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Para comer, estudantes recebem ajuda de deputados de oposição na Alesp

Emanuel Colombari

Do UOL, de São Paulo

04/05/2016 18h07

“Comeu, voltou!” É assim que os estudantes que ocupam Assembleia Legislativa do Estado de São Paulo (Alesp) se organizam para comer no local, com a ajuda de deputados estaduais de partidos de oposição ao governo Geraldo Alckmin (PSDB). A preocupação era não demorar para voltar ao plenário, evitando uma desmobilização.

Desde que tomaram o local nesta terça-feira (4), por volta das 17h, cerca de 80 estudantes (segundo a própria organização da ocupação) se viram como podem para comer, dormir, fazer a higiene pessoal – e para serem ouvidos.

O grupo que está no local pede a instauração da CPI das Merendas, que tem como missão apurar desvios de verbas destinadas à alimentação de estudantes do estado. Para que o documento avance, a Alesp exige 32 assinaturas; até a noite de terça-feira, eram 25.

Para fazer pressão, os estudantes ocuparam um dos plenários da casa e prometem não sair até conseguir as sete assinaturas que faltam para o pedido. Na primeira noite, a maioria dormiu ali mesmo, sobre o chão acarpetado do salão. “São poucos colchonetes”, explicou Emerson Santos, 21 anos, presidente da União Paulista dos Estudantes Secundaristas (Upes).

Na manhã desta quarta-feira, pouco mais de 12 horas após a tomada do local, o presidente da Alesp, Fernando Capez (PSDB), falou com a imprensa. Segundo ele, a ideia era levar os estudantes à “saturação”, até que o protesto se esgote e se esvazie naturalmente. “Estamos isolando, para evitar o rodízio de estudantes protestando. Os que saírem não voltam”, explicou o parlamentar em entrevista coletiva no Salão Nobre.

Resistência e saturação

No plenário ocupado, a baixa média de idade dos ocupantes não alterava os planos de resistir à “saturação” planejada. Para tal, os estudantes se escoravam em orientações de lideranças do grupo.

Antes do almoço, por exemplo, uma jovem se colocou diante dos ocupantes e passou orientações – repetidas por todos os presentes. Todos deveriam pegar suas mochilas e colocar dentro da barraca montada no plenário; em seguida, recolheram papéis, garrafas d’água, copos plásticos e “qualquer coisa que possa bagunçar o plenário”. Só então iriam comer.

A alimentação, por normas da Assembleia, está sendo feita fora do plenário: café da manhã, almoço e jantar. Nada muito requintado – em geral, sanduíches frios, sucos, frutas e água. Nas primeiras 24 horas, os pratos foram entregues por deputados da oposição, que engrossam a pressão pela instauração da CPI.está

A ideia é que todos deixem o plenário em pequenos grupos para comer três vezes ao dia. Assim, é comum ver grupos de animados adolescentes, deixando descalços a porta de vidro do plenário em trenzinho e cantando: “Meu lanchinho/meu lanchinho/vou comer/vou comer”.

Quando o primeiro grupo come, volta ao plenário e libera o segundo grupo. “Pessoal, quem está indo ao banheiro, não vem junto com o pessoal do almoço para não bagunçar”, orientou uma líder presente no Café São Paulo, lanchonete da Alesp onde os sanduíches e as frutas eram servidos.

Poucos deputados

Apesar da presença incomum no plenário, a movimentação de deputados na casa foi pequena nesta quarta-feira. Motivo: diante da ocupação, o presidente da Alesp, Fernando Capez (PSDB-SP), anunciou ponto facultativo nas dependências. Capez é um dos investigados na Operação Alba Branca, que apura os desvios de verba da merenda.

“Muitos são do interior e voltaram para suas cidades”, avaliou Carlos Gianazzi (PSOL), um dos deputados da oposição que permaneceram no local diante da determinação. Além dele, a deputada Leci Brandão (PCdoB) também acompanhou de perto a movimentação, inclusive ajudando os ocupantes a montar seus sanduíches no Café São Paulo.

No primeiro dia, a tranquilidade deu a tônica da ocupação dos estudantes da Alesp – mesmo com os policiais militares que guardam as portas do plenário Juscelino Kubitschek. A expectativa, porém, era de que o clima mudasse nas horas seguintes, uma vez que Capez conseguiu protocolar a petição de reintegração de posse do local. Segundo o presidente da casa, a desocupação do plenário é fundamental para que a CPI da Merenda avance.

”O que pode ser pior para mim? Tenho 30 anos de vida pública, 62 livros publicados, sou palestrante aqui e fora. De janeiro para cá, estão reescrevendo minha história”, afirmou o presidente da Assembleia em entrevista coletiva, rebatendo a acusação de que o ponto facultativo seria manobra para adiar a coleta de assinaturas pela CPI. “A única manobra adiando a CPI da Merenda é a invasão. Já estava sendo articulada. Agora, sob coação, fica mais difícil.”