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Em Bom Jardim (MA), escolas não têm quadra, laboratório ou esgoto

Estudantes da Barra do Galego cruzam de barco o rio Pindaré para assistir aula no município vizinho - Blog Bom Jardim MA
Estudantes da Barra do Galego cruzam de barco o rio Pindaré para assistir aula no município vizinho Imagem: Blog Bom Jardim MA

Carlos Madeiro

Colaboração para o UOL, em Maceió

08/09/2015 20h53

O município de Bom Jardim (275 km de São Luís) ficou conhecido internacionalmente após a prefeita Lidiane Leite (sem partido) ter mandado de prisão expedido. Foragida há quase três semanas, ela é acusada de desvio de verbas da merenda e de reforma de escolas. Lidiane teve o mandato cassado pela Câmara no sábado (5). 

Segundo o Censo Escolar 2014, do Inep (Instituto Nacional de Estudos e Pesquisas Educacionais Anísio Teixeira), são 108 escolas municipais, onde estudam 11.035 estudantes. A grande maioria tem estrutura precária de funcionamento, onde faltam itens fundamentais.

Das 108 unidades, 20 não oferecem sequer água filtrada aos alunos. Apenas 39 têm abastecimento de água e seis têm esgoto ligados à rede pública. Treze delas sequer tem energia elétrica, e só 12 têm o lixo coletado periodicamente.

Os números são ainda menores quando o tema é estrutura. Só uma das 108 escolas tem quadra esportiva e nenhuma conta com laboratório de ciências. Apenas sete têm biblioteca, oito acessam internet e menos da metade (48) tem televisão.

Em Bom Jardim, só 8% dos alunos que saem do 9º ano para ingressar no ensino médio aprenderam o adequado em português. A taxa nacional é de 23% e no Maranhão, 11%. O índice é ainda mais dramático em matemática, quando só 2% dos alunos saem do ensino fundamental com aprendizado adequado.

Estrutura deficiente

A falta de estrutura é algo já conhecido e alvo de protesto dos professores. “Eu mesma ensino em uma escola emprestada, com oito turmas que funcionam em uma escola do Estado, que não tem água encanada. É preciso carregar água em baldes. E olhe que isso é na sede [zona urbana]”, conta a presidente do Sindicato dos Professores de Bom Jardim, Elisângela Rodrigues.

Em abril e maio, os professores da rede municipal fizeram greve por 21 dias para pedir a implantação do piso nacional, compra de merenda escolar e melhores condições de trabalho. “Conseguimos implantar o piso e fechamos um acordo que não foi cumprido, de abastecer as escolas com merenda. Ela até abasteceu, mas por pouco tempo. Lá na minha escola, por exemplo, tem arroz, feijão, mas não tem os temperos. As outras escolas nem isso. Então a gente despacha os alunos mais cedo, às 10h”, contou.

Segundo ela, a luta por melhorias é antiga e não começou na atual gestão de Lidiane. “Essa luta aqui mais de 10 anos. Desde o mandato anterior estamos lutando por uma para que possa ter escolas dignas”, explicou.

A situação das escolas também já foi alvo de denúncia do jornalista Rafael Gonçalves, que mantém um blog com notícias de Bom Jardim. “Na zona rural, fui em algumas localidades, e a realidade é pior. Tem aluno vendo aula debaixo de árvore. Em um povoado aqui, a 12 km, por exemplo, a população derrubou a escola em protesto para que fizessem uma nova. E as crianças tinham que atravessar o rio para estudar em Alto Alegre do Pindaré”, contou.

Segundo o novo secretário de Administração e Finanças de Bom Jardim, Nonato Marçal, as escolas devem passar por reformas em breve, mas a prioridade é comprar comida para retomar as aulas em horário cheio. 

“Não podemos comprar a merenda de qualquer forma e incorrer no mesmo erro de Lidiane. Vamos publicar um decreto de emergência, e cotar os preços com três empresas. Mas em cinco ou seis dias chagará a comida. Hoje, não temos outra opção, a não ser liberar os alunos mais cedo” afirmou.