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Todo mundo de saia: estudantes de universidade protestam contra censura

Thiago Henrique
Imagem: Thiago Henrique

Rayder Bragon

Colaboração para o UOL, em Belo Horizonte (MG)

06/05/2016 17h21

Alunos da Ufla (Universidade Federal de Lavras), situada na cidade de Lavras (240 km de Belo Horizonte), promoveram na entrada da instituição de ensino um “saiaço”, nesta quinta-feira (5), após um estudante do curso de química afirmar que foi barrado e constrangido por seguranças do campus em razão de estar vestido de saia.

Munidos de saias, os estudantes empunharam cartazes com dizeres contrários ao preconceito. O ato durou aproximadamente uma hora.

De acordo com Pablo Gabriel Galiza Barbosa, 19, a proibição da sua entrada no local ocorreu um dia antes do ato de solidariedade dos colegas. Segundo ele, foi a primeira vez que passou por essa situação.

“Decidi ir de saia para a aula. Era uma saia preta e longa. Quando passei pela portaria, o guarda me perguntou: 'você vai subir desse jeito?' Eu perguntei qual era o motivo, e ele me falou que eu seria barrado mais à frente”, explicou.

Segundo o estudante, após esse primeiro contato com a segurança do campus, ele passou a ser seguido por mais dois seguranças e, em dado momento, até com a presença de policiais militares.

“Ele me mandou ler um papel no qual estava escrito uma norma da universidade em relação a trotes. Eu disse a ele que não estava participando de trotes nem era calouro. Disse ainda que esse é meu estilo de roupa. Ele falou que eu não poderia entrar de saia e, caso quisesse entrar, teria que voltar em casa e trocar de roupa”, afirmou.

De acordo com Barbosa, a situação o deixou constrangido diante de outras pessoas que teriam presenciado a cena.

“Eu tenho saias no meu guarda-roupa, como tenho outras peças. Tem dia que eu quero usar saia, tem dia que quero usar uma calça ou um short. Tem dia que eu quero usar um vestido”, resumiu.

Barbosa relembrou ter ficado nervoso com a situação e chegou a chorar. Ele disse que tentou entrar em contato com um representante da pró-reitoria, mas não conseguiu.

“Eu fui falar então com a psicóloga, mas o guarda não deixava eu falar. Ele atropelava a minha fala”, contou. O estudante disse ter tentado registrar uma ocorrência policial sobre o caso, mas não conseguiu em razão, segundo ele, de não ter os nomes dos seguranças da universidade.

“Eu desci para a guarita para pegar os nomes deles, mas eles se recusaram a dar a identidade”, afirmou.

Em seguida, o universitário contou ter ido para casa, quando surgiu a ideia do evento de protesto após ele ter relatado o caso a colegas.

“A gente decidiu criar o evento porque foi uma situação muito constrangedora, me senti um lixo. Mas a adesão à manifestação foi grande, foi muito legal”, afirmou.

Nota     

Em nota enviada ao UOL, a universidade se posicionou dizendo que a Diretoria Executiva lamentou o episódio e determinou a abertura de processo de sindicância investigativa. A abordagem dos vigias, em um primeiro momento, deu-se baseada em resolução do Conselho Universitário que proíbe trote no campus.

“A abordagem teve a intenção de orientar o estudante sobre as normas da Universidade relativas à proibição de ações constrangedoras contra estudantes ingressantes, caracterizadas como trote. Isso porque a Universidade vivencia neste momento a recepção de novos calouros”, informou trecho da nota.

Por outro lado, o documento traz que a Direção Executiva não corrobora com “atitudes que evidenciem qualquer tipo de opressão”.

Por fim, foi pactuada com os alunos que participaram do ato uma agenda de debate sobre temas de interesse da comunidade acadêmica com ações continuadas de educação e incentivo aos movimentos sociais de respeito às diversidades.

Ficou decidido ainda o uso da carteira de estudante para distinguir alunos veteranos dos calouros. O texto traz ainda que os vigias foram orientados.