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Fotógrafo registra degradação de escola pública em Belo Horizonte

Carlos Eduardo Cherem

Colaboração para o UOL, em Belo Horizonte

28/09/2015 14h19

O ensaio “Educação para Todos”, do fotógrafo mineiro Guilherme Bergamini, 36, é um registro da deterioração da Escola Estadual Pandiá Calógeras, no bairro Santo Agostinho, região nobre de Belo Horizonte.

“Quase todos os dias, eu passo por lá, e vejo essa situação. O Pandiá Calógeras era uma instituição de ensino importante na cidade, uma referência em educação pública. Agora, está abandonada”, diz.

Produzido entre março e maio de 2014, o ensaio de Bergamini, que fotografa desde os 16 anos, denuncia, não só a degradação de uma das mais importantes escolas públicas de Belo Horizonte, mas a situação da escola pública no país.

“A narrativa é uma metáfora visual sobre a educação no Brasil. Lamentavelmente existem muitos 'Pandiás Calógeras' pelo Brasil”, afirma.

“Se tivesse terminado o ensaio hoje, ele poderia se chamar “Pátria Educadora”. Fui irônico ao máximo quando, ao tratar da temática educação no Brasil, batizei o trabalho de “Educação para Todos”, afirma.

“Sou político, mas apartidário. Quando fiz o trabalho era um governo. Agora é outro governo, mas a situação é a mesma. A escola está do mesmo jeito, na mesma situação”, diz Bergamini.

Ensaio ganhou prêmio internacional

As 13 fotografias do ensaio “Educação para Todos” serão expostas em outubro na Sala Bilbao Hitstoriko, espaço cultural no bairro Bilbao La Vieja, em Bilbao, Espanha. Bergamini foi classificado em segundo lugar no ExperimentoBio 2015, concurso internacional de fotografia contemporânea. Cerca de 250 fotógrafos do mundo inteiro concorreram ao prêmio. 

O primeiro lugar foi o ensaio “Equívocos monumentais”, da alemã Liane Lang, sobre o Momento Park ou Szoborpark, museu húngaro a céu aberto que abriga estátuas do período em que o país viveu sob o regime comunista, entre 1945 e 1989, em Budapeste, Hungria. A fotógrafa fez composições com estátuas de Lenin, Karl Marx, Engels e os líderes húngaros Dimitrov e Béla Kun.

A série de fotografias do mineiro, antes de seguir para Bilbao, foi exposta, em julho deste ano, no Festival Internacional Vídeo Arte nodoCCS, em Caracas, Venezuela. Também em julho, as 13 imagens foram apresentadas na exposição Sem Fronteiras, da Aliança Francesa, em Madrid, Espanha. E, finalmente, em agosto, na exposição internacional Olhares do Futuro, em Lisboa, Portugal.

O filósofo, o ditador e o ministro da Guerra

A Escola Estadual Pandiá Calógeras foi construída na primeira década do século 20, na rua Tamoios, centro da capital mineira, com o nome do escritor italiano Dante Alighieri (1265-1321), para abrigar filhos de imigrantes italianos, que participaram da construção de Belo Horizonte, inaugurada poucos anos antes, em 1897.

Em 1935, a escola foi transferida para o seu atual local, no bairro Santo Agostinho, e rebatizada com o nome do ditador italiano Benito Mussolini (1883-1945). O nome do líder fascista durou sete anos e foi retirado, em 1942, durante a 2º Guerra Mundial. Assim, a escola passou a se chamar Pandiá Calógeras (1870-1934), ministro da Guerra no governo Epitácio Pessoa, entre 1919 e 1922, nome que conserva até hoje.

Obras de restauração da escola

A Secretaria de Educação de Minas Gerais informou nesta segunda-feira (28), por meio da assessoria de imprensa, que estão sendo feitas obras de restauração da Escola Pandiá Calógeras, que tiveram início em janeiro de 2013 e deverão estar concluídas em janeiro de 2016.

A um custo estimado em R$ 7,2 milhões, estão previstas reformas de todas as dependências da escola, além de novo telhado, piso, pintura, instalações elétricas, hidráulicas e sanitárias.

Ainda de acordo com a assessoria, atualmente, os 1.400 alunos da escola no ensino fundamental (1º ao 9º período) e uma turma do 1º ano do ensino médio estão abrigados num prédio alugado no próprio bairro, com um aluguel mensal de R$ 73.453.