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"Querem cassar meu mandato por retaliação", diz deputado estadual petista

Fernando Notari

Do UOL, em São Paulo

07/05/2016 06h00

"A ameaça de cassação do meu mandato é uma retaliação à minha atuação". A declaração é do deputado estadual de São Paulo João Paulo Rillo (PT). O motivo seria o apoio ao movimento estudantil que ocupou um dos plenários da Assembleia Legislativa de SP (Alesp) em protesto, entre as tardes de terça-feira (3) e sexta-feira (6). A perseguição seria de parlamentares que apoiam o governador Geraldo Alckmin (PSDB).

Na última quarta, os deputados Coronel Telhada (PSDB), Coronel Camilo (PSD) e Delegado Olim (PP) entraram com representação contra o petista no Conselho de Ética da Casa por quebra de decoro parlamentar. Rillo é acusado de facilitar o acesso dos jovens ao plenário Juscelino Kubistchek e agredir um policial militar – como consequência, pode ter o mandato cassado.

“É uma tentativa de intimidação, de retaliação, sim”, disse João Paulo Rillo ao UOL, “mas é também uma visão obtusa de democracia que eles têm, na qual o povo não tem o direito de participar. Eu sempre apoio a entrada do povo na Assembleia, nas galerias. Essa é a casa do povo. Temos de ter uma compreensão mais ampla sobre democracia”, avaliou.

Para o deputado Coronel Camilo, o petista precisa ser “chamado a alguma responsabilidade” porque teve atitudes que “não correspondem com a de um deputado”. Ele afirma que Rillo reuniu os estudantes e os orientou a ocuparem o plenário, inclusive abrindo caminho para o local. Depois, tentou impedir a ação policial empurrando um deles, que caiu sobre uma colega de profissão.

O petista conta outra versão e diz que só tentou evitar confusão maior. De acordo com ele, o presidente da Alesp, Fernando Capez (PSDB), está fragilizado pelas acusações de envolvimento no caso conhecido por “máfia das merendas”, o que provoca um vácuo de poder na Casa.

“Faltou uma voz de imediato para dizer ‘a Casa é democrática e aceitamos a ocupação, depois vamos discutir na Justiça’. Foi o que o aconteceu, mas o presidente demorou a se manifestar. Por causa desses buracos de comando os policiais daqui agem por conta própria. Não sei quem dá esse comando para essa insistência de barrar o povo na própria casa”, disse.

Rillo afirma que tentava separar estudantes de policiais quando um oficial tentou puxar uma menina caída, o que o levou a reagir com o empurrão.

Para Camilo, no entanto, o que ocorreu nem mesmo era uma manifestação democrática de estudantes, mas de "grupos manipulados politicamente". O deputado Coronel Telhada, coautor da representação contra o petista, partilha da ideia. Ele afirma que o ato foi comandado por "pessoas do PT, do PC do B e do PSOL".

A ocupação contou com o apoio de movimentos estudantis, como a Ubes (União Brasileira dos Estudantes Secundaristas), que ajudaram na coordenação de algumas ações.

“O que vai ser discutido [no Conselho de Ética] não é se houve crime ou não da minha parte, é o conceito que eu tenho de democracia e o conceito que o Coronel Telhada tem de democracia. São distintos, realmente. Minha tese é que não se visita, invade ou ocupa a própria casa. Essa é a casa do povo. Ou lidamos com essa compreensão e toda vez que houver uma interrupção a gente escolhe a via democrática, ou a repressão fará esse papel. Aqui não é a casa da Polícia Militar. A gente respeita a PM, mas a PM tem que respeitar a casa do povo”, afirmou Rillo.