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Alunos ocupam prédio da USP em protesto contra violência em alojamento

7.abr.2016 - Estudantes ocupam prédio da Superintendência de Assistência Social da USP para cobrar medidas em relação aos casos de violência na residência estudantil  - Janaina Garcia/UOL
7.abr.2016 - Estudantes ocupam prédio da Superintendência de Assistência Social da USP para cobrar medidas em relação aos casos de violência na residência estudantil Imagem: Janaina Garcia/UOL

Janaina Garcia

Colaboração para o UOL, em São Paulo

08/04/2016 11h22

Um grupo de alunos moradores do Crusp (Conjunto Residencial da Universidade de São Paulo) ocupa desde a última segunda-feira (4) a sede da SAS (Superintendência de Assistência Social), na Cidade Universitária, em protesto aos casos de violência contra mulheres ocorridos nos últimos meses no conjunto. De acordo com eles, o estopim foi a agressão a uma estudante de pós-graduação que vivia em um dos mais de 1.500 apartamentos do Crusp com o marido e o cunhado.

O UOL entrou na ocupação na noite desta quinta-feira (7). Um grupo de alunas integrantes do movimento aceitou conversar com a reportagem sem se identificar, sob o argumento de que elas poderiam sofrer represálias posteriormente.

Segundo as estudantes, os casos de agressões e de assédio são frequentes na moradia. Na situação de segunda, disseram, a aluna foi agredida no bloco destinado à pós-graduação pelos dois homens também pós-graduandos. Elas reclamaram que ora os seguranças e agentes da universidade são omissos em situações de violência, ora a SAS dá respostas evasivas sobre isso. Pelo regimento do Crusp, por exemplo, agressões são motivo para expulsão do alojamento.

Uma aluna do curso de história, 31, contou à reportagem que viveu um relacionamento turbulento com o companheiro com quem dividia alojamento entre 2011 e 2014. “Ele me agrediu várias vezes nesse tempo, até fiz boletim de ocorrência e terminei o relacionamento, mas ele, ainda que jubilado do curso, continuava a frequentar o mesmo espaço. A universidade não fez nada”, disse.

“A ocupação é contra o machismo não apenas no Crusp, mas na universidade. Isso estourou com essa agressão de segunda-feira passada, mas, na realidade, houve vários outros casos antes denunciados e que estão pendentes de punição – muitas dessas mulheres convivem ainda com os agressores por negligência da SAS em relação a isso”, afirmou uma estudante de 19 anos, do curso de ciências sociais, que participa da ocupação.

Moradores de fora da ocupação também falam em violência

Fora do acampamento, moradores do Crusp também observaram que situações de violência são comuns no alojamento estudantil. “Eu nunca fui vítima, mas sei de muitos casos – e as atitudes que a universidade toma são quase nulas. Conheço uma pessoa que teve ficar fora do apartamento por três semanas, e ficou no meu, porque ela morava com um agressor e a SAS deu um prazo muito longo para ele sair do apartamento – então ela que saiu”, declarou a estudante de letras Karina Novais, 25 anos, há um ano no Crusp.

“A gente ouve bastante relato de violência; mesmo esse caso da semana passada, que deu esse auê todo, foi indignante – dois caras bateram em uma menina. E é comum também a percepção de que a Guarda não dá apoio às pessoas agredidas aqui, como no caso dessa menina”, comentou o estudante de física Jorge Eduardo Ribeiro Espejo, 23.

7.abr.2016 - Estudantes ocupam prédio da Superintendência de Assistência Social da USP para cobrar medidas em relação aos casos de violência na residência estudantil  - Janaina Garcia/UOL - Janaina Garcia/UOL
Estudantes relatam casos de violência contra mulheres na residência da USP
Imagem: Janaina Garcia/UOL

USP diz que apura denúncias

Em nota, a USP disse que os casos são investigados. "Todos os casos que chegam ao conhecimento da Superintendência de Assistência Social são apurados através de sindicância interna com direito a defesa e, se comprovada o delito, o responsável responde legalmente pelo ato de agressão, podendo, em alguns casos, chegar até a suspensão e perda da moradia. Além, a unidade de ensino e pesquisa a qual o estudante está ligada é notificada para que sejam tomadas as providências devidas e pertinentes", informou.

Nesta sexta, os alunos se reúnem para analisar a resposta do superintendente da SAS, Waldir Antonio Jorge, ao pleito dos estudantes. No ofício respondido ontem às alunas, ao qual o UOL teve acesso, o superintendente escreveu que a SAS “sempre esteve e continuará aberta e receptiva a averiguar as denúncias de qualquer natureza que envolvam direitos humanos”.

Vagas são insuficientes e vale pesquisa 'por afinidade'

Atualmente, o Crusp, por meio da SAS, oferece 1.187 vagas a alunos de graduação e 378 aos de pós-graduação. Conforme publicações da própria USP, porém, o número de vagas é insuficiente, e não há previsão de que sejam ampliadas.

Para conseguir vaga nas inscrições abertas no começo do ano, o estudante passa por um processo seletivo que considera critérios como renda per capita do estudante de graduação ou pós-graduação – não deve ultrapassar três salários mínimos. Cada apartamento tem três quartos. Em uma fase inicial de seleção, os interessados precisam pesquisar vagas em apartamentos “por afinidade”; os que não conseguirem assim, ficam sujeitos a sorteios para quartos ainda vagos no conjunto, desde que com aprovação dos que já residem no apartamento. O Crusp é misto.