, inclusive, que a versão dada à polícia por Adriana seja verdadeira. “Há muitos picaretas nessa área, e duvido que algum golpista coloque a cara dessa forma. É bem provável que a coordenadora não tenha checado os dados da instituição e tenha caído também no golpe”, disse.

Checagem

Danusa ressalta que, para evitar perder dinheiro em golpes, imprescindível que, depois que optar por um curso, o aluno consulte o Siaed (Sistema de Consulta de Instituições Credenciadas para Educação a Distância e Polos de Apoio Presencial), página mantida pelo Ministério da Educação que traz a lista de todas as instituições autorizadas pelo MEC a oferecer cursos a distância. O site deve ser acessado pelo endereço http://emec.mec.gov.br.

“Isso garante que, ao terminar o curso, você terá um diploma reconhecido pelo Ministério da Educação. Sem esse registro, o curso não existe e a chance de ser um golpe é grande. Além disso, vale a pena conferir se a instituição de ensino é credenciada na ABED (Associação Brasileira de Educação a Distância) que, embora seja pago e não obrigatório, é um selo de peso e dá muita credibilidade”, conta.