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Medo faz estudantes carregarem spray de pimenta em universidade de MG

Laís carrega spray de pimenta quando vai à universidade - Arquivo pessoal
Laís carrega spray de pimenta quando vai à universidade Imagem: Arquivo pessoal

Rayder Bragon

Colaboração para o UOL, em Belo Horizonte

28/09/2015 12h57

O receio de se tornarem vítimas de agressões, roubos ou violência sexual no entorno da Unifal (Universidade Federal de Alfenas), situada na cidade de Alfenas (a 335 km de Belo Horizonte), fez com que estudantes passassem a portar tubos de spray de pimenta nos seus deslocamentos diários para a universidade.

Esse cenário de medo faz parte do cotidiano de Laís Dinanni de Godoi, 22, estudante do  8º período de biomedicina, que passou a adotar o spray de pimenta. A estudante contou que deixa um tubo no carro e o outro na bolsa. A universitária, que mora nas proximidades da instituição de ensino, disse não ter sido vítima de violência, mas afirmou que os casos relatados por outros estudantes a deixaram precavida.

“Bastante gente tem [spray de pimenta]. Eu ganhei esses dois. Porém, se uma pessoa vier me assaltar usando uma faca ou uma arma, eu não vou me atrever a usar o spray e me arriscar a me machucar. Mas se eu reparar que a pessoa está drogada, que eu posso fazer alguma coisa, aí eu vou fazer, sim”, disse.

Segundo ela, os ataques próximos ao campus são rotina para os universitários e, em especial, as mulheres.

“Várias amigas minhas já foram vítimas. Todos os dias têm casos de ataques com faca, com facão, com canivete. Gente agarrando as meninas por trás. Todo dia tem relatos de dois a três casos feitos por meninas no grupo da Unifal no Facebook”, afirmou.

Ela conta que os agressores não escolhem um horário específico para cometerem os delitos.

“Pode ser às 7h da manhã, 11 horas, não é só à noite que acontece. Mesmo com a movimentação de todo mundo, o pessoal não se intimida”, disse.
Laís afirmou que a insegurança mudou a rotina dos estudantes, que preferem andar em grupo e evitam sair à noite.

“A gente liga uma para outras e procura ir juntas para a universidade, porque a gente está com medo mesmo. Tem gente que está faltando a aulas à noite para tentar evitar ser vítima de assalto”, afirmou. 

A estudante Priscila Perossi, do 6º período de biomedicina, tem 22 anos e disse ter sido alertada por colegas quando se matriculou na universidade sobre a violência nos arredores. Ela revelou ter ganhado um tubo de spray de pimenta e passou a guardá-lo na bolsa.

Aumento de crimes

A assessoria de imprensa da Unifal informou, por meio de nota, que tem buscado manter diálogo permanente com os “órgãos constitucionalmente responsáveis pela segurança pública, em particular com a Polícia Militar do Estado de Minas, na busca da ampliação da cobertura do policiamento ostensivo nas vias do entorno da universidade”.

A universidade disse ainda que tem efetuado melhorias na iluminação externa dos prédios e está instalando câmeras de segurança “que auxiliarão no monitoramento da vigilância das áreas limítrofes da instituição”.

“Com essas providências, a Unifal-MG espera inibir a ação de marginais nas suas imediações”, informou.

Balanço feito pela Secretaria de Estado de Defesa Social de Minas Gerais (Seds-MG) revela que os crimes considerados violentos, em Alfenas, tiveram um aumento de 59,5% neste ano. Ao todo, foram registrados 488 casos, entre os meses de janeiro e agosto. Em 2014, no mesmo período, foram 306 registros.