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Crime na UFRJ: "Tentam matar, mas a homossexualidade não morre", diz Wyllys

Lucas Rodrigues

Do UOL, em São Paulo

04/07/2016 15h43

No último sábado (2), um estudante de letras foi assassinado dentro do campus da UFRJ (Universidade Federal do Rio de Janeiro), na Ilha do Fundão, na zona norte da capital fluminense. Diego Vieira Machado, 29, era gay, negro e morava no alojamento universitário.

O corpo do estudante foi encontrado na Baía de Guanabara e tinha sinais de espancamento e estava sem calça, indício de que o crime poderia ter sido motivado por homofobia. "Tentam matar algo que nunca morre: a homossexualidade", comenta o deputado federal pelo Rio Jean Wyllys (PSOL-RJ).

Para ele, o caso evidencia o crescimento de grupos de extrema-direita nas universidades brasileiras. “Não por acaso surgiram no Facebook páginas intituladas USP Livre e UFRJ Livre”, diz. 

Uma dessas páginas mencionadas por Wyllys divulgou uma nota de pesar sobre o caso de Diego. Nela, os administradores afirmam que movimentos políticos estão "capitalizando a morte do rapaz e utilizando-o para levantarem suas bandeiras políticas antes mesmo dos fatos serem investigados". 

Segundo o irmão da vítima, Maycon Machcado, ele estaria com medo de continuar morando no alojamento universitário por ser gay. "Ele não tinha medo de dar as suas opiniões. Batia de frente, argumentava. Sofria bullying desde a infância por ser gay, por ter cabelo grande, por ter um estilo diferente", contou. "Mas agora a violência parecia real e ele ligou para minha tia para pedir dinheiro e poder sair do alojamento."

Alunos e professores da UFRJ relatam que episódios de homofobia são frequentes na universidade. No banheiro da Escola de Comunicação, no câmpus da Praia Vermelha, na zona sul, foi feita uma pichação com a inscrição "Morte aos gays da UFRJ". Em outro banheiro, no Centro Técnico da Engenharia, no Fundão, foi escrito "Só tem viado (sic) nessa p...".

Denúncia

“O Código Penal ainda não reconhece a motivação homofóbica de crimes como este como um agravante das penas. Mas esses crimes existem e as pessoas precisam procurar a polícia”, recomenda Jean Wyllys.

O deputado acredita que a comunidade acadêmica precisa se unir para “manter acesa a chama da diversidade cultural nas universidades”. “As universidades sempre foram espaço de expressão da diversidade, seja sexual, étnica, ainda mais depois das cotas. Precisamos preservar isso e manter essas políticas públicas de inclusão das minorias na universidade.”

Em nota, a reitoria da Faculdade de Letras da UFRJ afirmou que os universitários têm convivido com o aumento acelerado de atos violentos, seja no campus ou nos transportes coletivos.

“Sabemos que a cidade convive com índices alarmantes de assaltos e homicídios, assim como estupros e tantos crimes de intolerância. Fazemos parte desta triste realidade, somos parte também de uma cultura que nega a brutalidade e o horror de nossa sociedade desigual”, afirma.