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Alunos da USP "vendem" colares para ir à competição em Harvard

Equipe Protomatos em uma das reuniões de trabalho - Arquivo pessoal
Equipe Protomatos em uma das reuniões de trabalho Imagem: Arquivo pessoal

Bruna Souza Cruz

Do UOL, em São Paulo

22/09/2015 18h09

Um grupo de dez alunos da USP (Universidade de São Paulo) foi aprovado para participar da competição internacional de design biomolecular Biomod na Universidade de Harvard, uma das melhores instituições de ensino do mundo. O “único” problema é que a equipe nacional ainda não conseguiu todo o dinheiro necessário para desenvolver o projeto e custear a viagem.

“Estamos muito animados. É a primeira vez que um time da América do Sul participa da competição. Desde o começo do ano [quando decidiram fazer a inscrição] conseguimos juntar uma grana, mas ainda não é suficiente”, afirmou Danilo Zampronio, 23, mestrando em Biotecnologia pelo ICB/USP (Instituto de Ciências Biomédicas da Universidade de São Paulo).

O jovem explica que no início a equipe, composta por graduandos e pós-graduandos de química, física, ciências biomédicas, física biomolecular, arquitetura, design e ciências sociais, passou “de porta em porta” atrás de professores que pudessem contribuir. Além disso, ela buscou apoio da universidade e de órgãos de fomento, mas o resultado não foi positivo.

“Arrecadamos com os professores mais ou menos 2 mil reais. Foi muito bacana. A maioria deles tirou do próprio bolso para nos ajudar. Já de apoio institucional conseguimos 450 reais. Apesar da ajuda, o dinheiro não foi suficiente. Só a molécula de DNA [material escolhido pelo grupo para o projeto] custou 3.600 reais. Já tiramos muito dinheiro do nosso bolso. Estamos duros”, disse Zampronio.

A saída encontrada então pelo grupo de estudantes foi fazer uma vaquinha virtual para arrecadar o restante do dinheiro. Como recompensa para os doadores, uma das integrantes do grupo teve a ideia de oferecer colares, brincos e chaveiros de acrílico em forma de moléculas, e cadernos artesanais. Tudo é feito manualmente pelos próprios integrantes do grupo.

Clarissa Reche, do grupo Protomatos Biomod Brazil, brasileiros fazem vaquinha para ir à competição em Harvard - Reprodução/Catarse - Reprodução/Catarse
Clarissa exibindo uma das recompensas da vaquinha virtual e os chaveiros de moléculas
Imagem: Reprodução/Catarse

“É engraçado. Eu, a menina de humanas, que tive a ideia de fazer coisas com moléculas”, brincou Clarissa Reche, 28, estudante do 3º ano de ciências sociais. “Começamos a ficar desesperados, pois cada inscrição individual custava 175 dólares [Além da inscrição do time no valor de 250 dólares]. Conversei com uns amigos que tinham uma máquina a laser e fizemos as primeiras peças. Tentei vender numa festa, mas não deu certo. Aí decidi tentar vender na porta do instituto de química. Em meia hora vendi tudo”, lembrou.

O valor estimado da vaquinha é de 7 mil reais, no entanto eles precisarão de muito mais. Segundo Reche, os estudantes não acreditavam que pudessem ter muito sucesso com a arrecadação pela internet e por isso colocaram um valor mais baixo. “O sistema funciona assim: se você não atinge o valor total estipulado, você perde todo o dinheiro arrecadado. Precisamos mesmo é de uns 20 mil reais, mas ficamos com medo de não conseguir nada. Melhor garantir um pouco, né?!”. Até o fechamento do texto, o grupo já havia arrecadado 8 mil reais.

Biomod

A competição existe desde 2011 e visa estimular a produção de projetos inovadores que utilizem biomoléculas. Quatro etapas devem ser realizadas pelos participantes: inscrição, construção e atualização de um website com a documentação de todo o percurso da pesquisa, publicação de um vídeo de até três minutos com um resumo do projeto e uma apresentação presencial de 12 minutos com os resultados da pesquisa. A última etapa será realizada entre o final de outubro e o começo de novembro.

A equipe de estudantes da USP, chamada Protomatos, escolheu o DNA como objeto de estudo, sob orientação do professor doutor Cristiano Luis Pinto de Oliveira e co-orientação do doutor Cássio Alves, ambos do Instituto de Física da USP.

O trabalho deles consiste, resumidamente, em otimizar a produção biotecnológica usando pequenas “caixinhas” (nanocages) de DNA para alocar as sequências de reações químicas que acontecem nas células. Com isso, o grupo acredita que possa reduzir os custos e maximizar os processos de produção de itens como a insulina e o combustível álcool.

“Temos muito trabalho ainda pela frente e pouco tempo. Mas a expectativa é enorme. Representar o Brasil lá fora vai ser muito bom. Se não ganharmos vai ficar toda a experiência. Estar lá no meio de caras que são das universidades mais tops do mundo quebra um pouco aquela coisa de que no Brasil nós não conseguimos nada”, ressaltou Zampronio.