Topo

Unesp levou ciência para o interior de SP, diz 'fundador' da universidade

Roberto Ribeiro Bazilli foi professor e pró-reitor da Unesp - Divulgação/Unesp
Roberto Ribeiro Bazilli foi professor e pró-reitor da Unesp Imagem: Divulgação/Unesp

Marcelle Souza

Do UOL, em São Paulo

17/02/2016 05h00

No início da década de 1970 surgiu o debate: o que fazer com os institutos isolados, alguns deles já referência na formação de profissionais no interior de São Paulo? A primeira hipótese, incorporá-los a USP (Universidade de São Paulo) e Unicamp (Universidade Estadual de Campinas) foi logo descartada. 

“A primeira hipótese não teve boa aceitação por várias razões políticas locais", afirma o advogado Roberto Ribeiro Bazilli, 69, que conhece bem a Unesp: ele participou das discussões para a fundação da universidade e, depois, foi professor da instituição e atuou como pró-reitor.

Surgiu então uma segunda opção, reuni-los para formar mais uma universidade pública no Estado. As discussões se firmaram pelo ano de 1975.

"Aí foi feito um novo estudo sobre a criação de uma federação de unidades de ensino superior, que teve boa acolhida pelos institutos, pelos municípios e pela administração superior [estadual]. Só que esse estudo recebeu severa crítica da imprensa, porque não tinha sentido falar em federação, que era uma figura desconhecida da legislação na educação brasileira. Aí optou-se pela criação de uma universidade com vários campi”, conta Bazilli. 

Assim, surgiu em 1976 a Unesp (Universidade Estadual Paulista ‘Júlio de Mesquita Filho’), que completa 40 anos em 2016.

A missão da Unesp, desde a sua fundação, é bem clara: levar ciência e ensino superior público e gratuito para o interior do Estado de São Paulo. “Era a mudança na geopolítica do Estado, no crescimento do Estado, era levar ciência, a universidade, para o interior de São Paulo”, diz Bazilli.

No início eram 14 institutos distribuídos por vários municípios. A Unesp já nasceu grande e com nomes de peso. Metade das unidades universitárias era composta por faculdades de filosofia, "voltadas preferencialmente para a formação de professores que deveriam compor os quadros das escolas secundárias do Estado", segundo o site da Unesp -- desse conjunto fizeram parte a Faculdade de Filosofia, Ciências e Letras de Assis, a de Araraquara, de Franca, de Marília, de Presidente Prudente, de Rio Claro e de São José do Rio Preto.

Havia um outro grupo de institutos que haviam sido criados para formação profissional, exemplo das faculdades de odontologia de Araçatuba e a de São José dos Campos, a Faculdade de Ciências Agrárias e Veterinárias de Jaboticabal, a de Engenharia de Guaratinguetá e a de Medicina de Botucatu. A mais antiga de todas era a Faculdade de Farmácia e Odontologia de Araraquara, fundada em 1923 e incorporada ao patrimônio estadual em 1956. 

O desenvolvimento dos institutos, porém, era desigual e causou medo de extinção pelos menores. Outro problema era o projeto passar pela oposição na Alesp (Assembleia Legislativa do Estado de São Paulo) e convencer a população de que a ideia era positiva.

“O principal desafio era o momento político, que era bastante conturbado, problema decorrente da revolução que estava aí e havia, portanto, dificuldade de aceitação do pessoal contrário ao sistema de qualquer modificação dos governos central e estaduais. Essa foi a primeira grande dificuldade, convencer de que era uma coisa boa”, diz o ex-professor.

Vencidas todas as barreiras, a lei que criava a universidade seria então assinada pelo então governador de SP, Paulo Egydio Martins, em 30 de janeiro de 1976. 

O problema é que isso quase não aconteceu por uma falha na organização do evento, que não levou a lei impressa para Ilha Solteira, campus que já nascia como Unesp. A salvação foi que Bazilli tinha uma cópia guardada com ele.

Hoje a Unesp está em 24 cidades de SP e oferece 134 cursos de graduação. São mais de 37 mil alunos, 3.800 professores e 7.000 funcionários. “A Unesp levou o desenvolvimento universitário, que estava concentrado no miolo entre Campinas, Sorocaba, Araraquara e São Paulo, para o oeste”, disse.