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Veja por que alunos e pais ocuparam escolas em São Paulo

Bruna Souza Cruz

Do UOL, em São Paulo

18/11/2015 14h54

A falta de informações sobre a restruturação da rede estadual de ensino de São Paulo e a ausência de pais e alunos no debate antes de as mudanças terem sido aprovadas pelo Governo do Estado são os principais motivos pela série de ocupações que têm sido realizadas desde a última segunda-feira (9). A reportagem do UOL visitou nessa quarta-feira (17) três das escolas ocupadas – que até o momento chega a 43, de acordo com a Secretaria de Educação – para ouvir o que os manifestantes têm a dizer.

Os manifestantes das escolas estaduais Dona Ana Rosa de Araújo, Mary Moraes e Padre Saboia de Medeiros são unânimes em dizer que são contra o fechamento de escolas. Segundo a Secretaria de Educação, a reorganização é necessária, pois vai diminuir a quantidade de segmentos nas escolas e colocará alunos da mesma faixa etária estudando juntos. A pasta afirma que 93 unidades serão "disponibilizadas" para outras finalidades de ensino, como creches e colégios técnicos.

Áurea Ferreira da Silva tem uma filha no segundo ano do ensino fundamental da Escola Estadual Mary Moraes, no Morumbi, zona oeste de São Paulo. A escola está na lista das instituições que terão de transferir os alunos para outras unidades e foi ocupada no sábado (14) por pais e integrantes do MTST (Movimento dos Trabalhadores Sem-Teto) e Apeoesp (Sindicato dos Professores do Ensino Oficial do Estado de São Paulo). Ao contrário da maioria das ocupações, a realizada na Mary Moraes foi encabeçada por pais de alunos.

"É um desrespeito essa reestruturação. Não nos comunicaram direito de nada. Ela [minha filha] está no lugar que deveria estar. A escola é organizada, tem estrutura. A gente fica muito assustada. Acho uma falta de respeito como tudo isso está sendo feito. Enquanto não disserem que a escola não vai fechar, não vamos sair daqui.”

O estudante P.C. tem 17 anos e cursa o primeiro ano do ensino médio na Escola Estadual Dona Ana Rosa de Araújo, localizada na Vila Sônia, zona oeste de São Paulo. Ele reclama que os alunos não foram ouvidos para debater a reorganização escolar e por isso os estudantes decidiram ocupar a unidade na manhã da última sexta-feira (13). Segundo ele, a ocupação continuará enquanto o governador não for até a escola para dialogar.

Com a reestruturação, os estudantes do ensino médio serão transferidos para outra escola e a Dona Ana Rosa passará a ter somente o ensino fundamental 2 (6º ao 9º ano).

“Queremos ter voz ativa. Nossa luta não é só com a Ana Rosa e sim com tantas escolas. Queremos mostrar para o governo que ele não está totalmente certo. Queremos parar a reorganização e deixar tudo como está”, afirmou P.C. “Não está faltando nada na nossa escola. Ela é uma das melhores e a relação com os menores [alunos do ensino fundamental ciclo 2] é tranquila”, acrescentou.

O estudante preferiu não dizer quantas pessoas estão dentro da ocupação. O objetivo, segundo ele, é não deixar com que “eles” saibam o que está acontecendo lá dentro.

Ocupações organizadas

Outro fato comum encontrado nas três ocupações visitadas pelo UOL foi a organização, tanto de estudantes quanto de pais. Em todas as unidades, há escalas de trabalho definidas com equipes responsáveis por alimentação, limpeza e segurança (controla a entrada e saída de pessoas das escolas).

Na escola Padre Saboia de Medeiros, por exemplo, há ainda grupos que respondem pelos setores de assessoria de imprensa para fazer o contato com os jornalistas e de cultura/lazer.

“Os alunos disseram onde queriam ajudar e fizemos uma assembleia para votação. Já listamos uma série de atividades culturais e fixamos na parede da escola”, explicou L.P., 16, aluno do segundo ano do ensino médio do Saboia de Medeiros.

Oficialmente, a escola não vai fechar, mas os estudantes dizem que as matrículas para o primeiro ano estão travadas no sistema, ou seja, o aluno que é matriculado na escola é "automaticamente" transferido para um colégio próximo, o Plínio Negrão. Com isso, eles temem o fechamento gradativo da unidade.

“Nossa luta é para que eles abram as matrículas para todas as turmas e que a escola não feche. Os alunos unidos jamais serão vencidos”, disse P.V., 17, aluno do segundo ano do ensino médio do Saboia.

Reorganização

A reorganização foi anunciada no final de setembro pelo governo do Estado. Desde o começo de outubro, estudantes têm organizado protestos contra as medidas. Eles fizeram algumas passeatas e atos.

Com a mudança da rede, 93 escolas serão fechadas no Estado de São Paulo754 terão ciclo único. A intenção do Estado é ter colégios com ciclo único, ou seja, com alunos de apenas uma das etapas de ensino: fundamental 1 (anos iniciais), fundamental 2 (anos finais) e ensino médio. Por conta da reestruturação, 311 mil alunos serão transferidos.