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Coronel Telhada discute e ameaça prender estudante que protesta na Alesp

Fernando Notari

Do UOL, em São Paulo

04/05/2016 19h41

O deputado estadual Coronel Telhada (PSDB) discutiu e ameaçou dar voz de prisão a uma estudante que participa da ocupação ao plenário da Assembleia Legislativa do Estado de São Paulo (Alesp), nesta terça-feira (4).

Karoline Rocha se identifica como a estudante no vídeo. Ela presta assessoria de imprensa ao grupo que se manifesta a favor da abertura de CPI (Comissão Parlamentar de Inquérito) para investigar desvio de dinheiro no caso conhecido por “Máfia da Merenda”.

Telhada é o primeiro a levantar a voz no registro que circula pelas redes sociais. “O que você está pensando, que está falando com moleque? Sou deputado!”, grita.

A moça responde à altura: “É deputado? Eu sou estudante, mulher e também mereço respeito. Aqui é a casa do povo”. Na sequência, o tucano ameaça pedir a prisão de Karoline.

Em contato com o UOL, a estudante explicou que deixou o plenário para fazer uma ligação. No caminho, encontrou Telhada dando entrevista em que criticava a atitude dos manifestantes. Foi quando o deputado avançou contra ela, de dedo em riste.

“Ele é um descontrolado”, disse Karoline Rocha. "Tentou muito me intimidar, mas a gente aprende a resistir a isso. A resistir ao machismo. Ele é um machista, um fascista. Além de tudo, veio para cima porque sou mulher e pequena, porque ele acredita que estou em posição inferior a ele”, afirmou, depois de dizer que não teve medo das ameaças. 

O vídeo ainda mostra o deputado João Paulo Rillo (PT) interferindo a favor da moça. Depois, o também deputado Delegado Olim (PP) entra em cena em discussão com um assessor do PT.

A estudante contou que o tucano a puxou pelo braço com força em um momento e que continuou a persegui-la, mesmo depois de a situação ser apaziguada.  Ela se refugiou em um gabinete de deputado e conseguiu se desvencilhar de Telhada. Karoline não foi detida. 

Outro lado

 

 

O UOL tentou falar com o deputado Telhada durante a tarde e a noite da última quarta-feira, mas ele não atendeu nem retornou às ligações. Nesta quinta, junto a um pedido de direito de resposta, enviou à reportagem um vídeo com a sua versão do ocorrido, por e-mail.

Segundo ele, a gravação está pela metade. "Eu e o delegado Olim estávamos dando entrevista para a Bandeirantes quando essa pessoa que está no vídeo começou a nos ofender nos chamando de ladrões, de fascistas. Perguntei o motivo e ela nos disse que somos ladrões de merenda", contou, antes de afirmar que construiu seu nome justamente "combatendo o crime".

"Não é qualquer comedor de lanche de mortadela, por causa de R$ 30, que vai me chamar de ladrão", prosseguiu, referindo-se à acusação de que o PT oferece um sanduíche do embutido e uma bolsa em dinheiro para engrossarem manifestações a seu favor. "Não aceito isso. Dei voz de prisão a ela por flagrante delito".

A ocupação dos jovens na Alesp é comandada por organizações estudantis, e não partidárias. No entanto, três partidos políticos foram alvos de Telhada na sua explicação. "Essas pessoas do PT, PC do B e PSOL são todas pessoas do mesmo tipo. Estão aqui porque estão ganhando, comedoras de lanche de mortadela", avaliou. 

"Não bastasse isso, vieram vários deputados do PT, entre os quais um que empurrou um PM anteriormente (João Paulo Rillo). E veio querendo por a mão em mim. Não admito que ponham a mão em mim. Posso discutir, posso brigar, mas não coloco a mão em ninguém. Nesse meio tempo a jovem correu, fugiu, não a vi mais. Mais uma vez, o PT incindiu em um crime ao permitir que a jovem fugisse", concluiu. 

A ocupação

Desde de o fim da tarde da última terça-feira (3), um grupo de estudantes ocupa o plenário da Alesp exigindo abertura imediata de CPI para investigação da Máfia das Merendas. O grupo acusa a Casa de silenciamento sobre o assunto porque seu presidente, Fernando Capez (PSDB) é o presidente da Assembleia.

A Alesp já entrou com pedido de reintegração de posse na Justiça. O processo está nas mãos do juiz Sergio Serrano Nunes Filho.