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Aula no YouTube tira poder da escola e repassa para aluno, diz "webteacher"

Rafael Procópio dá dicas de matemática na internet - Reprodução
Rafael Procópio dá dicas de matemática na internet Imagem: Reprodução

Thiago Varella

Colaboração para o UOL, em Campinas (SP)

07/06/2016 06h00Atualizada em 07/06/2016 10h15

A qualquer hora do dia ou da noite, um estudante pode assistir a uma aula sobre o assunto que quiser com o professor que escolher. Regência verbal? Está lá. Termodinâmica? Também. E o melhor, essa "escola" é gratuita e acessível -- está tudo ao alcance de um clique.

Na opinião de três "webteachers" - professores que estão no YouTube - ouvidos pelo UOL Educação, os vídeos com aulas representam, hoje, uma revolução no ensino porque possibilitam ao aluno ter total controle sobre aquilo que quer assistir.

"Temos uma mudança de poder. Antigamente, a escola e o professor tinham o poder. Eles definiam os horários, o que ensinar e a hora em que o aluno tinha de estar na escola. Agora, com as aulas online, o poder está com o aluno. Ele escolha a hora, o tema e o professor. E mais, se começar a ver um vídeo meu e achar que não sou o professor certo, muda na hora", afirmou Ivys Urquiza, professor de física e dono do canal "Físicatotal".

Para ele, o aluno que vai atrás de conteúdo online está mais aberto do que o estudante que é forçado a aprender determinado assunto em sala de aula. "O aluno toma uma atitude pró-ativa e favorece a relação com o conteúdo", disse.

Urquiza está na internet já há algum tempo, desde que montou um blog com dicas de física para auxiliar seus alunos. Com o passar dos anos, os estudantes começaram a pedir que o professor fizesse vídeos e, finalmente, em 2012, ele começou no YouTube.

"No começo, fazia vídeos de forma caseira. E o feedback que os alunos deram é que eles conseguiam entender o que eu dizia, mas a parte de luz e som estava péssima. Eu contratei uma equipe e, a partir daí, começou o projeto Física Total em 2013", contou.

Rafael Procópio também começou de modo bem amador, em 2010, a fazer vídeos com dicas de matemática. Hoje, seu canal, o Matemática Rio, é uma referência em educação no YouTube.

"Jamais esperava que vídeos de matemática fariam tanto sucesso. Fazer vídeos é coisa que mais me realiza. Percebi que as pessoas gostam de aprender matemática de um jeito descontraído", disse o professor.

Urquiza ainda destaca que a internet possibilita que alunos que estudam em escolas mais periféricas, com uma educação mais deficitária, possam aprender como estudantes mais ricos.

"A gente vive em um país muito desigual. As minhas aulas online para um aluno de classe média alta são complementares. Para a classe baixa, meu vídeo pode ser fonte primária de aprendizado", explica.

Dificuldades ao utilizar a internet

Urquiza sabe bem as diferenças entre lecionar nesses dois ambientes, pois, ainda hoje, se divide nas duas atividades.

"A sala de aula tem a imponderabilidade. Você prepara uma aula e o aluno faz uma pergunta tão incrível que o papo muda de rumo. Na sala de aula falamos para 30, 40, 100 alunos. Na internet, a gente fala para centenas de milhares de pessoas. Isso dificulta o tempo de roteirização. Na mesma fala, tenho que contemplar públicos muito distantes", contou o professor de física, que costuma preparar três vídeos diferentes sobre o mesmo assunto.

"Faço um vídeo para consulta, outro mais longo com conceitos e variações e um terceiro, completo, em que exploro todos os aspectos para o ensino médio. Divido os assuntos em pacotes que são entregues ao público de acordo com o que eles querem", completou.

Segundo a professora de inglês Carina Fragozo, do canal English in Brazil, a preparação de um roteiro de vídeo pode ser muito mais trabalhosa do que a de uma aula presencial.

"Não posso deixar o vídeo aberto para dúvida. Ele precisa estar completo. Além disso, preciso pensar que todo o tipo de gente assiste aos vídeos, alunos, profissionais e até nativos de inglês", contou.

Para ajudar na parte de "tira-dúvidas", os professores de YouTube contam com ferramentas importantes de interação. Redes sociais e e-mails são importantíssimos para eles. Mas a principal de todas é a caixa de comentários dos vídeos no YouTube.

"As pessoas fazem muitas perguntas e eu sempre verifico nos comentários que tipo de dúvida que tem. Muitas vezes, faço vídeos baseados naquelas dúvidas", explicou Carina.

Carina Fragozo, Rafael Procópio e  Ivys Urquiza fazem parte de um seleto grupo de professores que são embaixadores da plataforma YouTube Edu no Brasil e participaram no último dia 1º do Congresso Brasileiro de Educadores, realizado pela Pearson, em São Paulo.