Topo

CE: Pais se revezam em escolas ocupadas e cobram por melhorias na educação

Ocupa Caic/Divulgação
Imagem: Ocupa Caic/Divulgação

Aliny Gama

Colaboração para o UOL, em Maceió (AL)

18/05/2016 18h21

Pais de estudantes de escolas estaduais do Ceará participam da ocupação dos prédios das unidades de ensino para dar apoio aos filhos nas reivindicações por melhorias na educação da rede estadual de ensino. Apesar de o movimento ser dentro das escolas, os pais preferem acompanhar os filhos, principalmente no período noturno, para fiscalizar as atividades.

“Sempre estou por aqui dando uma olhada nos meninos”, disse a dona de casa Leide Costa, 43, mãe de Henrique, 15. Ela mora a duas quadras do Caic (Centro de Atenção Integral à Criança e ao Adolescente) Maria Alves Carioca, no bairro Bom Jardim, e diz que vai à escola várias vezes ao dia para observar como está o filho e os colegas.  

O Caic Maria Alves Carioca foi a primeira escola a ser ocupada em Fortaleza, no dia 28 de abril. No mesmo dia, estudantes da escola Presidente Geisel, no bairro Santa Tereza, em Juazeiro do Norte, também ocuparam o prédio da unidade de ensino. Depois das duas ocupações, alunos de outras escolas decidiram aderir ao movimento. Ao todo, 45 escolas estão ocupadas no Ceará – 34 em Fortaleza e 11 em cidades do interior do Estado.

“É bom eles saberem que estamos por perto e apoiando a ocupação para melhorar a qualidade do ensino e da escola. Já dormi alguns dias, mas atualmente venho depois do trabalho e volto para casa quando encerramos o jantar e limpamos a cozinha”, disse diarista Cícera Maria Ferreira, que tem dois filhos estudando no Caic Maria Alves Carioca.

Durante as ocupações, acontecem oficinas, palestras e apresentações artísticas, como saraus e peças teatrais. Os grupos que ocupam as escolas se organizam para dividir as atividades de limpeza, alimentação e as ações que estão ocorrendo durante o movimento. Até agora, segundo a Seduc  (Secretaria da Educação do Estado do Ceará), nenhuma anormalidade ocorreu dentro das escolas que precisasse da presença da polícia.

“Cada um fica responsável por um setor, depois há um revezamento para não ficar cansativo. Estamos lutando pela melhoria da nossa escola e também por melhores condições de trabalho dos nossos professores. Nossa escola só vai melhorar se ocorrer ações em conjunto ”, disse um estudante de 16 anos.

Ocupação Fortaleza - Ocupa ABS/Divulgação - Ocupa ABS/Divulgação
Imagem: Ocupa ABS/Divulgação

Donativos

Para manter as ocupações nas escolas, pais e alunos pedem doações de alimentos, higiene pessoal e material de limpeza. Cada escola tem uma página em redes sociais para pedir doação e mostrar o que vem ocorrendo nas unidades escolares durante as ocupações. Porém, estudantes dizem que não podem depender somente da campanha virtual. Eles se organizam em grupos e saem pedindo doações aos pequenos comerciantes e às pessoas das comunidades próximas às escolas.

“Tem chegado muita doação aqui na escola, de feijão, arroz e cuscuz. Saímos para pedir nas casas e mercadinhos outros itens que estão faltando, algumas pessoas dão, outras não. Em geral, a receptividade é boa e estamos nos mantendo com ajuda também dos nossos pais”, contou um aluno de 15 anos, da escola João Mattos, no bairro Montese, em Fortaleza.

Os estudantes reivindicam, em geral, reforma nas escolas, como quadras, banheiros e ampliação de salas de aula; implantação do passe livre; diversificação no cardápio da merenda e aumento na quantidade da alimentação fornecida pelas escolas. Eles destacam também que as ocupações ocorrem em apoio à greve dos professores da rede estadual de ensino, deflagrada no dia 20 de abril.

Ao todo, 445 mil estudantes estão sem aulas devido à paralisação. A categoria pede reajuste salarial de 12,67%; melhorias nas condições de ensino e nas estruturas das escolas; liberação de processos relativos à estabilidade, ascensão funcional e progressão; manutenção e ampliação dos espaços pedagógicos; e regulamentação do pagamento da verba da merenda escolar.

Respostas

 A Secretaria da Educação do Estado do Ceará informou que está aberta ao diálogo com professores e estudantes e que "não impedirá o acesso de alunos às escolas desde que haja respeito ao patrimônio". A Seduc voltou a frisar, que os pais dos alunos são responsáveis pelos atos dos filhos nas escolas, de acordo com o Código Civil.

Sobre as reivindicações dos estudantes, a Seduc informou que a merenda escolar é financiada pelo Governo Federal por meio do PNAE (Programa Nacional de Alimentação Escolar) e o valor é estabelecido pelo Ministério da Educação. Sobre o passe livre estudantil, a secretaria afirmou ainda que não é de sua competência a reivindicação, mas sim, das prefeituras municipais, que são responsáveis pelo transporte urbano e metropolitano.

A secretaria informou ainda que já realizou melhorias na infraestrutura do Caic Maria Alves Carioca e prevê novas reformas ainda este ano. Além de reformas e melhorias na maioria das escolas que estão ocupadas.

A Seduc afirmou ainda que já se reuniu, por quatro vezes, com representantes dos estudantes das escolas ocupadas para discutir as melhorias nas escolas. E por mais de cinco vezes, já recebeu sindicalistas e professores para manter o diálogo com a categoria. A última reunião ocorreu no dia 11, com o Sindicato Apeoc, o governador Camilo Santana e o secretário da Educação, Idilvan Alencar, no Palácio da Abolição, em Fortaleza. O governo do Estado informou que divulgará no dia 6 de junho a posição sobre a reivindicação de reajuste salarial dos professores.

“No último dia 9 de maio, um pacote de investimentos de mais de R$ 140 milhões foi anunciado pelo governador Camilo Santana para infraestrutura das escolas (reformas e manutenção), alimentação escolar, aquisição de computadores, notebooks para premiar os melhores alunos no Spaece e Enem, entre outras ações, incluindo benefícios aos professores”, destacou o Estado.

Sobre a merenda escolar, a Seduc informou que o pacote de investimentos do Estado garantirá a aquisição e a distribuição de gêneros alimentícios (feijão, arroz, macarrão, massa de milho e açúcar) durante todo o ano letivo, para todas as escolas estaduais, além dos recursos já repassados atualmente.