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Universidade tem nova pichação racista: 'Tirem os pretos da Unicamp'

Pichação racista no banheiro do IFCH (Instituto de Filosofia e Ciências Humanas) da Unicamp (Universidade Estadual de Campinas) - Otávio Catelano
Pichação racista no banheiro do IFCH (Instituto de Filosofia e Ciências Humanas) da Unicamp (Universidade Estadual de Campinas) Imagem: Otávio Catelano

Fabiana Marchezi

Colaboração para o UOL, em Campinas (SP)

06/04/2016 14h48

"Aqui não é senzala! Tirem os pretos da Unicamp já!". Esses são os dizeres pichados no último ato de racismo registrado no IFCH (Instituto de Filosofia e Ciências Humanas) da Unicamp, em Campinas (a 93 quilômetros de São Paulo).

As pichações racistas foram vistas e fotografadas nesta terça-feira (5) em um dos banheiros do instituto e tem gerado indignação entre os alunos. Somente neste ano, essa foi a terceira pichação racista encontrada no IFCH.

No último dia 8 de março, as paredes do mesmo instituto amanheceram com o dizer "White Power" (força branca), junto com Ku Klux Klan (KKK), em referência à seita que prega a supremacia branca e violência contra negros e imigrantes.

As pichações desta terça-feira (5) foram flagradas por Otávio Catelano, 18, aluno do 2º ano de ciências sociais. Indignado, o estudante decidiu fotografar e postar nas redes sociais.

“Fiquei indignado, principalmente porque não é a primeira vez que essas pichações chamam a nossa atenção. Eu estive no mesmo banheiro no dia anterior [segunda-feira] e não tinha nada pichado. É inaceitável que isso continue acontecendo. Somente neste ano, já é a terceira vez”, disse o estudante.

A nova pichação apareceu exatamente 15 dias depois que o Núcleo de Consciência Negra da universidade entregou um manifesto ao chefe de gabinete do reitor, após um ato de combate ao racismo na Unicamp, realizado no último dia 21. A principal reivindicação do manifesto é a criação de uma Comissão Permanente de Combate ao Racismo na Unicamp. 

Nesta quarta-feira (6), o núcleo informou que vai emitir uma nota de repúdio aos atos e que vai convocar uma assembleia extraordinária para tratar especificamente desses casos, a fim de cobrar medidas administrativas cabíveis aos responsáveis. O núcleo também deve denunciar a situação para a comunidade acadêmica e sociedade civil.

De acordo com Teófilo de Souza Carmo Reis, membro do núcleo, as pichações racistas são uma resposta às atitudes do núcleo, que vem divulgando e combatendo esses atos. “Os atos racistas não são novidade no campus. Ficamos chateados, sabemos que nossa presença incomoda, mas também temos certeza de que resistir é a única maneira de combater essas provocações. Estamos no caminho certo”, disse Reis.

A Unicamp informou, em nota, que repudia “toda manifestação ou ato que implique em violação dos direitos humanos e em discriminação de qualquer natureza”.

O comunicado também cita que a reitoria vai propor a realização de debates internos, em parceria com a Comissão de Direitos Humanos da Câmara Municipal de Campinas, a fim de reunir sugestões que possam viabilizar o combate à discriminação racial.

E informou que “o calendário dos debates será divulgado assim que a proposta for encaminhada internamente”.

A instituição ressaltou que conta desde 2003 com um serviço de ouvidoria, que “nos casos de violação de direitos humanos, quando conhecida a autoria, instaura procedimentos para a realização de oitivas dos envolvidos e testemunhas para adequada apuração dos fatos”.