É conversando que a gente se entende? Alunos de Etec discutem ocupação
Eram cerca de 30 alunos em frente ao portão da escola técnica Professor Basilides de Godoy, zona oeste paulistana. Estavam uniformizados, com material na mochila e estavam dispostos a entrar para ter aulas.
O clima estava tenso por causa da troca de agressões que havia ocorrido dias antes entre grupos contrários e a favor da ocupação do colégio, que acontece desde o dia 3.
"O pessoal do noturno foi agressivo e conseguiu entrar. É isso que a gente vai ter que fazer?", comentou um adolescente. "A gente veio para a assembleia", completou uma menina.
De dentro do portão, uma representante perguntava: "quem disse que ia ter assembleia?" e já completou: "A gente não marcou nada".
Perto da entrada estavam alguns adultos, duas mulheres e dois homens, pais de alunos que ocupam a escola. Eles não interferiam nas conversas entre os adolescentes.
Do outro lado da rua, um outro grupo com cinco homens também só observava a movimentação: três deles eram pais de estudantes, mas da turma que queria ter aula.
"O que ouço sempre é o mesmo discurso de pais e alunos, se há possibilidade de fraude, isto deve ser apurado", diz Sérgio, pai de estudante do 1º ano.
"Mas as ocupações estão tirando o direito da aula e, assim, trazendo mais um prejuízo aos alunos que é o conteúdo programático escolar."
Claramente divididos
Uma roda de alunos começou a se formar quando a reportagem do UOL se apresentou e disse que estava ali para entender a história.
"A gente quer ter aula", eles repetiam à exaustão. A turma era o segundo ano do técnico em mecatrônica, curso famoso por ser exigente.
Então explicaram que só terão 15 dias de recesso em julho e estão preocupados com a reposição das aulas perdidas. Aos sábados, a turma já repõe uma matéria que ficou sem professor durante um bimestre, MPM (manutenção de projetos mecatrônicos).
Outra reclamação dos estudantes contrários ao protesto era de que a assembleia que decidiu a ocupação não foi legítima.
Mateus estuda no 2º ano do curso e disse que os alunos da Etec que são contra a ocupação foram pegos de surpresa: "a gente foi para a assembleia e eles tinham tudo pensado, a gente não estava organizado". Por isso, o menino exige outra reunião para discutir a forma de protesto.
"Eles não querem fazer outra assembleia, porque vão perder", acredita Gabriel, que é representante da classe.
"Precisa ter 5% dos alunos para ser legítima e a gente tinha essa quantidade de pessoas" foi a resposta dada pelos ocupantes.
Uma das meninas, Caroline, não escondia a indignação com a estratégia dos colegas em paralisar as aulas. Pouco falava, mas não precisava. Sua insatisfação era nítida.
Addiel, seu namorado e sempre ao lado dela, resmungava enquanto os argumentavam eram colocados na roda de conversa: "Querem que a gente perca o curso? E, depois se não tiver reposição, a gente vai formar sem essa matéria? Vai fazer falta na hora de arrumar um emprego bom".
"Como eles querem melhorar as coisas assim? Tirando o pouco que a gente conseguiu?", perguntava Addiel.
"A visibilidade é negativa [com as ocupações]", "quando a ocupação acaba, o governo faz o que quer [como está fazendo com as salas de aula fechadas]", "por que a gente não protesta fechando a Paulista?", disseram outros alunos.
Em contra partida, os estudantes da ocupação respondiam: "a gente conseguiu a promessa de marmitex em agosto", "eles iam fechar escolas e não, salas", "quantos de vocês foi aos protestos que a gente marcou?".
No vaivém dos argumentos de um lado e de outro, os alunos chegaram a alguns pontos de acordo. Saíram de lá, com o compromisso de listar as aulas que precisam ter (os alunos que são contra a ocupação) para que os outros corram atrás de voluntários para essas aulas.
De noite, uma das reivindicações foram atendidas: os estudantes e os professores poderiam entrar no dia seguinte, com os professores, mas sem coordenação para as aulas.
ID: {{comments.info.id}}
URL: {{comments.info.url}}
Ocorreu um erro ao carregar os comentários.
Por favor, tente novamente mais tarde.
{{comments.total}} Comentário
{{comments.total}} Comentários
Seja o primeiro a comentar
Essa discussão está encerrada
Não é possivel enviar novos comentários.
Essa área é exclusiva para você, assinante, ler e comentar.
Só assinantes do UOL podem comentar
Ainda não é assinante? Assine já.
Se você já é assinante do UOL, faça seu login.
O autor da mensagem, e não o UOL, é o responsável pelo comentário. Reserve um tempo para ler as Regras de Uso para comentários.