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UFSC quer delegacia para coibir estupros e assédios no campus

Aline Torres

Colaboração para o UOL, em Florianópolis

17/06/2016 18h42Atualizada em 20/06/2016 13h06

Para coibir crimes sexuais dentro do campus, a Universidade de Santa Catarina (UFSC), em Florianópolis (SC), planeja abrir uma delegacia de proteção à mulher dentro do campus.

“Nesse momento estamos planejando a estrutura da delegacia, queremos ser a primeira universidade do país com esse atendimento”, contou o secretário de segurança institucional da universidade, Leandro Luiz de Oliveira.

A administração da universidade está elaborando um projeto de convênio entre a Polícia Civil e à União, que é a responsável pela universidade. A instituição informou que não há nenhum impedimento legal para construção da delegacia. Mas, como há muita burocracia envolvida, a concretização vai demorar um pouco.

A ideia da criação da delegacia partiu da Secretaria de Ações Afirmativas e Diversidade. A professora responsável pela sessão, Francis Solange Vieira Tourinho, acredita que a intervenção de policiais com treinamento humanizado vai garantir mais segurança e também criar um espaço de responsabilidade social entre os alunos.

“Pretendemos que a delegacia se ocupe também de casos de racismo e homofobia. Para que os alunos se tornem cidadãos, é preciso uma política que esclareça limites de comportamento”, concluiu Tourinho.

Juntas

O secretário contou que na semana passada um motoqueiro perseguiu uma estudante dentro da universidade. A identidade do homem foi descoberta graças às câmeras de segurança que puderam identificar a placa do veículo. Um inquérito policial foi aberto.

Ativista feminista e estudante de psicologia da instituição, Mayara Assunção, 22 anos, disse que como estudante vivencia diversos constrangimentos, “desde a humilhação no trote, assédio sexual dos professores até desqualificação intelectual”.

Manuela Tecchio, 21 anos, do Coletivo Jornalismo sem Machismo, contou que se organiza com as amigas para não ir embora das festas no campus sozinha. “Mesmo assim, sempre acontece uma tragédia. Não faz muito tempo eu ouvi que uma moça foi estuprada perto de um bloco onde estudo. Essas coisas assustam a gente e mostram que a universidade ainda não pode ser desfrutada plenamente”, disse.

Sua colega de curso e coletivo, Thaís Ferraz, 23 anos, já foi agarrada à força numa festa. “Um cara tentou me beijar”, disse. Thaís também já foi seguida por três homens no campus que descreveu como sendo à noite “vazio, escuro e cercado de mato”. A estudante já deixou de frequentar aulas por ter medo de voltar sozinha para casa à noite.

Em 2015, a pesquisa “Violência contra a Mulher no Ambiente Universitário” apontou que 67% das estudantes brasileiras foram vítimas de violência cometida por um homem nas instituições, festas acadêmicas ou durante os trotes.